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terça-feira, 6 maio, 2025

Equador: derrota eleitoral do progressismo

Quito (Prensa Latina) As eleições realizadas neste domingo (13/04/2025) no Equador criaram múltiplas expectativas na América Latina.

Juan J. Paz-y-Miño Cepeda*, colaborador da Prensa Latina

Evidentemente, os setores progressistas da região esperavam a vitória de Luisa González, que era apontada como vencedora nas pesquisas. O candidato recebeu apoio de figuras como Claudia Sheinbaum e Lula da Silva, presidentes do México e do Brasil, respectivamente, além de Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai.

Mas a direita continental, com o apoio e a força que a presidência de Donald Trump trouxe aos Estados Unidos, também esperava a vitória do empresário e milionário Daniel Noboa.

À medida que os resultados finalmente reconhecem a vitória de Noboa, que servirá como presidente de 2025 a 2029, o Equador se junta ao grupo de governos alinhados ao conservadorismo continental, e o progressismo doméstico fica seriamente prejudicado.

Estudos e análises acadêmicas realizadas na região sobre o ciclo de governo iniciado em 2017 no Equador mostraram que um domínio neoliberal-empresarial foi restaurado no poder, dando continuidade ao modelo econômico e social inaugurado nas últimas décadas do século XX.

A vitória de Noboa confirma esse caminho e garante um ciclo de longo prazo com benefícios para o setor privado e um afrouxamento da capacidade do Estado de fazer investimentos e fornecer à população amplos bens e serviços públicos.

A visão latino-americanista não é a que tem caracterizado os líderes que compartilham os ideais de “liberdade econômica”. Assim, em meio ao avanço do novo americanismo monroista que tem a China como seu principal inimigo, o Equador se torna mais um elo na cadeia favorável às geoestratégias desenvolvidas pelo presidente Donald Trump.

O Equador avançou com acordos militares, e o presidente triunfante não descartou a possibilidade de aceitar bases, instalações e a presença direta de forças armadas. O apoio que ele obtém dos Estados Unidos para implementar sua política de “guerra interna” contra o crime e o crime organizado pode muito bem se materializar.

Condições econômicas críticas e insegurança dos cidadãos são os desafios mais importantes que o novo governo Noboa enfrenta. Mas, ao mesmo tempo, o domínio de uma elite corporativa no poder provavelmente levará a um enfraquecimento ainda maior das políticas e direitos sociais, trabalhistas e ambientais, uma vez que eles são combinados com a visão de uma economia competitiva de livre iniciativa e a redução total do Estado.

Do outro lado da moeda, num ambiente de polarização total e de ódio cultivado cotidianamente, o “Correísmo” está historicamente arruinado. Uma situação comparável à Argentina, quando o Decreto-Lei 4161, de 5 de março de 1956, proibia falar de Perón, Evita, “Peronismo”, “Peronista”, “Justicialismo” ou fazer referência a autoridades peronistas e seus retratos, bandeiras ou canções (https://t.ly/4nZrZ); e também comparável ao que aconteceu com a “Aliança Popular Revolucionária Americana” (APRA), o partido mais enraizado no Peru durante décadas, embora seu líder e fundador Raúl Haya de la Torre tenha sido perseguido e exilado no exterior.

Da mesma forma, a aliança de esquerda terá que reavaliar suas posições, ainda mais enfraquecidas, se quiser se tornar uma alternativa poderosa. E, sem dúvida, será preciso examinar a conduta política dentro do movimento indígena, com inegáveis ​​divisões cuja definição na votação terá que ser esclarecida, já que os resultados parecem inclinados a repetir o fenômeno do voto massivo em Noboa entre suas bases nas regiões da Serra e Amazônia.

De qualquer forma, a direção que o país tomou não deixa dúvidas sobre a opção preferencial por um regime favorável às elites do poder. As condições históricas sob as quais esse domínio se desenvolveu não foram apreciadas pela sociedade como um todo. Portanto, para os setores progressistas, está começando um momento não apenas muito difícil, mas também perigoso. A América Latina também carece de um aliado na construção da sociedade de bem-estar social idealizada pelo progressismo da região.

rmh/jjpmc

* Equatoriano. Doutor em História Contemporânea pela Universidade de Santiago de Compostela. Coordenador acadêmico, no Equador, da Associação de Historiadores Latino-Americanos e Caribenhos (ADHILAC). Membro Titular da Academia Nacional de História. Considerado um dos gestores da História Imediata. Ele tem vários livros e artigos sobre o Equador e a América Latina.

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