Por Maitte Marrero Canda
Guatemala (Prensa Latina) San Juan Ostuncalco, Quetzaltenango, alcançou notoriedade internacional quando seus habitantes se despediram de uma de suas filhas, a guatemalteca Claudia Patricia Gómez, assassinada nos Estados Unidos há um mês.
Um vídeo gravado por uma testemunha no momento exato em que um guarda da patrulha fronteiriça colocava fim, com um disparo, à vida desta migrante, viralizou nas redes sociais como demonstração dos perigos a que se expõem os que diariamente tentam chegar a solo estadunidense.
O caso de Claudia ocupou manchetes da grande imprensa em meio a vozes nos Estados Unidos e na Guatemala que insistiam em exigir justiça para esta jovem de somente 20 anos; uma justiça que, é fato, não chega, nem se fala.
Paradoxalmente, já havia cruzado a fronteira, mas foi morta em uma operação ante um informe de atividade suspeita na zona de Laredo, Texas, segundo os relatórios policiais.
O que não repercutiu então é que San Juan Ostuncalco, a 220 quilômetros ao noroeste desta capital, é o lugar de centenas de imigrantes ausentes. A mesma mistura de dor e revolta que sentiram os pais da quetzalteca, recai sobre os familiares de outros dois jovens que perderam a vida este ano.
O informe mais recente corresponde a Marvin García Cabrera, de 23 anos, originário da aldeia Água Tibia, que faleceu ao cruzar o rio Bravo.
Israel García confirmou que esperam pelo cadáver de seu filho para sepultá-lo, ainda que desconheçam quando o entregarão. ‘Pedimos a Deus por nosso filho e aqui esperamos para enterrá-lo’, afirmou à imprensa local.
Outra vítima é Darwin Ovidio Vásquez Romero, originário da Montañita, comunidade Los Morales, que morreu nas mesmas condições.
Segundo Juan Aguilar, prefeito de San Juan Ostuncalco, de 78 mil habitantes cerca de 15 mil têm migrado para os Estados Unidos. Muitos têm familiares lá e os mandam buscar, afirma.
No entanto, as razões vão além e abarcam um conjunto de fatores como pobreza extrema, violência e desigualdade, advertem analistas.
Como aponta Juan Carlos Lemus em seu artigo As opções: pobreza, morte ou jaulas, a necessidade de migrar tem relação com a vida, com a morte, com a rotina e com o vazio de cada pessoa que se vai.
‘Mas, ocorre que a pobreza não é opcional, é imposta. As pessoas se vão, empurradas pelo Estado da Guatemala. Alguns migrantes, antes de sê-lo, tentaram montar algum negócio, uma lojinha, mas resultaram trabalhando para as ligas. O governo abandonou-os…’, assegura.
‘Os três milhões de guatemaltecos migrantes nos Estados Unidos não se foram buscando o sonho americano, mas fugindo do inferno guatemalteco. Inferno do qual são culpados os Estados Unidos, porque nos invadiu primeiro. Na América Central, provocou e financiou guerras e isso teve como consequência tanta miséria’, sublinha Lemus. Na Guatemala as palavras pobreza, morte, exclusão, já nos dizem pouco, assegura o especialista.
Escavar seu significado requer um esforço intelectual. Quero dizer que não calam porque são rotina. O pão nosso de cada dia é a pobreza, a exclusão e a morte, jargão político-partidário, alerta.
E neste jogo entre procurar vida melhor ou a morte, há quem tenha a sorte de sobreviver e são deportados à Guatemala. Segundo cifras da Organização Internacional para as Migrações, durante o primeiro trimestre de 2018 teve uma alta de 48 por cento de deportados do México e Estados Unidos.
A entidade confirmou que o país contabilizou 23.318 mil casos, enquanto em 2017 somaram 15.760 mil no mesmo período.
De volta a esta nação centro-americana, muitos tentam novamente porque mantêm-se as mesmas condições de falta de emprego e oportunidades para ter uma vida digna.
Embora em maio o Governo dos Estados Unidos tenha extremado as medidas com sua política de tolerância zero e mais de 400 crianças guatemaltecas tenham sido separadas de seus progenitores, isso não impede que na primeira oportunidade voltem a empreender viagem ou, inclusive, mandem sozinhos seus filhos.


