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quinta-feira, 19 setembro, 2024

Geopolítica imperialista do petróleo explica por que Washington apoia Lula e se opõe a Maduro enquanto aumenta tensão Brasil Venezuela

Foto-reprodução Wikepedia

César Fonseca –

Por que os Estados Unidos não se meteram na eleição brasileira em 2022 vencida por Lula, mas contestada por Bolsonaro, enquanto se intrometem na eleição venezuelana para contestar a vitória de Nicolás Maduro, rejeitada pela oposição?

Qual seria a razão que diferencia qualitativamente a situação entre o presidente brasileiro e o presidente venezuelano à luz dos interesses americanos, questão que, provavelmente, leva Lula a não reconhecer a vitória de Maduro?

O questionamento de Bolsonaro de que foi ilegítima sua derrota por ter sido a vitória de Lula fraudada mereceu da Casa Branca nem o desconhecimento nem a resposta evasiva, mas o reconhecimento da legitimidade dos resultados, apurados pela legislação eleitoral brasileira.

Já no caso da Venezuela, a vitória de Maduro contestada pela oposição mereceu imediata reação do governo Biden que assinou em baixo nas declarações dos oposicionistas de que venceram a eleição mediante atas eleitorais que disseram ter em seu poder, mas que não foram apresentadas por ele à justiça eleitoral da Venezuela.

A partir daí, cresceu a pressão da Casa Branca, que legitimou a palavra da oposição venezuelana de que saíra vencedora e não perdedora no resultado das urnas.

Essa pressão americana não se verificou no caso da reclamação de Bolsonaro, no resultado em que saiu perdedor, nem, também, serviu de motivo para o presidente americano exigir a apresentação de justificativas capazes de favorecer os bolsonaristas derrotados na disputa eleitoral.

GEOPOLÍTICA EXPLICA

Do ponto de vista da geopolítica, o tratamento americano diferenciado dado para o presidente Lula e para o presidente Maduro se explica cristalinamente.

Com Maduro, no poder, que expressa continuidade do chavismo e do PSUV, voltado à construção do socialismo, na Venezuela, como representação do poder popular, que detém o monopólio do petróleo, o posicionamento americano é de completa discordância com o regime político chavista.

Líder do capitalismo ocidental, os Estados Unidos não aceitam contestação ao sistema capitalista, especialmente, na América do Sul, que Washington considera espaço privilegiado da América do Norte, nos termos da Doutrina Monroe, vigente desde 1823.

A América para os americanos do norte, eis a palavra de ordem do império, que não admite contestações nessa questão.

A desobediência política a esse preceito merece do governo dos Estados Unidos punição total, desde sanções comerciais até defesa de mudança de regime, se preciso pela força.

Foi o que aconteceu, no governo Trump, que decidiu desconhecer a institucionalidade chavista, constitucionalmente, assentada, no apoio popular, para colocar no poder Juan Guaidó, em 2019, enquanto congela ativos venezuelanos depositados em bancos internacionais etc., para tentar inviabilizar a administração Maduro.

Agora, Washington tenta repetir o fato, depois da vitória eleitoral chavista, contestada pela oposição, ao acusar que a eleição foi fraudada, quando se sabe que o sistema eleitoral venezuelano é seguro, segundo depoimentos internacionais que tiveram oportunidade de testá-lo em diferentes oportunidades.

POR QUE TRATAMENTO DIFERENCIADO?

Já, quanto ao comportamento oposto, de condescendência, da Casa Branca, relativamente, a Lula, acusado por Bolsonaro de favorecido por fraude, a razão poderia ou não ser explicada pela realidade de que não haveria razões ideológicas para os americanos temerem posições radicais do governo Lula quanto à política petrolífera?

Afinal, depois do golpe neoliberal de 2016, apoiado por Washington, que colocou Michel Temer no poder, cuja política favoreceu as corporações internacionais do petróleo, com privatização das refinarias e flexibilização da prática monopolista, os interesses americanos foram ou não atendidos?

Temer, no poder, alinhou-se, imediatamente, às demandas das corporações americanas em matéria de política de preços e exportação do óleo cru, isento do pagamento de impostos, conforme interesse delas, apoiadas pela Casa Branca.

O presidente Bolsonaro, eleito em 2018, continuaria a mesma estratégia de Temer, para tranquilidade das corporações.

Porém, a vitória de Lula, mesmo com a reclamação de Bolsonaro de que fora vítima de fraude, não mereceu de Washington nenhuma reação negativa.

Por que?

Pelo contrário, o governo americano passou pano na denúncia bolsonarista, o que não aconteceu com a denúncia da oposição venezuelana, justamente, porque, no Brasil, o jogo do petróleo a favor de Washington estava jogado, não restando ao novo governo lulista aceitá-lo ou rejeitá-lo.

Lula não contestou o status quo da privatização das refinarias, nem prometeu, em campanha eleitoral, reestatizá-las, como as forças progressistas reivindicavam.

O QUE FOI ACERTADO ENTRE WASHINGTON E BRASÍLIA?

Teria havido acordo nesse sentido entre o governo americano e o governo brasileiro para que não ocorresse mudança no status quo petrolífero, fixado depois do golpe neoliberal de 2016, de modo a não desestabilizar o lulismo, caso tentasse estatizar as refinarias?

A postura do governo Lula, até agora, de não levantar a questão da reestatização das refinarias, como pregam correntes de esquerda, teria ou não sido negociada como prévia condição de Washington?

Teria ou não a vitória eleitoral lulista obedecido a essa prerrogativa imposta pelo império como condição de não ser levadas em consideração as acusações bolsonaristas de que Bolsonaro fora vítima de fraude?

Em outras palavras, se Lula tivesse se posicionado em favor da reestatização, as acusações da oposição de que houve fraude teriam ou não sido levadas em conta pelo império?

Na Venezuela, a gritaria da oposição merece de Washington apoio integral, mas, no Brasil, o barulho bolsonarista não afetou a tranquilidade vitoriosa do presidente Lula.

A FORÇA DO JOGO IDEOLÓGICO

Qual, portanto, a razão essencial do tratamento diferenciado de Washington em relação ao presidente brasileiro em comparação ao que é dado ao presidente venezuelano que não seja político e ideológico?

Seria ou não porque Nicolás Maduro polariza ideologicamente com Washington por lutar politicamente pelo socialismo, enquanto Lula rejeita o regime socialista e tenha se conformado com o status quo petrolífero que herdou de Bolsonaro, adequado aos interesses das corporações americanas?

Seria ou não esse o fundo da questão que justifica o apoio da Casa Branca ao triunfo lulista, independente do brado oposicionista bolsonarista fascista?

Tal apoio de Washington estaria ou não por trás das divergências crescentes de Lula em opor-se radicalmente à vitória de Maduro, enquanto ele não apresentar as atas configurando sua vitória eleitoral, como demanda também a Casa Branca?

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