Por Luis Beatón
Correspondente Chefe em El Salvador
É uma situação preocupante, e não é de se admirar: as remessas representaram 25,9% do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro semestre de 2025, chegando a 26,8% dos lares salvadorenhos.
De acordo com o 7º Censo Demográfico, pelo menos 514.739 famílias recebem essas rendas, 90% a mais que os 270.045 beneficiários em 2007, quando o censo anterior foi realizado.
Isso é muito preocupante porque se Trump, como fez com outros países, decidir expulsar salvadorenhos em situação ilegal em massa, o Polegar das Américas poderá estar se aproximando de altos níveis de pobreza, até mesmo próximos ao Haiti, segundo alguns especialistas.
É como uma Espada de Dâmocles, já que quase 850.000 salvadorenhos vivem nos Estados Unidos como migrantes irregulares e, se, por exemplo, os EUA suspenderem o Status de Proteção Temporária (TPS), como fizeram com Honduras e Nicarágua, quase 230.000 salvadorenhos terão que fazer as malas.
O número de pelo menos 850.000 salvadorenhos ilegalmente no país do norte foi revelado em um relatório do Pew Research Center, um think tank sediado em Washington, conhecido por suas análises de questões migratórias, que analisou dados de 2023.
O estudo, intitulado “A população de imigrantes não autorizados nos Estados Unidos atingiu um recorde de 14 milhões em 2023”, mostrou que El Salvador e Guatemala ocupam o segundo lugar na lista de países com mais imigrantes vivendo nas sombras, atrás apenas do México, que representa 30% do total.
A drenagem seria significativa, visto que o auxílio familiar cresceu 18,6% até julho, ultrapassando US$ 5,7 bilhões, um aumento histórico, talvez devido a temores de tarifas e outros impostos que o presidente dos EUA poderia impor.
Estatísticas do Banco Central de Reserva (BCR) confirmam que as famílias salvadorenhas receberam mais de US$ 5,71 bilhões entre janeiro e julho de 2025, uma contribuição substancial para a economia familiar que pode ser perdida.
No entanto, alguns comentaristas acreditam que, dada a estreita relação do presidente Nayib Bukele com seu homólogo americano, Donald Trump, isso não acontecerá. O aumento de US$ 894,2 milhões neste período do ano está ligado ao medo dos salvadorenhos de serem deportados.
Entre as questões preocupantes está o imposto de 10% que será aplicado a partir de 1º de janeiro de 2026 a qualquer transferência feita dos Estados Unidos, com exceção de fundos originários de contas ou cartões de instituições domiciliadas nos Estados Unidos.
Atualmente, os Estados Unidos respondem por 92,5% das remessas, totalizando US$ 5,2819 bilhões até julho, número que aumentou 19,6% em relação ao mesmo período de 2024.
Contribuições menores, mas sem a ameaça de impostos, são as ajudas da Espanha, que, apesar de crescerem 17%, para US$ 37,6 milhões, e da Itália, com 12,6%, para US$ 33,2 milhões, são ínfimas em comparação com as que vêm do norte.
O Pew Center esclarece que o conceito de “imigrantes não autorizados” inclui aqueles que entraram ilegalmente, mas também aqueles que entraram legalmente e posteriormente perderam seu status, incluindo os beneficiários do TPS.
No nível regional, o maior aumento na migração não autorizada foi registrado na América do Sul (1,3 milhão), seguida pela América Central (725.000) e Caribe (575.000), mas as políticas de Trump desaceleraram o aumento, embora o interesse em chegar ao território dos EUA persista.
Um aspecto do futuro dos imigrantes é seu impacto na economia dos EUA. Em 2022, eles pagaram aproximadamente US$ 96,7 bilhões em impostos federais, estaduais e locais, e estima-se que sua expulsão cause uma crise econômica devastadora.
Além disso, seu poder de compra e a criação de empresas impulsionam ainda mais a economia do país.
As estatísticas mostram que trabalhadores sem documentos estão presentes em todos os setores econômicos. Os setores com o maior número de trabalhadores sem documentos em 2023 foram: construção (15%), agricultura (14%), hotelaria e lazer (oito por cento), outros serviços (sete por cento) e serviços profissionais/empresariais (sete por cento). Muitos desses funcionários são salvadorenhos.
A vitória esmagadora de Trump na última eleição deu a ele carta branca para declarar estado de emergência nacional (o que lhe permitiu garantir recursos adicionais) e usar o exército para implementar seu plano de deportação em massa de imigrantes indocumentados.
Os cidadãos do Polegar das Américas enfrentaram o problema em menor grau e, embora 5.551 tenham sido deportados neste ano, no primeiro semestre de 2025, esse número foi 23,94% menor em comparação ao mesmo período de 2024, de acordo com as autoridades locais.
De acordo com o Pew Center, cerca de três milhões dos que vivem nas sombras não são deportáveis, já que têm permissão para viver e trabalhar no país.
Este grupo inclui requerentes de asilo, beneficiários do TPS, beneficiários do DACA e aqueles que estão no país com autorização de residência temporária, conhecida como liberdade condicional.
No entanto, há muita incerteza porque, se o governo Trump eliminar muitas dessas proteções, uma grande parcela dessas pessoas enfrentará um limbo legal que pode terminar em deportação.
No caso dos salvadorenhos, uma deportação em massa complicaria a situação da economia local, já que o país enfrenta uma crise de emprego, e o emprego informal é a principal fonte.
Para os Estados Unidos, a deportação cria um problema sério, já que, por exemplo, a agricultura já entrou em crise por falta de mão de obra.
Segundo fontes oficiais, os custos de produção aumentarão, os projetos de construção serão atrasados e os serviços serão interrompidos.
Os mais afetados são os trabalhadores agrícolas. Estimativas indicam que entre 40% e 50% são indocumentados, muitos deles migrantes de departamentos salvadorenhos onde a mão de obra é escassa devido aos baixos salários, levando muitos a buscar o norte para suprir as necessidades de suas famílias.
Em termos gerais, esses são os fatores que mantêm os salvadorenhos em um estado de incerteza e expectativa, enquanto muitos exigem que Bukele use seu relacionamento próximo com Trump para proteger seus compatriotas que vivem sem documentos no Território do Norte.