25.4 C
Brasília
quinta-feira, 28 março, 2024

EUA devem devolver à Colômbia seu prisioneiro político Simón Trinidad

por WT Whitney, Jr. [*]
Simón Trinidad, em companhia da senadora Piedad Cordoba.Violência e oligarquia assassinas estiveram no centro da vida política colombiana ao longo de todo o século XX. Milhões de colombianos foram marginalizados, empobrecidos e / ou deslocados de pequenas propriedades. A violência e os fracassos da democracia liberal fizeram de Simón Trinidad um revolucionário. Poucos nos Estados Unidos e na Europa sabem dele. Os aliados da Colômbia em ambos os lados ignoram o regime terrorista colombiano.
Simón Trinidad importa; chegou a hora dele. Este líder das antigas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) enfrentou acusações criminais bizarras e sem fundamento num tribunal dos EUA. Ele está preso em condições cruéis numa prisão federal em Florence , Colorado. Morrerá ali, a menos que seja libertado. Simón Trinidad completará 70 anos em 30 de Julho.
Uma campanha internacional está a exigir que o governo dos EUA devolva Simón Trinidad à Colômbia. A seguir, um apelo em nome dessa campanha. Aqui estão alguns factos:
O seu nome de nascimento é Ricardo Palmera. Sua família era formada por advogados, políticos e proprietários de terras e residia em Valledupar, departamento de Cesar, Colômbia. Ali, Palmera trabalhou como banqueiro, ensinou economia numa universidade regional e administrou as propriedades agrícolas da sua família. Afiliado ao Partido Liberal, ele era favorável à reforma agrária. Então Palmera ingressou na União Patriótica, de esquerda, constituída em 1985.
Essa coligação eleitoral foi imediatamente sufocada pela violência e por assassinatos. Os camaradas próximos de Palmera estavam a ser mortos. Outros partiram para o exílio. Em 11 de Outubro de 1987, assassinos mataram o candidato presidencial da União Patriótica Jaime Pardo Leal, alguém que Palmera admirava muito. Ao descobrir que também estava prestes a ser morto, Palmera deixou Valledupar e aderiu às FARC. Ele adoptou o nome de Simón Trinidad.
Nesta insurgência, Trinidad era responsável pela propaganda e educação política. Ele actuou como negociador da paz. Em Dezembro de 2003, Trinidad estava no Equador a preparar-se para se reunir com o responsável das Nações Unidas, James Lemoyne, a fim de discutir os planos das FARC de libertar reféns. Em 2 de Janeiro de 2004, foi preso naquele país – com a ajuda da CIA – e dois dias depois foi entregue à Colômbia. Ficou sob custódia até 31 de Dezembro de 2004, quando o governo colombiano o extraditou para os Estados Unidos.
Simón Trinidad enfrentou quatro julgamentos de júri entre Outubro de 2006 e Abril de 2008. O primeiro julgamento terminou num impasse do júri, o segundo condenou-o e o terceiro e quarto julgamentos terminaram com júris num beco sem saída por acusações falsas de tráfico de drogas. A sua condenação foi por ter conspirado com outros membros das FARC – terroristas aos olhos do governo dos EUA – para capturar e manter reféns três contratados da guerra às drogas dos EUA.
O primeiro juiz de Trinidad foi substituído depois de ter entrevistado ilegalmente jurados para obter informações potencialmente úteis aos promotores no seu segundo julgamento.
O novo juiz sentenciou Simón Trinidad a 60 anos de prisão, 20 anos para cada um dos três contratados norte-americanos mantidos reféns pelas FARC. Trinidad tinha então 57 anos.
Ele está a cumprir sua sentença numa prisão federal “supermax” dos EUA. Trinidad permaneceu em confinamento solitário desde que chegou aos Estados Unidos até 2018. Actualmente ele pode comer a refeição do meio-dia num refeitório. Está proibido de receber cartas, emails ou jornais. As chamadas telefónicas são limitadas. Os visitantes são raros e muito poucos, além dos advogados americanos.
As negociações de paz entre as FARC e o governo colombiano ocorreram em Havana de 2012 a 2016. A delegação das FARC procurou a presença de Simón Trinidad lá como porta-voz e negociador. O governo da Colômbia nunca solicitou às autoridades de Washington que o libertassem para esse fim. Não há indicação de que o último teria feito isso.
O acordo de paz final previa uma “Jurisdição Especial para a Paz”. Lá, ex-combatentes de ambos os lados do conflito têm a oportunidade, se quiserem, de falar a verdade sobre os crimes que podem ter cometido e o tribunal decidir por perdão ou punição. Simón Trinidad escolheu participar. Para fazer isso, ele precisa estar na Colômbia.
A defesa
Como alguém que buscava justiça para os oprimidos e era fiel aos seus princípios, Trinidad agora pede justiça para si próprio. Alguns activistas da solidariedade podem justificar seu apoio a ele com base em apenas um ou dois aspectos de sua vida política. Na verdade, há uma lista completa de boas razões para exigir que o governo dos EUA devolva Simón Trinidad à Colômbia.
  1. O governo dos EUA deve permitir que Simón Trinidad compareça perante a Jurisdição Especial para a Paz. Desse modo, mostraria respeito pelo Acordo de Paz entre as FARC e o governo colombiano.
  2. O governo dos EUA violou os direitos legais e humanos básicos de Trinidad. Trinidad foi extraditado como traficante de drogas, o que ele nunca foi. Foi acusado de rebelião, o que é um crime político. Os tratados de extradição e a lei internacional de direitos humanos proíbem a extradição por crimes políticos. O governo dos EUA submeteu Trinidad a processos judiciais irregulares. Seu juiz aplicou uma sentença excessivamente selvagem a um crime que não cometeu. Suas condições de prisão são desumanas.
  3. A intervenção dos EUA na Colômbia provocou os maus-tratos sofridos por Simón Trinidad nas mãos dos EUA. Seu resgate teria implicações anti-imperialistas. O governo dos EUA há muito presta assistência militar à Colômbia, principalmente por meio de seu Plano Colômbia, em vigor após 2000. Se bem que visasse ostensivamente os traficantes de drogas, o Plano Colômbia era apontado às FARC. Como negociador de paz das FARC altamente visível nas negociações com o governo colombiano em Caguán (1999-2001), Simón Trinidad tornou-se um prisioneiro troféu. O Plano Colômbia preparou o terreno, tendo ajudado a torpedear as negociações de paz.
     Aparentemente a captura e extradição de Trinidad, revelava a natureza impositiva (top-down) das relações imperialistas com as nações clientes. Talvez para agradar o seu patrão, o governo da Colômbia quase imediatamente sinalizou sua intenção de extraditar Trinidad para os Estados Unidos, antes mesmo de ter sido anunciada uma acusação criminal. E a oposição política da Colômbia afirma sistematicamente que a soberania nacional é diminuída toda as vezes que prisioneiros como Simón Trinidad são encaminhados aos Estados Unidos para processo e punição.
  1. Activistas solidários de muitos países há muito admiram os trabalhadores e os marginalizados da Colômbia que se levantam contra uma classe dominante dedicada à pilhagem e à opressão. Eles assim o fizeram ao juntarem-se a movimentos de resistência indígenas e afro-colombianos, sindicatos, partidos políticos de esquerda, a FARC e outras insurgências. Simón Trinidad estava nessa luta. Também com base nisso, ele merece apoio na sua campanha para retornar à Colômbia.
  2. Simón Trinidad foi e é um revolucionário. A tarefa dos progressistas em toda a parte é combater a opressão e a injustiça. Mas agora muitos deles estão aprendendo a verdade sobre o capitalismo. Eles vêem mudanças climáticas no horizonte, mas o colapso pandémico e económico já está aqui. Muitos dos que agora abraçam a opção revolucionária têm boas razões para estar ao lado de Simón Trinidad.
Como membro das FARC, Simón Trinidad viu a violência contra a União Patriótica transformar-se num massacre. Muitas das vítimas de assassinato, estimadas 5000, eram antigos membros das FARC que participavam em actividades políticas eleitorais. A violência assassina e a guerra entre ricos e pobres ainda estão no centro da política colombiana. Após a assinatura do Acordo de Paz, assassinos mataram mais de 200 ex-combatentes das FARC e centenas de líderes políticos e comunitários, sobretudo nas áreas rurais. O governo dos EUA, aliado aos partidários da violência na Colômbia, é cúmplice.
Essa violência ajudou a colocar Simón Trinidad no caminho revolucionário. Uma boa maneira de demonstrar repulsa à promoção estado-unidense da violência na Colômbia é aderir à luta pelo imediato retorno de Simón Trinidad à Colômbia.
Para mais informações sobre a campanha pelo retorno de Simón Trinidad à Colômbia, acesse https://www.libertadsimontrinidad.com/ . Para perguntas ou ofertas de apoio contacte simontrinidadlibre[arroba]gmail.com.
Ver também:
Que cesse a farsa da guerra contra o narcotráfico
[*] Jornalista, estado-unidense. Seu foco é a América Latina, assistência médica e anti-racismo. Activista solidário de Cuba, trabalhou anteriormente como pediatra.
O original encontra-se em mronline.org/…
Este artigo encontra-se em https://resistir.info
28/Jun/20

ÚLTIMAS NOTÍCIAS