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quinta-feira, 10 outubro, 2024

Genocídio israelense: encontro de Freud e Marx.

Foto: Sputnik

Emiliano José*

O pensamento marxiano, ou marxista, como se queria chamar, na maioria das vezes, deixa Freud de lado.

Creio seja necessário, para algumas situações, juntar os dois.

No que couber.

Olho para a situação do mundo hoje.

Especificamente para a guerra de Israel contra nações inteiras.

Sob as ordens de um homem: Benjamin Netanyahu.

Capazes de dizer na ONU poder atingir qualquer país do Oriente Médio com as armas de Israel.

Impunemente.

Contra a nação palestina.

Ao praticamente destruir Gaza.

Ao assassinar impiedosamente mais de 40 mil pessoas, a maioria, mulheres e crianças.

Ao atacar a Cisjordânia.

Ao invadir o Líbano.

Ao matar lideranças do Irã.

Ao assassinar lideranças do Hamas.

E do Hezbollah.

Parece um desequilibrado.

Hitler também parecia.

Mussolini, da mesma forma.

Antes de abordar o jogo do poder estratégico do Oriente Médio, cabe ousar a promoção aligeirada de um provável encontro de Marx e Freud.

Freud, n´O futuro de uma ilusão` dá nítida demonstração de que não era, nunca foi, nem um pouco otimista em relação às criações humanas, nunca foi otimista com a chamada civilização.

“As criações humanas são facilmente destruídas, e a ciência e a tecnologia que as construíram também podem ser utilizadas para sua aniquilação.”

A bomba atômica, Hiroshima e Nagasaki, dará inteira razão a ele.

Desde lá, agosto e 1945, o mundo vive à beira do precipício.

Freud não buscou no território do poder político as razões de tanta capacidade de destruição.

Nem na economia, estrito senso.

Preferiu buscá-las nos escaninhos da alma humana, se é possível falar em alma no caso dele.

Todo ser humano carrega consigo tendências destrutivas.

“Acho que se tem de levar em conta o fato de estarem presentes em todos os homens tendências destrutivas e, portanto, antissociais e anticulturais, e que, num grande número de pessoas, essas tendências são suficientemente fortes para determinar o comportamento delas na sociedade humana.”

Esse fato psicológico, ele dirá, e com toda razão, “tem importância decisiva para nosso julgamento da civilização humana”.

O ser humano não é um ser bondoso. É educado pela civilização, contido por ela. Nem sempre com sucesso.

N´O mal-estar na civilização`, Freud desenvolve um pouco mais.

Ele afirma: “os homens não são criaturas gentis que desejam ser amadas e que, no máximo podem defender-se quando atacadas”.

“Pelo contrário, são criaturas entre cujos dotes instintivos deve-se levar em conta uma poderosa quota de agressividade”.

Mais, dirá Freud, em circunstâncias que lhes sejam favoráveis, essa agressividade se manifesta espontaneamente.

“E revela o homem como uma besta selvagem, a quem a consideração para com sua própria espécie é algo estranho.”

Adiante, dirá, “a civilização tem de utilizar esforços supremos a fim de estabelecer limites para os instintos agressivos do homem e manter suas manifestações sob controle por formações psíquicas reativas”.

Algumas dessas bestas selvagens se elevam como líderes de povos, e expõem ferozmente tais tendências destrutivas.

A história está cheia deles.

Benjamin Netanyahu é um desses, inegavelmente.

Disposto a destruir tudo a se opor ao projeto do Estado de Israel, com seu regime de apartheid, cujo nascimento decorreu de uma ocupação sanguinária da nação palestina.

Nessa caminhada sionista, ele se eleva como um dos homens mais terríveis, a encarnar o ser humano evidenciado por Freud.

Ele quer destruir, destruir e destruir.

Capitalismo em crise, cães ferozes à solta

Agora, se nos juntarmos a Marx, fizermos o encontro dos dois, cabe dizer ser a crise do Oriente Médio, marcada pela agressão incessante do Estado de Israel aos países do entorno, e isso depois de impor um genocídio a Gaza, fruto de uma ampla crise mundial.

Crise econômica profunda do capitalismo capitaneado pelos EUA, um império em óbvia decadência.

Netanyahu só pode fazer tudo isso porque tem a bênção explícita dos EUA, e mais até dos democratas do que dos republicanos.

A qualquer movimento terrorista de Netanyahu, os EUA se apressam em lhe dar incondicional apoio.

Kamala Harris e Biden juntos nesse apoio.

Está evidente: o desejo de estender a guerra ao máximo não é apenas decorrente do óbvio espírito destrutivo de Netanyahu.

Conta com a adesão sincera, entusiasmada dos EUA.

O império se divide em duas frentes.

Uma, a guerra contra a Rússia.

Guerra feita por procuração.

A Europa, nem se diga constrangida, levada a fazer tal guerra, afundando-se num pântano sem volta.

A outra, a guerra contra quaisquer adversários de Israel.

Esses dois movimentos de um império em decadência colocam o mundo sob o risco de uma guerra de proporções inimagináveis.

Talvez nem tanto inimaginável.

Qualquer apertar de botão de arma nuclear pode significar o fim da humanidade.

Um apertou, o outro reagiu, e restará o quê sobre a superfície terrestre?

Será catastrofismo?

Apocalíptico?

Vejamos.

De um lado, a OTAN, na guerra por procuração levada a cabo pelos EUA, tentando encostar a Rússia no canto do ringue, felizmente até agora sem conseguir.

De outro, um ensandecido, mas consciente Netanyahu, sem coleiras, solto, impune, disposto a seguir adiante, sem limites, até porque, como já dito, impulsionado pelos EUA, disposto a redefinir o mapa do Oriente Médio, e no final, esmagar o Irã.

Será que no final desse túnel não há a tentativa de chamar a Rússia para a briga também no Oriente Médio?

Todos sabem das relações da Rússia com o Irã.

E a China, restará como se houver o agravamento do quadro da guerra?

Se a Rússia for arrastada para o conflito, o que parece pouco provável, mas não de todo?

Como encarar tudo isso?

O espírito destrutivo do homem liberado.

A economia capitalista em grave crise.

O Deep State americano mandando como nunca.

A indústria armamentista pedindo mais e mais guerras.

E o Estado americano liberando recursos a granel para tal indústria e para as duas grandes guerras em andamento.

Uma ONU praticamente impedida de agir, inteiramente esvaziada, independentemente de qualquer boa vontade.

Israel declara António Guterres persona non grata e o proíbe de entrar no país.

E nada acontece.

Cada vez mais reclama-se a movimentação dos homens e mulheres de boa vontade, para dizer as coisas de uma forma quase ingênua, mas necessária.

Só a mobilização de amplas massas em todo o mundo, capazes de opor-se à carnificina em andamento, opor-se às guerras, à barbárie, poderá deter essa caminhada em direção ao abismo.

Só tal mobilização poderá levar os países europeus a repensarem a loucura dessa guerra por procuração.

Levar os EUA a recuarem desse apoio incondicional a Israel, tal e qual aconteceu com a guerra do Vietnã, cujo término dependeu da grande mobilização mundial e nos EUA.

Se isso não ocorre, nossas certezas são quase nenhuma.

Nem posso dizer entregar nas mãos de Deus porque ateu, tal e qual Freud, tal e qual Marx, como eu não dirá isso.

O destino da humanidade, em grave risco, está nas mãos dos povos.

É pegar ou largar.

 

*Jornalista e escritor

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