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segunda-feira, 15 setembro, 2025

Em Gaza, morre-se de fome ou pelas balas dos soldados israelenses

© Reuters/Mahmoud Issa

Valter Xéu*

A guerra em Gaza deixou de ser apenas um conflito armado para se tornar um espetáculo de horror transmitido diariamente ao mundo. A denúncia recente de Phillipe Lazzarini, diretor da agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA) — de que existe uma política deliberada para impedir a entrada de mantimentos — escancara o que muitos preferem não admitir: Israel transformou a fome em arma de guerra. A pergunta que ecoa é simples, mas perturbadora: por que Israel não permite que agências da ONU e organizações humanitárias distribuam comida à população civil?

As imagens de civis sendo mortos enquanto esperam por ajuda humanitária já correram o mundo. Mulheres, homens e crianças assassinados em filas que deveriam significar esperança e sobrevivência, mas que se tornaram filas da morte. O objetivo é explícito: expulsar os palestinos de sua terra histórica, submetendo-os à escolha entre o exílio ou a morte. Enquanto isso, mais de seis mil caminhões carregados de alimentos permanecem retidos na fronteira com Egito e Jordânia. Israel, em sua lógica perversa, chegou a propor que a distribuição fosse feita pelo próprio governo israelense — um controle absoluto sobre quem vive e quem morre. A suspeita de adulteração dos mantimentos não pode ser descartada. Se as balas matam de imediato, a fome e a manipulação dos alimentos realizariam uma execução lenta, silenciosa.

Se a fome é uma arma, o silêncio também. Mais de 250 jornalistas foram assassinados desde o início da ofensiva. Um número que ultrapassa as perdas da imprensa em guerras históricas como Vietnã, Iraque e até as duas guerras mundiais. Israel deixa claro que não quer testemunhas, que prefere calar os olhos e as vozes que poderiam revelar a dimensão do massacre. A matança não poupa sequer trabalhadores humanitários. Mais de uma centena de funcionários da ONU já foram mortos em Gaza, vítimas não de ataques do Hamas, mas das forças de ocupação israelenses. O recado é cruel: nem aqueles cuja missão é salvar vidas têm suas próprias vidas garantidas.

O conflito também expôs a fragilidade de uma das narrativas mais propagandeadas: a suposta invencibilidade das Forças Armadas israelenses. Bombardear escolas, hospitais e casas não é sinal de poder, mas de covardia. Quando o Irã respondeu aos ataques em seu território, Israel correu para pedir ajuda aos Estados Unidos. Até mesmo o “Domo de Ferro”, orgulho da defesa israelense, mostrou-se vulnerável diante da ofensiva. O mito da invulnerabilidade ruiu.

O que se vê em Gaza é um genocídio transmitido em tempo real, diante da passividade de governos e instituições internacionais que preferem discursos vagos a medidas concretas. A cada dia, mais corpos se acumulam, mais famílias são destruídas, mais crianças são privadas de futuro. Se a fome é controlada, se a imprensa é silenciada, se até a ONU é atacada, o que resta à população palestina? Resistir com o pouco que ainda lhes é possível. O mundo não pode se acostumar a esse horror. O silêncio diante da barbárie é cumplicidade.

*Valter Xéu é diretor e editor das publicações, Pátria Latina, Revista Pelo Mundo e Vietnã Hoje

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