Por Waldo Mendiluza
Nesse próprio dia, 189 dos 193 estados membros das Nações Unidas respaldaram na Assembléia Geral uma nova resolução sobre a necessidade de que Washington acabar com o bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto à ilha, texto similar ao aprovado de forma categórica nesse foro acada ano desde 1992.
Talvez isto não for suficiente -como assegurou Haley na Assembléia- para dissuadir à Casa Branca, mas poderia convidar à reflexão aquelas vozes e ações que da própria nação norte-americana advogam pela continuidade do processo de aproximação iniciada com Barack Obama, e que Trump tenciona reverter.
No fim de setembro percorreu o mundo a notícia da primeira empresa de biotecnologia cubano-estadunidense, Innovative Immunotherapy Alliance S.A., com sede na Zona Especial de Desenvolvimento Mariel.
Unir forças contra o flagelo chamado câncer, neste caso entre o Centro de Imunologia Molecular de Cuba e o Roswell Park Comprehensive Cancer Center, não deveria incomodar a ninguém, como também não parece ter lógica obstar o turismo entre povos vizinhos.
Um dos componentes do bloqueio consiste em impedir aos norte-americanos viajarem livremente à ilha, uma punição que a administração atual procura recrudescer com sanções como as anunciadas em 1 de novembro por Bolton.
Apenas nove dias após o discurso de Bolton em Miami, a aerolinha JetBlue aterrava procedente de Boston no Aeroporto Internacional José Martí (AIJM) para abrir a rota entre essa cidade do estado de Massachusetts e Havana.
Embora a bordo das companhias aéreas norte-americanas não podem viajar turistas -conforme estabelece o bloqueio-, sim viajam muitas pessoas interessadas em aproximar-se a realidade cubana e em aproximar a ambos os povos com uma relação normal.
‘A cidade de Havana é um lugar especial para a gente de Boston, por isso ficamos muito contentes. Cada pessoa que vir põe uma pedra na ponte entre ambos os povos’, declarou para Prensa Latina poucos minutos após chegar ao solo havanense o presidente da Aliança de Viagens Educacionais (ETA), Michael Eizenberg.
Conforme precisou, a aliança esteve durante duas décadas facilitando que norte-americanos de diversos setores visitarem e interagirem com a gente da ilha, já for mediante o diálogo em áreas como a educação, ou através do esporte e o baile.
Também diretores do JetBlue celebraram a nova rota, único serviço sem escalas entre a região da Nova Inglaterra, que insere os estados de Maine, Novo Hampshire, Vermont, Massachusetts, Rhode Island e Connecticut, e a nação caribenha.
‘Hoje é um dia inesquecível (…) e não podemos ficar mais satisfeitos por termos ligado às pessoas de Boston com a rica história e a vibrante cultura de Cuba’, afirmou o gerente geral da empresa aérea no país caribenho, Raúl Alcazar.
Na cerimônia de bem-vinda no AIJM, Alcazar recordou que há dois anos JetBlue virou na primeira aerolinha em operar serviço comercial entre os Estados Unidos e Cuba.
Durante estes dois últimos anos nossa relação com a comunidade cubana continuou florescendo, e nosso compromisso com esta nação se fortaleceu, asseverou.
Por sua vez, a diretora de Aeroportos Internacionais do JetBlue, Giselle Cortés, agradeceu às entidades da aeronáutica civil e do transporte da Mor das Antilhas que tornam possível o vínculo.
‘Orgulhamos-nos de celebrar o segundo ano de serviço abrindo mais um novo vôo’, sublinhou.
Cortés manifestou para Prensa Latina que a aerolinha norte-americana na atualidade voa a 22 países da América, com escalas em 38 cidades, dentre elas as cubanas Santa Clara, Camagüey e Holguín, além da capital.
Em relação à abertura de novos destinos na ilha, explicou que a aviação comercial é um setor no qual é difícil predezir, embora não descartou esse cenário.
Em nome da parte cubana, o diretor do Terminal 3 do AIJM, Omar Goslin, ofereceu a bem-vinda aos diretores do JetBlue e aos 125 passageiros que chegaram a bordo da aeronave procedente do aeroporto internacional Logan, em Boston.
O funcionário advertiu que o novo vôo da companhia a Cuba demonstra as potencialidades existentes para os elos comerciais entre ambos os países, relações seriamente afetadas pelo bloqueio econômico, comercial e financeiro que Washington impõe a Mor das Antilhas há quase seis décadas.
Não só no setor aéreo é amplo o potencial, o que explica outro anúncio importante, o fato de que a partir de fevereiro de 2019, Silversea incorporará o destino Cuba a seus itinerários de cruzeiros dos Estados Unidos, pela primeira vez na sua história.
Silversea se unirá assim a algumas das mais famosas companhias do mundo em termos de cruzeiros, Royal Caribbean, Carnival e Norwegian, as quais navegam regularmente entre ambos os países desde 2017.
O SETOR AGRÍCOLA
De 8 a 10 de novembro, o havanense Hotel Nacional acolheu a Conferência Agrícola Cuba-Estados Unidos, auspiciada pela Coalizão Agrícola dos Estados Unidos para Cuba, uma iniciativa que surgiu em 2015 sob o princípio de que a ilha é um mercado lógico para as exportações alimentares norte-americanas.
O congressista republicano por Arkansas, Rick Crawford e agricultores de Indiana, Kansas e Minnesota, entre outros estados, advogaram pelo fim das restrições que impedem o comércio bilateral e por melhorarem as relações em benefício mútuo.
Crawford comentou a jornalistas na primeira jornada da conferência que o comércio agrícola pudesse ser um ponto de partida para o avanço nos vínculos bilaterais.
Também manifestou expectativas a respeito da possibilidade de convencer a Trump para criar um clima propício para os laços comerciais entre os Estados Unidos e Cuba, apelando a seu pragmatismo de ‘homem direcionado para os negócios’.
Já conversei com o presidente o tema e penso continuar a discutir, disse o congressista de 52 anos, quem promove na Câmara de Representantes um projeto de lei de exportações à ilha.
A propósito de sua iniciativa, mencionou para Prensa Latina sua esperança de encontrar no novo Congresso maior apóio e ressaltou o respaldo no Senado a ações voltadas a obter melhores vínculos.
Crawford admitiu o fracasso ‘do embargo’ -ao qual qualificou de repressivo-, na tentativa de derrubar ao governo cubano e ressaltou as enquetes que mostram a postura favorável da maioria dos norte-americanos face a melhores relações.
Embora as posições políticas, agricultores norte-americanos acham a questão como um assunto de benefício mútuo, sobre a base de sua necessidade de acessar a um mercado próximo e com alta demanda de alimentos, obstada pelo bloqueio.
Um exemplo que divulgaram cá responde ao fato de o setor agrícola norte-americano enfrentaria em 2018 seus ganhos mais baixos dos últimos 12 anos, entretanto, tem apenas a 180 km um mercado de 11 milhões de pessoas, que valoraram em dois bilhões de dólares anuais, impedido pelas restrições da Casa Branca.