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BRASIL
Um comitê na Câmara dos Representantes dos EUA divulgou carta nesta semana se opondo a um acordo comercial entre o país e o Brasil, o que deve significar uma “liquidação” de qualquer iniciativa do gênero entre as duas nações, segundo um ex-embaixador em Washington.
Em entrevista ao jornal O Globo nesta sexta-feira (5), Rubens Ricupero – que também foi ministro da Fazenda – destacou que o comitê norte-americano, ao indicar a sua oposição ao acordo tratado por Donald Trump e Jair Bolsonaro, sinaliza que a aliança econômica não deve avançar.
“Todas as questões ligadas a comércio são tratadas nesta comissão, e ela é absolutamente fundamental para qualquer acordo, inclusive para poder dar uma licença para começar a negociação. Achei muito impressionante a carta, que praticamente liquida qualquer tipo de tentativa de um acordo com o Brasil, porque os democratas dominam a Câmara”, disse.
Ricupero ainda explicou que, ao indicar que não concorda com as negociações, o comitê deixa o representante comercial dos EUA, Robert Lighthizer, de mãos atadas, uma vez que a Câmara é de maioria democrata. E a situação pode piorar, caso Joe Biden derrote Trump no pleito de novembro.
“Uma coisa que aqui no Brasil ninguém tem realçado: Joe Biden é muito mais comprometido com o meio ambiente do que o [ex-presidente dos EUA Barack] Obama. Ele foi vice do Obama, mas ele é mais ligado à ideia da economia verde. Então ele sendo presidente, a situação em matéria de meio ambiente vai ficar mais complicada para o Brasil”, analisou.
Além de considerar que um governo Biden deixaria o Brasil sob Bolsonaro em uma situação difícil, Ricupero comentou a decisão do Parlamento da Holanda de aprovar uma moção contrária ao acordo comercial entre Mercosul e União Europeia (UE).
“Hoje não há absolutamente ambiente para que a UE possa ratificar o acordo. Acredito que os europeus não vão propriamente abandonar o acordo, mas deixar em banho-maria, vendo se a situação melhora. Nos próximos meses, não creio que haverá uma evolução”, previu ele.
Com o peso dado para a área ambiental, o Brasil deverá seguir tendo cada vez mais dificuldades em levar a frente o seu plano de se abrir a novos parceiros comerciais, concluiu o ex-embaixador brasileiro nos EUA.