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terça-feira, 17 setembro, 2024

Enciclopédia do Golpe: PF e o viés político na Lava Jato

Por Marcelo Auler

Na Enciclopédia do Golpe, Volume I, (Editora Praxis, 288 páginas, R$ 60,00) por iniciativa do Instituto de Defesa da Classe Trabalhadora – DECLATRA, cujo lançamento ocorre nesta quinta-feira (30/11), na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba, ao editor deste Blog foi pedido um verbete sobe a Polícia Federal no golpe que ajudou a derrubar a presidente eleita Dilma Rousseff, em 2016.

No trabalho, que se estende por 21 páginas do livro, a ideia foi demonstrar o foco político que a Operação Lava Jato teve desde seu início. Nem podia ser diferente. Ela é fruto do chamado Processo do Mensalão.

Embora seus “operadores”, da chamada “República de Curitiba” insistam em dizer que o foco inicial fora as operações de quatro grupos distintos de doleiros, os próprios inquéritos existentes mostram que o foco era sim operações de câmbio e de lavagem de dinheiro envolvendo deputados. Não foram explícitas para que não fossem desviadas para o Supremo Tribunal Federal (STF).

Um questionamento que chegou a ser levantado por alguns defensores, mas que no próprio STF foi sepultado garantindo o foro à Justiça Federal do Paraná. O desenrolar dos fatos, porém, demonstram que o foco político sempre existiu. São vários exemplos, que a0o longo dos últimos dois anos foram surgindo. Muitos deles documentados, como demonstramos no texto que conta da enciclopédia, cujas 12 primeiras páginas do artigo reproduzimos abaixo:

“Ao deflagrarem a Operação Lava Jato, em 17 de março de 2014, os policiais federais do Paraná podiam não ter noção  completa do que provocariam na política brasileira. Embora, oficialmente, as informações sobre a investigação girassem em torno

de um núcleo de doleiros e a lavagem de dinheiro que faziam – muitos deles personagens de tramas criminais anteriores -, o foco dos chamados operadores da Lava Jato já se voltava para o mundo político. Mais especificamente, para os governos petistas e seus “aliados”.

Alguns fatos, revisitados três anos e meio depois, confirmam a tese. A doleira Nelma Mitsue Penasso Kodama, primeira a ser presa no aeroporto de Guarulhos (SP) com 200 mil Euros na calcinha ao tentar embarcar, em um sábado (15/03/14), para Milão (Itália), denunciou a pressão que sofreu na carceragem da Superintendência Regional da Polícia Federal no Paraná (SR/DPF/PR).

O fez mais de um ano depois, é verdade, em maio de 2015. Mas foi um depoimento espontâneo de como funcionava o jogo de pressão na Polícia Federal, pela chamada Força Tarefa da Lava Jato (FTLJ), e do foco da operação desde o início. O interesse era “os políticos”.

Para tal, os presos foram “alertados” (ameaçados?) de verem as “prisões preventivas” se perpetuarem; também servia como pressão a ameaça de transferência para penitenciárias. Colaboradores, desde que naquilo que interessasse aos agentes da FTLJ, permaneciam em melhores condições na custódia da SR/DPF/PR.

“Ele (o cliente, Alberto Youssef) está na praia, enquanto os demais estão no mar se debatendo com os tubarões”, definiu certa feita o advogado Antônio Augusto Lopes Figueiredo Basto, sobre as condições de prisão do doleiro na custódia da SR/DPF/PR, após fazer a delação premiada. Ele tinha direito a geladeira e até TV na cela, ao contrário dos demais.

Foi através de um bilhete ao desembargador João Pedro Gebran Neto, relator das apelações do caso Lava Jato no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) com jurisdição sobre os três estados do Sul do país, que Nelma revelou a pressão sofrida ao entrar na custódia:

“Quando cheguei à Superintendência da Polícia Federal de Curitiba, fui ouvida pelo delegado Márcio Anselmo, os procuradores Deltan Dallagnol e Orlando Martelo, os quais me perguntaram: A senhora tem algum político, ou negócio com tráfico de Drogas? Algum fato novo? Porque se a Sra. só tiver operaçõezinhas com chinesinhos não é do nosso interesse” (sic)”

Bem antes de Nelma relatar essas pressões os sinais de que a Polícia Federal daria à Operação Lava Jato conotação política apareciam nos jornais. Notadamente naqueles que se tornaram “porta-vozes dos vazamentos” ilegais de informações sigilosas.

Eram hipóteses, suposições, conjecturas. Tudo noticiado como se já se tratasse de verdades confirmadas. Um jogo de mobilização da opinião pública em torno da tese principal: com o petismo surgiu e ganhou corpo a corrupção.

Nesse jogo, valia mais a notícia do que os fatos do processo em si.

Um exemplo surgiu em 21 de março de 2014, dois dias após a deflagração da Operação (19/05). O site de O Estado de S. Paulo alardeou as suspeitas em torno de um contrato da Labogen S/A Química Fina, empresa de propriedade de Leonardo Meirelles, com o Ministério da Saúde, em 2013. Na empresa também havia digitais do doleiro Alberto Youssef, outro dos presos na operação.Tudo relacionado à gestão de Alexandre Padilha. Àquela altura, ele já não era ministro, mas pré-candidato a governador de São Paulo.

Em 22 de março, o ataque continuou: “PF põe foto de Padilha nos autos da operação Lava Jato”, noticiou o jornal paulista. A própria reportagem, porém, informava:

“A PF não faz nenhuma acusação a Padilha, pré-candidato ao governo de São Paulo pelo PT, mas à página 134 do documento junta a foto em que ele aparece durante a assinatura de contrato no âmbito da Parceria de Desenvolvimento Produtivo (PDP).

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 Jornal GGN

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