Filial estrangeira da petroleira venezuelana já estava na mira dos EUA e Guaidó foi uma peça-chave para concretizar o roubo da empresa estatal – Divulgação/Misión Verdad
Estudo aponta que o controle da Citgo pelo autoproclamado presidente gerou escassez de petróleo e guinada antinacional
Um estudo realizado pelo portal Missão Verdade revela os impactos da passagem da Citgo Petroleum, filial petroleira da Venezuela nos EUA, às mãos do autoproclamado presidente Juan Guaidó desde 2019.
A reportagem investigativa, assinada pelo cientista político venezuelano William Serafino, aponta que a apropriação da empresa venezuelana, cujo valor de mercado corresponde a US$ 7 bilhões, representou uma virada completa na política da petroleira.
Segundo o pesquisador, a Citgo que passou a responder a interesses antinacionais, afetando inclusive os investimentos em saúde do país, em um contexto de crise piorada devido ao bloqueio econômico e à pandemia causada pelo novo coronavírus.
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Interesses antinacionais
A pesquisa considera que a mudança de orientação estratégia do Conselho Diretor da Citgo, designado por Juan Guaidó, se insere no boicote estratégico e financeiro contra a Venezuela. Segundo o relatório apresentado pela atual diretoria, a filial petroleira venezuelana passou a priorizar a importação de petróleo da Colômbia, México e Equador e Estados Unidos em detrimento do petróleo venezuelano, a principal fonte de exportação e de ativos do país.
Esta substituição das rotas de abastecimento, segundo a reportagem, beneficiou as empresas petroleiras dos EUA e dos países da América Latina que são rivais comerciais da PDVSA e que aproveitaram as sanções dos EUA “como um instrumento de competência desleal e de guerra comercial”.
O estudo aponta ainda que a mudança no Conselho Diretor da Citgo acobertou as sanções destrutivas dos EUA em nome de um reajuste operacional da filial petroleira.
Assim, enquanto Washington bloqueia e ameaça navios, seguradoras e companhias de navegação envolvidas no comércio de gasolina com a Venezuela, a Citgo agora aumenta suas exportações de combustível às custas da escassez produzida pelas sanções ao país latino-americano.
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De acordo com uma reportagem do New York Times mencionada pela Missão Verdade, em 2018, a Citgo enviava à Venezuela “cerca de 29 mil barris de combustíveis refinados, como gasolina”, bem como “importava 175 barris de petróleo venezuelano diariamente – o que correspondia a um a cada 5 barris exportados pelo país”.
Neste sentido, a substituição das compras de petróleo venezuelano afetou duramente as finanças venezuelanas e as da PDVSA, e os 29 mil barris por dia que estavam sendo enviados para a Venezuela em 2018 são agora provavelmente exportados e os lucros gerados não retornam ao país. Um modelo perfeito de saque e corrupção.
Além de gerar a escassez de gasolina na Venezuela, os dólares perdidos com a suspensão da venda do petróleo prejudicam as políticas sociais internas do país latino-americano.
Os desdobramentos das decisões a partir dos EUA revelam o papel que Juan Guaidó cumpriu à frente da filial petroleira, com o apoio do país norte-americano. Agora, a virada da Citgo evidencia que os principais prejudicados serão os próprios venezuelanos que o autoproclamado presidente supostamente disse defender ao assumir ilegalmente a direção da empresa.
O controle da petroleira por Guaidó, segundo o pesquisador responsável pelo estudo, faz parte da estratégia de Washington de aprofundar o bloqueio econômico à Venezuela e enxugar suas divisas, os dois principais vetores da guerra econômica empreendida pelos EUA.
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Destruição de investimentos em saúde
A mudança no Conselho Diretor da Citgo afetou também a Fundação Simón Bolívar (FSB), uma fundação privada sem fins lucrativos, vinculada à Citgo. Desde 2006, a entidade financia atendimentos médicos tanto na Venezuela quanto nos EUA, sobretudo em casos de câncer infantil, cobrindo os gastos de tratamento médico, transporte e alojamento nos EUA.
O artigo publicado pela Missão Verdade destaca que a mudança ilegal da direção da petroleira transformou radicalmente a fundação, orientando os lucros da empresa à entrega de dividendos e impedindo que os recursos da Citgo possam ser utilizados para enfrentar a pandemia, por exemplo.
Em agosto deste ano, a FSB anunciou o subsídio de 1 milhão de dólares a três organizações internacionais, a ONG Aid for AIDS International, a Fundação Pan-americana de Desenvolvimento (FUPAD) e a organização beneficente Food for the poor Inc.
Segundo o relatório da entidade, essas três organizações forneceriam “suplementos nutricionais” a 6 mil crianças venezuelanas, apoio aos 36 mil imigrantes venezuelanos em Cúcuta, na Colômbia e medicamentos para 7 mil venezuelanos, respectivamente.
No entanto, no caso da Aid for AIDS, a distribuição de suplementos nutricionais foge completamente da área de atuação da ONG, dedicada à distribuição de medicamentos retrovirais para pessoas com AIDS/HIV.
Já a FUPAD, vinculada à Organização dos Estados Americanos (OEA), é financiada diretamente pelo governo dos Estados Unidos e coopera com instituições do país norte-americano, sobretudo com seu comitê antinarcóticos e outras forças de segurança.
A entidade apresentada como uma organização com fins humanitários recebeu quase US$ 700 mil do Departamento de Estado estadunidense em 2007, cujo investimento foi aplicado no desenvolvimento de meios de comunicação independentes na Venezuela e no jornalismo com “tecnologias inovadoras”.
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Nos últimos anos, a suposta ajuda humanitária da FUPAD esteve restrita à entrega de insumos de higiene a migrantes colombianos que voltavam da Venezuela e não há registros das ações voltadas aos migrantes venezuelanos, como estabelece o subsídio entregue pela FSB.
Por sua vez, a Food for the Poor é uma das maiores organizações humanitárias dos EUA, com um perfil cristão, e atua em conjunto com o Comando Sul dos EUA durante as missões “humanitárias” de suas tropas militares.
O subsídio oferecido pela Citgo a essas organizações, segundo o estudo, fortalece a atuação partidária de atores da oposição ao governo bolivariano que se encontram fora da Venezuela.
“Estas fundações estão radicadas nos EUA e na Colômbia e estão vinculadas especialmente a instituições que apoiam um golpe de Estado contra a Venezuela, como a OEA e o Comando Sul dos EUA”, aponta a Missão Verdade.
A administração atual da Citgo atua sob o esquema de um ‘capitalismo de amigos’, com um tráfico de influências que tem destinado a renda obtida a partir do petróleo venezuelano para sustentar a burguesia que vive fora do país, enquanto a população venezuelana se esforça diariamente para se manter de pé.
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Histórico
A Citgo Petroleum, filial estatal da PDVSA nos Estados Unidos conta com três enormes refinarias, com capacidade de processamento de 769 mil barris diários e mais de 4 mil postos de gasolina em 30 estados do país norte-americano. Tal magnitude dá à Citgo um valor de mercado superior a US$ 7 bi, o que a tornou um ativo muito cobiçado pelos EUA.
Em maio deste ano, a Justiça dos EUA autorizou a venda das refinarias de ações da PDV Holding, dona da Citgo Petroleum, para cobrir uma dívida com a mineradora Crystallex no valor de US$1,4 bilhão. A decisão remonta a outro julgamento nas cortes estadunidenses de 2016, favorável à cobrança de danos pela empresa canadense, por supostamente ter tido uma mina expropriada pelo governo de Hugo Chávez, em 2008.
Com a decisão do magistrado, as ações da Citgo podem ser vendidas a preços de remate no mercado, fazendo com que a propriedade deixe de pertencer ao Estado venezuelano e passe a mãos privadas.