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terça-feira, 6 maio, 2025

Equador: Movimentos indígenas e urbanos se alinham para eleições de abril

Por Luis Onofa*

O processo eleitoral equatoriano de 2025 produziu um primeiro resultado significativo para as forças progressistas, mesmo antes do segundo turno das eleições presidenciais em 13 de abril: a Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (CONAIE) e mais de cinquenta organizações de base mantêm uma posição estratégica na esquerda e continuam a fortalecer uma unidade que se estende além das eleições, apesar das constantes tentativas da direita de dividi-los e de suas próprias dificuldades internas.

Este é um fato de alto valor eleitoral que vem sendo silenciado ou submetido a interpretações tendenciosas pela própria direita e pela grande mídia, engajadas em uma campanha de desinformação e manobras para distrair os eleitores antes das eleições de abril, nas quais os votos desses grupos serão decisivos, dado o empate técnico que resultou no primeiro turno entre o presidente Daniel Noboa e Luisa González, do partido de centro-esquerda Revolução Cidadã. No passado, a CONAIE entrou em conflito com essa organização política e, em algumas ocasiões, apoiou publicamente a direita ou pediu que seus membros anulassem seus votos.

Em reuniões sucessivas após o primeiro turno das eleições em fevereiro passado, a Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (CONAIE), a maior do gênero no Equador, mas não a única, e cerca de 70 grupos urbanos definiram um conjunto de propostas que contêm o esboço de um programa de governo crítico às políticas neoliberais vigentes no país nos últimos oito anos, bem como uma posição sobre o segundo turno das eleições presidenciais.

Essas reivindicações propõem essencialmente restaurar a força do Estado na liderança econômica e social do país, perdida durante o ciclo neoliberal, e frear a privatização de setores estratégicos da economia (hidrocarbonetos, eletricidade, telecomunicações, previdência social).

Além disso, questionam o atual modelo econômico na medida em que propõem reduzir a carga tributária que Noboa impôs aos contribuintes, de acordo com a doutrina do Fundo Monetário Internacional, e propõem auditar a política de dívida externa, cujo valor dobrou durante o período neoliberal, sem que sua utilização tenha gerado desenvolvimento e equidade no país.

Eles também buscam desmantelar a estratégia de segurança adotada por Noboa, que depende exclusivamente do uso da força e da assistência dos EUA. Isso não conseguiu conter os crescentes massacres diários perpetrados por traficantes de drogas e, pelo contrário, gerou violações de direitos humanos.

As resoluções da CONAIE e dos movimentos sociais propõem, em última instância, impedir tentativas de setores de direita de desmantelar a atual constituição, que garante direitos civis e naturais e foi aprovada por referendo em 2007, quando forças progressistas lideradas pelo então presidente Rafael Correa estavam no poder.

Essas organizações descartaram apoiar Noboa na corrida de abril, mas não apoiaram coletivamente a outra finalista, Luisa González, da Revolução Cidadã (RC). No entanto, alguns de seus líderes, individualmente, questionaram a ideia de anular o voto, alternativa pela qual optaram em eleições passadas, diante do dilema de escolher entre um candidato de direita e um de centro-esquerda.

Tanto Leonidas Iza, principal líder da CONAIE, quanto outros líderes de movimentos sociais concordam que não é hora de recorrer ao voto nulo, muito menos de apoiar Noboa, que veem como um risco de consolidação do neofascismo no país.

Essas declarações, ambíguas à primeira vista, refletem divergências antigas e ainda não resolvidas entre a CONAIE e a Revolução Cidadã em relação ao desenvolvimento da mineração em grande escala. O movimento indígena se opõe a esse método, argumentando que ele polui a água e destrói a natureza.

Essa tem sido uma de suas bandeiras de luta, não apenas contra a RC, mas também contra qualquer outro governo. A RC, por outro lado, considera uma opção inadiável e sustenta que seus recursos devem ser utilizados para lançar as bases de um novo modelo de desenvolvimento para o país.

A posição da CONAIE em relação aos finalistas das eleições de abril também demonstra um esforço de seus líderes para evitar que divergências internas decorrentes de suas próprias características sociais e econômicas se aprofundem. As comunidades camponesas andinas e costeiras, que historicamente foram as que mais sofreram com a exploração capitalista, mantêm uma clara postura antineoliberal. Não é o caso dos que estão na Amazônia, cujas posições políticas são fortemente influenciadas pelas ofertas das empresas de petróleo e mineração e, agora, do próprio governo de Daniel Noboa.

Esse mesmo contexto explicaria a cautela da organização indígena em relação à opção da Revolução Cidadã, com a qual, no entanto, compartilha semelhanças programáticas em outras áreas, o que tem permitido abrir linhas de comunicação e diálogo tanto entre organizações políticas quanto entre outros movimentos sociais progressistas.

O Fórum do Movimento Indígena e Social, com sua estratégia de reuniões regulares e consultas contínuas com seus eleitores, juntamente com a RC e outras organizações menores de esquerda e de povos indígenas, atua como um contrapeso à direita e ao próprio Noboa, que têm uma enorme quantidade de recursos financeiros, inclusive do estado, para empregar táticas de desinformação e distração do eleitorado na atual campanha eleitoral para o segundo turno, o que eles não esperavam, já que esperavam vencer facilmente no primeiro.

*Luis Onofa

Jornalista. Mestre em Comunicação Social. Universidade Andina Simón Bolívar, Equador. Bacharel em Ciências da Informação. Universidade Central do Equador. Produtor e apresentador do programa de opinião La Oreja Libertaria, do Colectivo Espejo Libertario, na Rádio Pichincha, Quito. Correspondente da Agência Estatal Mexicana de Notícias, Notimex. Editor e coeditor da edição de fim de semana do Diario HOY. Correspondente temporário das agências Inter Press Service e Reuters. Editor da Prensa Latina, na redação do correspondente do Equador. Coordenador da Revista Nueva. Repórter do jornal El Tiempo, em Quito. Professor da Faculdade de Comunicação da Universidade Internacional SEK, Quito. Professor de Jornalismo Informativo, Faculdade de Comunicação da Universidade das Américas, Quito. Professor da Faculdade de Comunicação da Universidade Central do Equador. Autor do livro “Vestígios do discurso do presidente Rafael Correa nos mercados populares de Quito”, dissertação de mestrado em Comunicação Social, publicada pela Universidade Andina Simón Bolívar. Presidente da Associação de Imprensa Estrangeira do Equador. Presidente do Colégio de Jornalistas de Pichincha.

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