O encontro entre Donald Trump e Vladimir Putin no Alasca, cenário simbólico de tensões geopolíticas, revelou-se um marco na reconfiguração do poder global. A transição do unilateralismo para o multilateralismo foi acelerada. Os resultados estão “nos olhos de quem vê”.
Tudo começou com a presença de Sergei Lavrov utilizando uma camiseta com as iniciais “CCCP”, inicialmente interpretada no Ocidente como um gesto ofensivo em relação à Ucrânia, mas que na verdade simboliza o “contra-ataque” russo após décadas de desmembramento geopolítico.
Longe de representar saudosismo soviético, a escolha deliberada de evocar o legado da União Soviética demonstra a recusa russa em aceitar o isolamento imposto pela OTAN, cuja estratégia de utilizar a Ucrânia como proxy para enfraquecer Moscou fracassou estrategicamente.
Putin, nesse contexto, concedeu a Trump uma saída honrosa ao reconhecer publicamente avanços nas negociações, mesmo sem acordos formais, evitando vincular definitivamente a imagem dos EUA ao colapso da empreitada militar ocidental na região.
A camiseta de Lavrov, longe de ser um mero anacronismo, funciona como um manifesto político contemporâneo: ao recuperar as siglas “CCCP”, a Rússia afirma sua capacidade de ressurgir como potência após o período pós-soviético de fragilidade.
Enquanto o Ocidente insiste em enxergar esse gesto como provocação vazia, ele carrega uma mensagem clara de que a Rússia não será submetida a uma ordem internacional unilateral.
Essa simbologia reforça a narrativa de que a tentativa da OTAN de transformar a Ucrânia em frente de batalha para conter a influência russa esgotou-se, com os europeus incapazes de sustentar sozinhos os custos militares e políticos de um conflito que agora carece do apoio incondicional norte-americano.
Durante a coletiva de imprensa, Trump destacou que, embora nenhum acordo formal tenha sido alcançado, “vários passos importantes foram dados”, reservando para si o mérito de ter estabelecido uma base para futuras negociações.
Sua declaração à Fox News de que “praticamente concordaram” sobre uma “troca de territórios” e garantias de segurança à Ucrânia revela uma estratégia deliberada de desvincular os EUA do fracasso da empreitada militar ocidental.
Ao atribuir nota máxima ao encontro e afirmar que “Putin provavelmente quer fazer isso”, Trump posiciona-se como o arquiteto de uma solução que, mesmo não resolvendo todas as questões, preserva a credibilidade norte-americana enquanto transfere aos europeus a responsabilidade pelo desgaste político da guerra.
A dinâmica revelada no Alasca evidenciou a incapacidade estrutural da OTAN em sustentar uma estratégia coerente sem o engajamento direto dos EUA. Sem o apoio financeiro e logístico norte-americano, a capacidade europeia de manter a Ucrânia como ator militar relevante desmorona, expondo as contradições internas do bloco.
Trump, ao priorizar conversas privadas com Putin e destacar a “reunião muito calorosa” entre ambos, sinaliza uma ruptura com a política de confrontação exacerbada, entendendo que os interesses norte-americanos estão melhor servidos por uma negociação direta do que por um apoio indefinido a um conflito cujo desfecho já se mostra desfavorável ao Ocidente.
A nova ordem emergente, delineada nas montanhas do Alasca, consolida a Rússia como jogador (os intelectuais chamam de “Player”) indispensável nas negociações de segurança europeia, enquanto a OTAN enfrenta sua crise de legitimidade mais profunda desde a Guerra Fria.
A recusa em ceder à narrativa de derrota e a habilidade russa em transformar símbolos históricos em instrumentos de poder atual comprovam que o projeto de isolamento de Moscou foi não apenas infrutífero, mas contraproducente.
Com os EUA recalibrando seu engajamento e a Europa exposta em sua dependência estratégica, o encontro marcou o início de uma era em que a multipolaridade, longe de ser uma abstração teórica, torna-se a única realidade geopolítica sustentável.
A interpretação dos resultados do encontro no Alasca depende dos olhos de quem vê. A expressão “copo meio cheio ou meio vazio” nunca fez tanto sentido para entendermos quem quer construir a paz e quem quer “cair atirando”.
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