O
forte alinhamento de Javier Milei com Donald Trump só se aprofunda. Em uma nova reviravolta na história diplomática argentina, o presidente libertário
imitou seu colega norte-americano ao anunciar que o país do sul
abandonará definitivamente a Organização Mundial da Saúde (OMS).
O
impacto do anúncio vai além da esfera da saúde. O ataque de Milei ao multilateralismo teve um dos seus episódios mais acalorados durante o discurso do presidente na 79ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU), quando ele se referiu à Organização das Nações Unidas
(ONU) como um “leviatã de vários tentáculos” responsável pela
disseminação de ideias socialistas.
“A comunidade internacional deve repensar urgentemente o propósito das organizações supranacionais, financiadas por todos, que não cumprem os objetivos para os quais foram criadas, se dedicam a fazer política internacional e buscam se impor aos países-membros”, afirma o comunicado da Presidência da República.
Dessa forma, o presidente argentino apenas
aprofunda a direção tomada em seu último discurso no Fórum Econômico Mundial, em 23 de janeiro, quando atacou o “vírus mental da ideologia woke” que, a seu ver, “
colonizou as instituições mais importantes do mundo”, como o próprio encontro de Davos.
‘Não é uma política de reivindicação’
“Isso não é surpreendente porque está estritamente de acordo com as diretrizes de Trump, mas certamente custará muito ao país”, disse o analista internacional Gabriel Merino à Sputnik.
O especialista qualificou a justificativa do governo como algo
diferente de “uma política de reivindicação soberana, mas de
seguimento direto da Casa Branca”.
Para Merino, “se a premissa do globalismo era que as instituições multilaterais tinham que ser lideradas, hoje o discurso dos Estados Unidos é de que devemos caminhar na direção oposta. Isso reflete a crise de hegemonia de Washington, que acaba buscando desesperadamente alternativas para manter parte de seu peso geopolítico“.
“Uma coisa é os Estados Unidos
fazerem isso e outra é a Argentina fazer isso, o que
não tem nem de longe o mesmo peso“, esclareceu o pesquisador.
‘Medida puramente ideológica’
Fabián Puratich, médico clínico que atuou como subsecretário de Atenção Primária no Ministério da Saúde da Argentina entre 2022 e 2023, alertou em entrevista à Sputnik que “o país
tem muito a perder com essa decisão, cuja justificativa não tem nada a ver com a realidade. A
OMS não obriga nenhum país a implementar nenhuma política, mas simplesmente emite recomendações”.
O ex-funcionário destacou que a OMS oferece fundos rotativos para aquisição de vacinas e tecnologia de ponta e “apoia programas de saúde materna, infantil e mental que são essenciais neste momento, especialmente para países como o nosso: ficar sem esses recursos pode ser muito arriscado”, alertou.
Puratich destacou que, além de EUA e Argentina, há apenas três países que não fazem parte da OMS, mas classificou a
medida argentina como
puramente ideológica, mostrando que “saúde não é mais importante para o governo“.
Juntos, mas isolados?
A saída da OMS
não é a única iniciativa em que o governo argentino poderia imitar os Estados Unidos de Donald Trump. O
governo Milei está até considerando romper com o Acordo de Paris, que busca mitigar os efeitos das mudanças climáticas, disse o porta-voz oficial, reconhecendo que “estamos avaliando isso”.
Segundo Merino, “o maior custo para a Argentina é o isolamento de outros países latino-americanos e do Sul Global: supor que essas instâncias respondam ao globalismo é uma ideia muito simplista, porque muitos países emergentes encontram nessas instâncias caminhos para colaboração internacional”.
Segundo o analista, a renúncia à OMS “aprofunda a erosão das relações com
países muito relevantes, que historicamente
apoiaram a Argentina em momentos-chave, como a reivindicação contra o Reino Unido pela soberania sobre as Ilhas Malvinas, por exemplo”.
“É interessante que o governo esteja renunciando ao seu apoio à OMS, mas não ao Fundo Monetário Internacional. Aqui está claro que a razão subjacente não é a soberania, mas uma decisão estritamente ideológica“, enfatizou o especialis