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terça-feira, 6 maio, 2025

Financiamento para a América Latina: outro cenário na guerra comercial entre China e EUA

Sputnik – A guerra comercial entre China e EUA parece ter sido iniciada, mas onde fica a América Latina, um dos mercados que pode ser decisivo para este conflito? A Sputnik consultou dois analistas para explicaram como o gigante asiático conseguiu superar os EUA na corrida por financiamento na região.

A América Latina e as fontes de financiamento para seus projetos podem se tornar mais um palco da “guerra comercial” entre China e EUA, para além das tarifas que até agora dominaram a disputa. A troca de declarações entre Washington e Pequim sobre o swap cambial que o gigante asiático mantém com a Argentina parece ser a ponta do iceberg.
A primeira pedra foi lançada pelo enviado dos EUA para a América Latina, Mauricio Claver-Carone, durante uma entrevista ao jornal El Observador. A autoridade norte-americana afirmou que, enquanto a Argentina negocia com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o interesse da Casa Branca é “acabar com a famosa linha de crédito que a Argentina tem com a China”.
A analista internacional argentina Carla Oliva, coordenadora do Grupo de Estudos da China (GEChina) da Universidade Nacional de Rosário, disse à Sputnik que a forte resposta da China à articulação norte-americana se explica pelo fato de que o acordo de swap com a Argentina não só foi essencial para o país sul-americano lidar com sua escassez de reservas internacionais, mas também é um caso de sucesso para o gigante asiático.
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Para o sociólogo argentino especialista em Economia Política Internacional, Pablo Nemiña, os swaps chineses servem como “uma importante ferramenta de diplomacia financeira, por meio da qual se busca internacionalizar o yuan, incentivar o investimento e as exportações chinesas e fortalecer seu papel como moeda internacional”. Nemiña mencionou que, segundo dados do acadêmico Daniel McDowell, a China assinou mais de 35 swaps com diferentes países, o equivalente a mais de US$ 500 bilhões (cerca de R$ 2,9 trilhões).

“Há anos os Estados Unidos vêm expressando preocupação com a crescente presença da China na América Latina“, explica Nemiña.

No entanto, ele considerou que a potência norte-americana não conseguiu ser tão atrativa em termos de financiamento quanto o gigante asiático, que parece ter ganhado um espaço crucial nesse campo.

“A alternativa que os EUA oferecem é o financiamento privado de fundos de investimento. Essa opção está disponível apenas para as poucas economias que alcançaram o grau de investimento. Quanto ao restante, os EUA têm pouco a oferecer, exceto acordos comerciais e assistência ao desenvolvimento, algo atualmente em declínio”, observou o analista.

A China, por outro lado, “diversificou seu menu de opções”, observou Nemiña, mencionando que a oferta de financiamento da China “inclui doações, swaps, empréstimos bilaterais e financiamento por meio de instituições multilaterais que ela financia, como seu retorno ao BID, ou lidera, como o Banco do BRICS ou o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB)”.
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Oliva concordou que a China “vem ganhando terreno na América Latina de forma muito clara nos últimos tempos” em termos de financiamento para países da região, principalmente graças à sua “abordagem muito diferente da dos EUA”.
Assim, enquanto Washington optou por uma abordagem mais ameaçadora em relação aos países latino-americanos, Pequim se caracterizou por “uma estratégia de aproximação gradual, cooperação e estabelecimento de acordos que depois se refletem empiricamente no progresso“.

“A China propõe uma comunidade de destino comum para a humanidade, onde todas as civilizações são aceitas e não há necessidade de escolher uma ou outra. Ela promove a cooperação e o benefício mútuo, o que significa que todos os países também se beneficiam da manutenção de laços estreitos com a China em termos comerciais, políticos, financeiros e culturais“, descreveu a especialista.

Oliva, no entanto, descartou a ideia de que o gigante asiático adotaria uma política “mais agressiva” de integração à América Latina após a guerra comercial desencadeada por Trump. Pelo contrário, ela acreditava que Pequim apelaria à “filosofia chinesa de paciência” para “esperar o momento certo” e dar uma resposta correta.

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