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quarta-feira, 15 outubro, 2025

Enquanto a hipocrisia de Trump predominar, Netanyahu manterá o genocídio

Foto: ONU/ACNUDH

Wellington Calasans

A “paz” proclamada por Trump com fanfarra, no Egito, há poucos dias, não passa de um teatro diplomático que oculta a continuidade do genocídio em Gaza.

Enquanto “líderes ocidentais” (modo de falar) aplaudem discursos triunfalistas, Israel mantém fechado o cruzamento de Rafah e restringe sistematicamente a entrada de ajuda humanitária.

A justificativa oficial — a demora do Hamas em entregar os corpos de reféns israelenses — transforma cadáveres em moeda de troca e civis famintos em reféns coletivos.

Enquanto isso, os escombros de Gaza ainda escondem milhares de corpos não resgatados, e o território vive sob o espectro da fome, com agências internacionais confirmando a existência de fome generalizada desde agosto.

Sem surpresas para quem tem mais de dois neurônios, longe de encerrar a guerra, o cessar-fogo está sendo violado diariamente por Israel.

Relatos de segunda e terça-feira confirmam ataques aéreos e disparos de drones que mataram civis em Gaza City e Khan Younis.

O pretexto israelense — que civis teriam “cruzado linhas de trégua” — é grotesco diante da realidade de um território arrasado, onde ruas inteiras foram apagadas do mapa e os sobreviventes mal conseguem se orientar entre os escombros.

Enquanto Israel impõe novas restrições, o Hamas, embora enfraquecido, reassume funções de segurança e logística, inclusive na limpeza de vias para a entrada de ajuda.

A ironia é cruel: o grupo acusado de “barbárie” organiza a reconstrução mínima da vida civil, enquanto o Estado israelense, apoiado pelo Ocidente, nega comida, remédios e dignidade aos sobreviventes.

Essa “paz” ignora completamente a vontade do povo palestino, sua soberania e seu direito à autodeterminação. Não há menção a um Estado palestino, ao retorno de refugiados ou à justiça pelas destruições massivas.

Trata-se de uma imposição neocolonial, orquestrada por Washington e Tel Aviv, com o silêncio cúmplice da União Europeia. A verdade é que não há alternativa viável de governança em Gaza enquanto o território permanecer sob bloqueio e ocupação indireta.

Ao mesmo tempo, o Hamas, apesar de suas próprias violações — como as execuções sumárias de supostos colaboradores —, demonstra capacidade de manter alguma ordem em meio ao caos que Israel criou.

A desumanidade de Netanyahu transcende os limites da guerra convencional. Ao usar o sofrimento de civis como alavanca para obter vantagens políticas — inclusive reter ajuda humanitária por disputas sobre corpos —, ele demonstra um desprezo absoluto pela vida humana.

Suas ações não são apenas violações do direito internacional; são atos de sadismo institucionalizados, endossados por governos ocidentais que continuam a fornecer armas, financiamento e cobertura diplomática.

Enquanto Gaza agoniza, líderes europeus e norte-americanos brindam a “estabilidade” com champanhe em salões fechados. É a hipocrisia no seu estado máximo.

O Irã, por meio de seu chanceler Abbas Araghchi, denunciou com precisão a hipocrisia dessa diplomacia: “Não se pode ser presidente da paz enquanto se provoca guerras sem fim e se alinha a criminosos de guerra.”

Essa frase deveria ecoar nas capitais ocidentais, mas é abafada pelo lobby pró-Israel que distorce a inteligência e manipula a política externa dos EUA. Está cada vez mais claro que as chamadas “democracias ocidentais” são apenas mercadorias compradas pelo dinheiro genocida de Israel.

A verdade é que o Ocidente não busca paz em Gaza; busca a submissão total dos palestinos e a consolidação de um regime de apartheid regional. Qualquer “acordo” que não inclua justiça, soberania e reparação é uma capitulação moral — e uma traição aos princípios mais básicos da humanidade.

No meu comentário da segunda-feira na TPA, deixei claro que a “paz” anunciada no Egito é uma farsa macabra. Netanyahu, com a cumplicidade ativa do Ocidente, continua a cometer genocídio sob o manto da diplomacia.

Enquanto crianças morrem de fome entre escombros, enquanto hospitais permanecem em ruínas e corpos apodrecem sob o concreto, líderes ocidentais brindam a “estabilidade” com champanhe em salões fechados.

Essa é a face mais repugnante do imperialismo moderno: a capacidade de celebrar a barbárie como civilização e cobrar civilização das suas vítimas.

Netanyahu não é apenas um criminoso de guerra; é um símbolo da desumanização institucionalizada. E os governos que o apoiam — com armas, dinheiro e silêncio — são cúmplices não de um conflito, mas de um extermínio sistemático.

Uma mulher com seus filhos no norte de Gaza

Unicef/Mohammed Nateel. Mãe palestina com filhos em Gaza

Até que o mundo reconheça isso com clareza moral, não haverá paz em Gaza — apenas o eco do sofrimento ignorado por aqueles que preferem a conveniência à consciência. Netanyahu é como um animal doente que precisa ser sacrificado.

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https://x.com/wcalasanssuecia/status/1978376686124105929

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