Quito (Prensa Latina) Não é novidade, mas vale a pena lembrar e registrar: o neoliberalismo se apoia no autoritarismo, na repressão, na força e na violência em todas as suas formas, mesmo à custa de vidas humanas, para manter seu poder. Às vezes, o faz de forma aberta e cruel, como ocorreu em muitos países latino-americanos; outras vezes, o faz de forma menos violenta.
Luis Onofa*, colaborador da Prensa Latina
A perseguição e a intimidação a que o líder indígena equatoriano Leônidas Iza está sendo submetido confirmam a natureza dessa doutrina. O ex-presidente da Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (CONAIE) denunciou que policiais de segurança estão rondando sua casa na comunidade onde vive, na província de Cotopaxi, nos Andes centrais, com o objetivo de intimidá-lo e, possivelmente, matá-lo.
O episódio ocorreu durante o governo de Noboa, um líder neoliberal. Mas o modelo, assim como sua natureza repressiva, não é exclusividade do atual líder. A iniciativa remonta a oito anos. Os ajustes econômicos e sociais foram inaugurados por Lenin Moreno em 2017 e continuados por Guillermo Lasso, a partir de 2021.
A repressão a que Iza tem sido submetida também não é novidade. A mobilização indígena de 2019 contra as medidas de austeridade impostas pelo FMI deixou 11 mortos, 1.507 feridos e 1.128 detidos. Os protestos de 2022, por motivos semelhantes, resultaram em seis mortos e centenas de feridos.
Leônidas Iza esteve entre os líderes que lideraram os protestos de 2019, que forçaram Lenin Moreno a recuar. Três anos depois, o líder indígena liderou protestos pela mesma causa, que produziram resultados igualmente favoráveis ao movimento dos povos indígenas. Mas esse protesto lhe custou uma pena de prisão.
Iza é o líder indígena equatoriano que mais claramente enxerga a situação política que seu país vive nos últimos anos: os verdadeiros adversários do povo são o neoliberalismo e a oligarquia, afirma. Para combatê-los, como presidente da CONAIE, ele promoveu uma aliança de forças de centro-esquerda para as eleições presidenciais e parlamentares no início deste ano no Equador, que não se concretizou: na prática, a direita venceu.
Na transição entre as eleições gerais e o reposicionamento de Noboa como líder do país pelos próximos quatro anos, Iza concluiu seu mandato à frente da CONAIE. No entanto, o líder indígena convocou a base indígena a ir às ruas para lutar contra o modelo do atual presidente equatoriano. Assim, ele se juntou a trabalhadores dos setores público e privado que se manifestaram contra as medidas de austeridade de Noboa, que incluem demissões em massa de milhares de funcionários públicos, e que devem se manifestar nas próximas semanas. Trabalhadores da cultura e da saúde também se uniram, sendo estes últimos severamente afetados pela deterioração da infraestrutura, pela escassez de medicamentos devido à falta de investimento público e pela má administração.
É justamente em momentos como este que as reformas legais e constitucionais autoritárias implementadas pelo presidente, que muitos analistas e políticos consideram ter traços neofascistas, são úteis ao governo Noboa. Elas violam direitos trabalhistas, humanos e civis, conferindo às autoridades policiais poderes e um status privilegiado acima da lei.
Todas essas reformas foram aprovadas no parlamento sob o disfarce de projetos de lei econômicos urgentes, embora não tenham nada a ver com a economia. No entanto, isso significa que a Assembleia Nacional deve abordá-las dentro do prazo obrigatório de um mês. Para tanto, a Assembleia Nacional também se aproveitou de sua maioria na legislatura.
Mas sua tática encontrou objeções no Tribunal Constitucional, que suspendeu temporariamente as moções enquanto as analisa em profundidade antes de emitir um veredito final. Rejeitá-las minaria o cerne da estratégia de governo de Noboa. Portanto, o presidente optou por pressionar o órgão constitucional, o fórum tradicional para organizações de base, nas ruas. Ele espera favorecê-lo na hora de tomar uma decisão final. Ele chegou a ameaçar desestabilizar o tribunal realizando um referendo sobre o poder de impeachment de seus membros.
A mobilização liderada pelo partido governista em Quito em 12 de agosto, liderada por Daniel Noboa, foi uma demonstração do potencial do dinheiro do governo e do poder político sob o controle de um grupo que muitos cientistas sociais definem como uma oligarquia.
Alguns setores da oposição acreditam que esta operação, que levou milhares de pessoas a Quito, foi financiada com recursos públicos. Eles podem estar certos, visto que muitos deles são funcionários públicos, que pararam de trabalhar naquele dia e foram contratados sob ameaça de perda de emprego, segundo alguns relatos da mídia. Mas também é altamente provável que o financiamento tenha vindo da fortuna multimilionária do Grupo Noboa, ao qual o presidente pertence.
Os movimentos políticos deste grupo econômico, um dos maiores do Equador, nunca tiveram uma estrutura organizacional ou um quadro de base sólido, nem mesmo em nível local, muito menos nacional. Mas eles têm uma rede de clientes baseada em fundações que trabalham com saúde e doações de alimentos para setores marginalizados, financiadas pela corporação Noboa. Eles são liderados e geridos por Anabella Azín, esposa de Álvaro Noboa, patriarca do grupo e pai de Daniel. Essa estrutura é intensamente ativada quando alguém entre eles entra na campanha eleitoral.
Usando essa estratégia, aliada a um intenso marketing político, Álvaro Noboa, que nunca teve uma carreira política ativa na base, tentou vencer eleições presidenciais cinco vezes e chegou ao segundo turno em três ocasiões. Mas não conseguiu. Essa estratégia foi repetida com Daniel Noboa nas eleições presidenciais de 2023 e 2025.
A partir de agora, o confronto será entre o poder do dinheiro, que voltou a tomar conta do poder político estatal, e a capacidade das forças de centro-esquerda e de esquerda de conscientizar as massas sobre seu verdadeiro adversário: o neoliberalismo e seu estado-maior, cuja gestão deixou uma economia estrangulada, altos índices de desemprego e subemprego, aguda concentração de riqueza, pobreza, marginalização, insegurança e serviços públicos fragilizados.
* Jornalista. Mestre em Comunicação Social pela Universidade Andina Simón Bolívar, Equador. Bacharel em Ciências da Informação pela Universidade Central do Equador. Produtor e apresentador do programa de opinião La Oreja Libertaria, do Coletivo Espejo Libertario, na Rádio Pichincha, Quito. Presidente da Associação de Imprensa Estrangeira do Equador. Presidente da Associação de Jornalistas Pichincha.