O coro estrondoso e bem coordenado de publicitários a serviço do império e de suas classes dominantes aumentou suas denúncias sobre o recente processo eleitoral venezuelano. A campanha assumiu dimensões ciclópicas devido à sua generalização e ao seu tom raivoso e vociferante. Para aqueles que são erroneamente considerados “jornalistas” em vez de serem o que são, propagandistas, a notícia internacional absoluta tem sido as eleições presidenciais na Venezuela. O genocídio em Gaza, o colapso catastrófico da Ucrânia, o perigo de uma Terceira Guerra Mundial e a catástrofe climática [NR] são insignificantes em comparação com os acontecimentos que têm o seu epicentro no país bolivariano.
Neste contexto, ouvem-se pedidos insistentes para que as autoridades do Conselho Nacional Eleitoral “exibam as atas”. Os presidentes do Brasil e da Colômbia exigem isso desde segunda-feira, 29 de julho, enquanto o seu homólogo mexicano apelou à paciência, para que o CNE tenha tempo para agir com base nos 30 dias oferecidos pela legislação eleitoral. É oportuno lembrar que nos Estados Unidos, nas eleições presidenciais de 2000 entre George W. Bush (Jr.) a Al Gore, o Supremo Tribunal proferiu uma decisão sobre uma contestação levantada por este último após 35 dias o dia das eleições, atribuindo a vitória de Bush por uma diferença de 537 votos na Florida, onde, por puro acaso, governava seu irmão. A impaciência atual dos media foi notória por sua ausência naquela ocasião. Tampouco houve quem se esforçasse para exigir as atas pelas quais Juan Guaidó, reconhecido como tal por Washington e seus indignos vassalos europeus e latino-americanos, fosse designado “Presidente Empossado”.
Cristina Fernández de Kirchner também se juntou à exigência de “mostrar as atas” durante uma coletiva de imprensa no Instituto de Formación Política del Morena, no México, alimentando ainda mais a ofensiva dos media contra o governo de Nicolás Maduro. A denúncia exemplar da ex-presidente argentina sobre o bloqueio criminoso sofrido por Cuba e Venezuela não teve a mesma sorte, pois os progressistas latino-americanos e os media de direita nunca a levam em consideração e continuam a falar sobre esses países como se eles tivessem uma margem de autonomia nacional como a da França ou do Canadá.
O que é ignorado em meio aos uivos dos media e dos políticos do império é que o Grande Polo Patriótico já apresentou as atas das eleições e o fez, num gesto incomum por parte do “ditador” Maduro, perante a Câmara Eleitoral do Tribunal Constitucional Superior. As atas, é preciso dizer, são entregues a cada partido e a seus respectivos representantes no final da contagem dos votos em cada seção eleitoral. E, é claro, elas são enviadas ao Conselho Nacional Eleitoral, que as recebe por meio do sistema de transmissão especialmente preparado que conecta a máquina eleitoral, onde o eleitor marca seu voto, ao servidor central do CNE. O ataque cibernético sofrido pela Venezuela causou um atraso na publicação dos resultados da eleição presidencial, que o CNE finalmente torna públicos quando há um vencedor claro com uma vantagem irreversível sobre seu perseguidor. A invasão afetou a transmissão de dados, mas não o conteúdo criptografado das mensagens, comprovado pelos recibos emitidos por cada máquina e assinados por todos os mesários de cada candidato e pelo presidente da comissão eleitoral. É por isso que o sistema eleitoral da República Bolivariana da Venezuela é considerado um dos mais confiáveis e transparentes do mundo.
O problema é que quem não apresentou a ata foi a Mesa da Unidade Democrática do candidato Edmundo González Urrutia. É incompreensível que, se ele e María Corina Machado estiverem convencidos de que foram os vencedores, se recusem a apresentar os registros ao mais alto tribunal da Justiça Eleitoral? O problema é que segundo o site daquela força política, o que dispõem são cerca de 9.400 atas das 30.024 que compõem o censo eleitoral, ou seja, no melhor dos casos, um terço dos votos emitidos que deles se projeta uma vitória devastadora de González. Para piorar a situação, muitas das atas que podem ser consultadas no site construído para esse fim por Machado e González são falsas ou inválidas porque não contêm os dados dos membros da mesa, dos procuradores e da identificação dos votantes, além de outras irregularidades.
Um dado curioso: quando se examinam estas atas tão peculiares, verifica-se que nos 24 distritos eleitorais a percentagem de votos para González foi de 63% e a de Maduro 30%, o que constitui um milagre sociopolítico que nunca vi em meio século de profissão. Tanto nos estados amazônicos como nas montanhas; tanto no campo como na cidade, a distribuição de votos entre González e Maduro é exatamente a mesma. Resumindo: isto é um desenho, uma tosca fabricação de dados que de forma alguma pode apoiar a suposta vitória de González. Seria bom que os jornalistas, acadêmicos e políticos que insistem em “mostrar as atas” também tomassem nota desta situação absolutamente anômala.
O que há não são atas legítimas, mas um “golpe suave em curso” patrocinado por Washington e sincronizado pela grande maioria dos meios de comunicação social, fortemente controlados pela direita. O objetivo desta manobra é provocar uma crise política e social na Venezuela, fomentar a agitação, a violência e gerar o caos que leve a uma eventual intervenção de tropas mercenárias contratadas pelo Pentágono para conseguir a tão esperada mudança de regime que permita que a maior reserva de petróleo do mundo – que coincidentemente está localizada na Venezuela – passe para as mãos dos Estados Unidos. Esse é o plano, não se engane. O resto é circo, e a participação da oposição nas eleições foi apenas um pretexto para gritar “fraude” com meses de antecedência e provocar a violência que desencadearam no dia seguinte às eleições, contratando bandos armados para semear terror e destruição nas ruas. Mas o plano deu errado e agora eles terão que arcar com as consequências.
10/Agosto/2024
[NR] Um falso problema, como resistir.info tem reiteradamente advertido. Ver resistir.info/links/links.html#climatologia
Ver também:
O rosto oculto de Edmundo González: Em El Salvador, candidato à presidência venezuelana de extrema direita coordenou a Operação Centauro, que matou comunidades religiosas
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