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sábado, 7 dezembro, 2024

Elites do norte da Europa: militantes linha-dura da OTAN 

 Claudio Gallo, Strategic Culture Foundation (tradução automática revista)

O sol levanta-se do norte, já há algum tempo, sobre terras da OTAN. Desde meados de 2009, a cadeira de secretário-geral da OTAN é ocupada por políticos do norte da Europa: primeiro, o ex-primeiro-ministro da Dinamarca, Anders Fogh Rasmussen e depois (a partir de outubro de 2014) o ex-primeiro-ministro da Noruega, Jens Stoltenberg. Bruxelas prorrogou o contrato de Stoltenberg até setembro de 2022. Esse prazo, nem tão longo, já está gerando as primeiras discussões entre os parceiros atlânticos.

No próximo ano, o novo secretário será apresentado na reunião de cúpula da OTAN em Madrid, no final da primavera, início do verão. Acompanhando o espírito-de-época ocidental, quase todos esperam que uma mulher chegue, pela primeira vez, ao mais alto posto civil da OTAN. Para completar a identiquice [orig. the identikit], deve-se considerar que a deriva em direção norte, nordeste da Aliança, a qual, desde a queda da União Soviética em 1991 progressivamente posiciona suas tropas em torno das fronteiras da Rússia.

Os primeiros três nomes em circulação são das ex-presidentes Kolinda Grabar-Kitarović da Croácia e Dalia Grybauskaitė da Lituânia; e a atual presidente da Estônia, Kersti Kaljulaid. O jogo está longe de terminar, e muitos outros países promoverão nomes seus. Apesar do carisma zero e do nenhum talento para Relações Públicas, o Reino Unido talvez tente emplacar a ex-número 10, Theresa May. Em tempos de tensões crescentes com a Rússia, uma coisa é certa: o novo titular da OTAN deve repetir a mesma atitude subalterna em relação a Washington que os dois últimos secretários-gerais mantiveram tão aplicadamente.

Como Moscou (e toda a população mundial, na verdade, exceto a grande mídia europeia) sabe, o poder estratégico da aliança depende exclusivamente da banda ocidental do Atlântico. Do ponto de vista exclusivamente dos EUA, uma das qualidades mais prestigiadas dos aliados europeus é a mais cega e incondicional obediência. Qualidade que países do norte da Europa manifestam em abundância. Indiscutivelmente mais que os países comparativamente menos confiáveis do sul, como França, Itália ou Espanha. Ou os alemães.

Ligada à Rússia por relacionamento geopolítico eterno de amor/ódio, a Alemanha bloqueou recentemente o fornecimento de armas da OTAN a Kiev, apesar das pressões de Washington. Com robustas relações comerciais com a Rússia, Berlim vê a guerra econômica contra a Rússia, para nem falar de conflito militar direto, como pesadelo a enfrentar – e com relutância – só no caso de a pressão dos EUA tornar-se insuportável.

Assim, se alguém quiser encontrar os militantes linha-dura da OTAN, tem de examinar as elites do norte da Europa. Os povos é outro assunto.

Apesar de recentemente as pesquisas estarem tendendo levemente a favor do apoio à OTAN, a opinião pública permanece muito dividida e em geral inclinada a uma atitude de neutralidade em questões de segurança. Se se põe de lado a ideologia, é difícil explicar por que uma posição mais agressiva da OTAN favoreceria interesses nacionais desses países. Essa consideração funciona bem para todo o lado oriental da Aliança Atlântida.

Por muitos anos, a cooperação entre os governos do Conselho Nórdico [ing. Nordic Council] (para colaboração formal entre os parlamentos de Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega, Suécia, as Ilhas Faroe, Groelândia e Ilhas Åland) tem evitado questões de segurança, em consideração ao status de país não alinhado da Suécia e da Finlândia. Mas em novembro último, o fairplay foi como posto de lado.

O secretário-geral da OTAN Jens Stoltenberg disse, em discurso na 73ª Sessão do Conselho Nórdico, em Copenhagen: “Mantendo-nos unidos e continuando a nos adaptar a mundo em transformação, manteremos a ‘paz profunda’ aqui na região nórdica e na Europa”.

Na interpretação mais agressiva do ancestral “Si vis pacem para bellum”, a “paz profunda” é buscada mediante movimento militar constante rumo à fronteira da Rússia. E quando a Rússia reage, como no caso da Ucrânia, a mídia ocidental lá está para gritar contra mais uma agressão bárbara.

Apesar de a nova primeira-ministra da Suécia Magdalena Andersson ter dito recentemente que a Suécia não requereria o status de membro da OTAN, o país permanece como satélite estável da Aliança. Em junho passado, a Suécia acolheu, com papel crucialmente decisivo, as manobras Arctic Challenge 21, um dos maiores exercícios de poder aéreo na Europa. Arctic Challenge reúne aeronaves de guerra dos EUA, Suécia, Dinamarca, Finlândia, Alemanha, Holanda e Grã-Bretanha, para exercícios de defesa aérea, apoio aéreo próximo, supressão de defesas aéreas e treinamento de ataque ar-terra.

O governo sueco reintroduziu o alistamento militar, aprovou aumento de impressionantes 40% no orçamento para gastos de defesa (o maior aumento para gastos de defesa no país, em 70 anos), definiu uma nova doutrina de segurança, a “Defesa Total” e iniciou uma mobilização de contingentes em Gotland, ilha sueca no Mar Báltico, com magnífica “vista” para os países bálticos.

Desde 2016, Estocolmo tem sido parceiro chave dos EUA, provendo capacidade flexível para ataque global (entenda-se: contra a Rússia) aos bombardeiros norte-americanos de longo alcance. Os novos gastos aumentarão em 67% o número de militares no país, reorganizarão o exército em brigadas mecanizadas, instalarão sistemas de defesa aérea nos navios de guerra, aumentarão a capacidade da Marinha e prepararão uma nova geração de bombardeiros de combate.

No início de novembro, a Suécia recebeu dos EUA o seu primeiro sistema Patriot de mísseis de defesa. As indústrias militares da neutra e pacífica Suécia estão a pleno vapor: as vendas aumentaram, de 172 milhões de EUA-dólares, para 286 milhões de EUA-dólares em 2020, com Paquistão e Emirados no topo da lista. Em anos recentes, essa tendência tem estado em contraste irônico com a política exterior feminista [ing. feminist foreign policy, FFP] da Suécia.

Finlândia é outro comensal regular-irregular à mesa da OTAN. O presidente Sauli Niinistö acaba de responder como segue, ao mais recente apelo dos russos para que não se una ao movimento rumo a leste, da Aliança: “A Finlândia considera que a OTAN é fato que promove a segurança e a estabilidade na Europa. Manter espaço nacional para manobra e a liberdade de escolher é o fundamento da política exterior, de segurança e de defesa da Finlândia. Inclui-se aí a possibilidade de alinhamento militar e de requerermos o status de membro da OTAN”.

Em pesquisa de 2019, metade dos finlandeses, 51%, manifestaram-se contra o país unir-se à OTAN; os “sim” mal chegaram a 26%. No final de outubro, o secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg elogiou a estreita parceria de Finlândia e Suécia com a Aliança Atlântica, ao visitar a base naval sueca no fjord Hårsfjärden, próximo a Berga, Haninge, durante as manobras navais conjuntas Suécia/Finlândia, “Swenex-21”.

“É importante que aliados da OTAN, Finlândia e Suécia, continuem a treinar e a realizar exercícios juntos. Ao longo dos anos, temos trabalhado cada vez mais conectados. Vimos a situação da segurança na região deteriorar-se, com a postura agressiva e a movimentação militar da Rússia. Isso torna nossa cooperação ainda mais importante” – disse o secretário-geral.

A Finlândia acaba de escolher o jato de combate multitarefas F-35A Block 4, para substituir sua frota de 62 velhos F/A-18C/D Hornets. Helsinki confirmou a intenção de comprar 64 do Joint Strike Fighter. Tudo incluído: armamento, treinamento, manutenção e outros serviços, com entrega dos jatos prevista para começar em 2025. O gasto total estimado é de 8,3 bilhões de euros. Os suecos, com seu Saab Gripen E, foram os grandes derrotados. O F35 é jato avançado de combate, e Helsinki deve desenvolver rede doméstica de apoio, que estará entre as maiores fora dos EUA, só menor, provavelmente, que a de Israel. Apesar disso tudo, a moral da história é que, no que tenha a ver com OTAN, a Europa perde e os EUA vencem, seja em termos estratégicos seja economicamente.

O jogo não visa a reverter a narrativa nada realista de uma Rússia ‘má’, contra Aliança Ocidental ‘boa’. Trata-se, isso sim, de compreender que o interesse nacional de países europeus não está entre as principais preocupações da aliança comandada pelos EUA.

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