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César Fonseca
Os novos ventos da política mundial vêm mais uma vez da França, confirmando tradição história dos franceses como sábios da política, que criam situações novas e surpreendentes no cenário capitalista da luta de classe que dialeticamente se move por contradições que tendem à superação e transformação, dando caminho novo para a humanidade.
A esquerda francesa, como destacou Bruno Altman, colocou em movimento uma frente popular, mais objetiva que frente ampla, em si mais acomodatícia ao movimento das instituições conservadoras e retrógradas.
Agitou o panorama político francês o vigor da frente popular, que se uniu e se fortaleceu para vencer a eleição, tornando-se cabeça de chapa na nova conjuntura política francesa e mundial.
O povo em Paris, na vitória de domingo, mostrava-se como liberto da nova escravidão neoliberal comandada pelo capitalismo financeiro especulativo.
Enfim, livre da tirania financeira!?
NOVA ORDEM POLÍTICA GLOBAL
Esse vento político novo é a nova ordem política global.
Joe Biden segurou a bandeira do ataque aos extremismos, ao fascismo trumpista, como estratégia eleitoral.
A França renova fonte de energia de Biden na luta contra o fascismo nos Estados Unidos encarnado em Trump.
A vitória da democracia progressista, renovadora e revolucionária, é a nova correlação de forças.
O encontro de Camboriú, dos fascistas brasileiros liderados por Bolsonaro para erguer Javier Miley, novo líder latino-americano da ultradireita do fascismo foi tiro no pé.
A vitória eleitoral da esquerda francesa unida em pontos comuns de fortalecimento diante do fascismo vai se transformar, de agora em diante, em pontos de programas de governo progressista, pró-distribuição de renda e não ao rentismo que paralisa o capitalismo produtivo, levando-o à falência.
A saída para as esquerdas unidas no campo sócio-econômico-político é projeto econômico anti-rentismo, pró-produção, pró-participação popular.
Só a Frente Popular (França Insubmissa, socialistas , comunistas e verdes), que passa agora a ser o norte da política francesa, mostrou-se capaz de ser o verdadeiro antídoto ao nazifascismo.
ALIANÇA ANTINEOLIBERAL
Se as esquerdas unidas não quiserem ver o fortalecimento do nazifascismo como adversário na eleição presidencial, em 2027, terão que ter programa econômico de caráter popular.
O neoliberalismo, que levou à quase desmoralização das esquerdas, por terem reconciliado com o centro-direita de Macron, é o objeto a ser descartado pela Frente Popular, se ela quiser ter futuro político na França.
A desmoralização da direita e ultradireita tende a se aprofundar com a desdolarização econômica global que promete se acelerar depois do fim do petrodólar, abrindo espaço para apelo geopolítico europeu rumo não mais aos Estados Unidos, mas à China.
A política econômica francesa, bem como a do capitalismo mundial, sob o comando das esquerdas unidas contra o neoliberalismo, ganhará novo perfil de mudança, impulsionada pelo novo equilíbrio de forças políticas brotado das urnas francesas.
REALISMO CONTRADITÓRIO DIALÉTICO
Jean-Luc Mélenchon, criador da França Insubmissa, que liderou a articulação da Frente Popular, radicalizando em relação ao conceito de Frente Ampla, terá que atrair o centro-direita, ao qual se aliou na disputa eleitoral, para barrar a ascensão dos nazifascista.
Os laços que foram necessários para impedir a ascensão nazifascista agora se desmancharão em termos quantitativos e qualitativos, relativamente à política e à economia.
Porém, um laço entre eles se estabeleceu nas eleições parlamentares: ambos precisarão manter aliança permanente, com nuances políticas diversificadas, do ponto de vista de classe, para ganharem força contra o fascismo.
Se os laços politicamente tênues se rompem no pacto político entre esquerda e centro-direita, diante dos neoliberais, quem se beneficia é a ultra direita para a disputa de 2027.
LIÇÃO HISTÓRICA CONTEMPORÂNEA
A vitória da esquerda, na França, que obriga a centro-direita, em segundo lugar no pódio do poder francês, a dar preferência política não mais para a ultradireita, mas para a aliança das esquerdas, vitoriosas na disputa eleitoral, cria novo fato político global.
Bolsonaro, no Brasil, sai no prejuízo, porque o fascismo entra em baixa com a esquerda no combate ao neoliberalismo que o alimenta em prejuízo total da sociedade, condenada ao desemprego e ao desamparo social sob reformas neoliberais bolsonaristas.
Lula e seu discurso pró-desenvolvimentista, pró-distribuição de renda, pró-valorização do salário-mínimo é o mesmo de Melenchon, na França: distribuir a renda para fortalecer o mercado interno e as reformas políticas progressistas, no parlamento, contrapondo às contra-reformas neoliberais de destruição dos mais pobres, dos imigrantes etc.
A esquerda francesa se libertou, nessas eleições, do discurso escapista de que o problema social não é decorrente da crise do capitalismo, mas dos fatores extemporâneos, aleatórios, como emigração, conflitos religiosos e de caráter ideológico-moral, como etarismo, feminismo, machismo, puro diversionismo socialmente alienante.
Essencialmente, os eleitores e eleitoras francesas caíram na real de que estão sendo escravizados pelo capitalismo financeiro especulativo que não deixa a França crescer sustentavelmente.
DESMONTAGEM NEOLIBERAL DA OTAN
Se o país tiver que, preferencialmente, obedecer à OTAN, comandada pelos Estados Unidos, a gastar dinheiro para fomentar a guerra imperialista na Ucrânia, faltará comida na mesa dos franceses, diante de inflação incontrolável.
A Frente Popular disse NÃO à guerra nazifascista contra Ucrânia e ao sionismo que massacra palestina.
A distribuição de renda por meio da valorização dos salários é o norte de Mélenchon, para a reviravolta econômica na França, a influenciar em todo o mundo, especialmente, no Brasil.
Lula já fala que a vitória de Mélenchon ajuda o Brasil a reverter a tirania financeira imposta pelo arcabouço neoliberal, imposto pelo Banco Central Independente (BCI), com apoio decisivo do Congresso, que está nas mãos da direita e ultradireita fascista bolsonarista.
A revolução francesa do voto é tiro no coração do modelo neoliberal praticado no Brasil e em toda a América Latina que ameaça de morte a classe trabalhadora latino-americana e brasileira.
Lula não governa satisfatoriamente porque está preso na armadilha neoliberal que os franceses, agora, derrotaram, mudando o panorama político mundial.
A França avisa: arcabouço fiscal = derrota eleitoral.
ATAQUE AO NAZI-FASCISMO FINANCEIRO
Novo presidente do Banco Central Independente, no lugar do bolsonarista neoliberal, Campos Neto, tem que mirar outro Norte, como acaba de acontecer na França: não ao rentismo; fim da jogatina especulativa com a Selic de projetar inflação futura elevada para impor juro alto no presidente, a fim de atender a Faria Lima insaciável.
O Brasil experimentou com Bolsonaro o veneno amargo do fascismo derrotado na França, porque aqui se consumou a união entre centro-direita e ultradireita, enquanto os franceses se uniram para evitar a ascensão nazifascista.
Evitaram retorno da experiência passada de cooperação francesa com os nazistas na segunda guerra mundial, configurando o peso do nazismo dentro da própria França.
Em síntese, a esquerda, na eleição histórica francesa, conscientiza-se de que somente conseguirá derrotar o fascismo se construir Frente Popular, que cria correlação de forças políticas favoráveis aos trabalhadores, para fragilizar o bloco da direita e desse modo barrar a ascensão nazifascista.
O grito da Frente Popular, portanto, é: “Esquerdas do mundo, uni-vos!”