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segunda-feira, 22 dezembro, 2025

Gaza, Greta, Rio de Janeiro e Jacqueline

Wellington Calasans

A estratégia do desvio de foco é uma arma insidiosa nas mãos das estruturas de poder, um mecanismo perverso para sufocar debates incômodos e transformar questões de vida ou morte em espetáculos circenses.

Quando o mundo deveria estar gritando sobre o genocídio em Gaza, com crianças sendo massacradas sob bombas israelenses, a mídia corporativa e os influenciadores do establishment decidiram que o mais urgente era discutir se Greta Thunberg estava segura em sua flotilha simbólica.

Enquanto corpos inocentes apodreciam sob escombros, o centro do debate se tornou uma jovem europeia e privilegiada, num exercício nauseante da jovem heroína que serve apenas para limpar a consciência dos culpados pela carnificina.

No Rio de Janeiro, o roteiro se repete com a mesma cinismo nauseabundo. Quando a Operação Militar expôs a verdadeira face do Estado brasileiro — seu completo abandono das favelas, sua hipocrisia em chamar miséria de “comunidade”, sua cumplicidade histórica com o tráfico de armas e drogas — foi preciso criar uma cortina de fumaça imediatamente.

E assim surgiu, do nada, Jacqueline Muniz, a “especialista” com frases absurdas sobre “aluguel de territórios” e fuzis não letais, uma personagem caricata perfeitamente fabricada para transformar um debate sobre genocídio social em uma discussão ridícula sobre a competência de uma suposta analista. A máquina midiática, sempre ávida por vilões e vítimas, inflou a isca sem pestanejar.

Esta estratégia é profundamente antiética porque rouba a voz dos verdadeiros marginalizados e transforma suas dores em meros figurinos de um teatro político controlado pelas elites.

Enquanto os moradores das favelas cariocas continuam vivendo sob o terror de facções e milícias, enquanto famílias inteiras são despejadas e crianças morrem de fome, o debate público é deliberadamente desviado para discussões vazias sobre a estética de uma comentarista ou sua condição de vítima de uma suposta “perseguição”.

É uma forma sofisticada de apagar a humanidade dos que sofrem, reduzindo-os a estatísticas enquanto o centro das atenções vai para quem tem acesso aos microfones e às câmeras. É o famoso “suco de entretenimento”.

O mais revoltante é perceber como esta estratégia funciona com eficiência cirúrgica para proteger os verdadeiros responsáveis: os políticos corruptos, uma justiça incompetente, os empresários que lucram com o caos, os jornais que servem aos interesses do capital.

Ao criar polêmicas artificiais em torno de figuras como Muniz, o sistema desvia a ira popular das estruturas que deveriam ser questionadas. Ninguém fala mais sobre o porquê de facções terem fuzis de guerra enquanto o governo não consegue garantir água potável nas favelas.

Ninguém questiona por que o Estado só aparece nas periferias com tanques e balas, nunca com escolas e hospitais. Ou a razão para que os CIEPS fossem tão combatidos e agora vistos como solução. O desvio de foco não é acidente — é projeto.

Esta manipulação deliberada do debate público é um crime contra o que chamam de democracia e contra a humanidade. Enquanto nos distraímos com as declarações absurdas de “especialistas” midiáticos ou com o drama pessoal de ativistas globais, crianças continuam morrendo em Gaza sob o silêncio cúmplice das potências ocidentais, e cidadãos continuam abandonados nas favelas brasileiras pela máquina de corrupção institucionalizada.

O verdadeiro terror não está nas palavras ridículas de uma analista, mas na indiferença calculada de um sistema que prefere criar monstros midiáticos a confrontar suas próprias falhas criminosas. Chega de permitir que o circo distraia da tragédia real — é hora de devolver o foco aos que verdadeiramente sofrem e exigir responsabilização dos verdadeiros algozes.

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https://x.com/wcalasanssuecia/status/1985642129213751329

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