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sexta-feira, 29 março, 2024

Educação, objetivo municipal

“No momento atual, marcado pela ruptura institucional, por um governo sem a legitimidade da soberania popular e sem amplo apoio popular, emergem iniciativas e projetos que afetam a liberdade do ensino e aprendizagem dos professores comprometem o princípio da autonomia pedagógica.”
(Sérgio Sanandaj Mattos, Tempos Sombrios: a educação brasileira e a lei da mordaça, em Sociologia Ano VII Edição 65)
Pedro Augusto Pinho*
O golpe ocorrido no Brasil deu dimensão ainda maior à administração municipal e, em consequência, às questões relacionadas à educação.
O Município está para a política como a família está para a pessoa: é o primeiro e formador contato de conhecidos candidatos, residentes no mesmo espaço político, com seus possíveis eleitores. No momento que o governo federal se afasta totalmente das prioridades e necessidades brasileiras, com o único fito de servir aos interesses estrangeiros e ao sistema financeiro, a administração municipal ganha máxima relevância na importante missão educadora.
Convido o caro leitor para reflexão sobre o que, certamente, é prioridade absoluta para a formação de um povo: sua educação.
Mas o que é educar? Seria adestrar uma pessoa para realização de uma ou mais tarefas? Seria condicionar um jovem a dar respostas conforme os interesses dos demandantes? Ou seria possibilitar conhecer e entender o que lhe cerca em todos os sentidos: físico, material, psicológico, emocional, social, humano, econômico, político, cultural? Ainda há um mais relevante entendimento do que seja educar: dotar a pessoa de capacidade crítica, saber interpretar as ações e manifestações da natureza e dos homens.
Isto destrói o entendimento da perenidade das ações e de suas compreensões. Há um fato que ilustra muito bem este sentido da mutabilidade dos valores sociais ou humanos. Ele está narrado por Augustin Cabanès (Moeurs intimes du temps passé) e reportado por Norbert Elias (O Processo Civilizador). No século XI, um doge de Veneza casou-se com uma princesa grega. No círculo bizantino da princesa o garfo era usado e ela levou um pequeno garfo de ouro, com dois dentes, em seu enxoval. Em Veneza, como em toda Europa, que denominamos Ocidental, apenas a colher e a faca eram utilizados à mesa. O garfo provocou escândalo e a princesa recebeu severas reprimendas, inclusive dos eclesiásticos, que lhe invocaram a ira divina. Algum tempo depois, ela foi acometida de uma doença e são Boaventura não hesitou em declarar que era um castigo de Deus.
Há várias lições deste fato histórico, principalmente quando as mais reacionárias forças políticas no Brasil propõem uma “Escola sem Partido”. Este inacreditável projeto vem da família Bolsonaro, pelo ocupante da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, Vereador Carlos, filho do Deputado Federal Jair, que tem outro filho, Flávio, deputado estadual e candidato a Prefeito no Município do Rio de Janeiro. Como vemos, uma dinastia a serviço do obscurantismo.
Várias questões que nos afligem estão intimamente relacionadas à educação, inclusive a da segurança pública. Um projeto educador é amplo, não se esgota na transmissão de informações curriculares, mas no desenvolvimento físico e cultural. Daí vermos quadras esportivas e auditório ou teatro em quase todas as escolas, nos mais diversos países. Os Centros Integrados de Educação Pública (CIEP), desenvolvidos por Leonel Brizola e Darcy Ribeiro, no Rio de Janeiro, são o exemplo que mais se aproxima de uma escola municipal ideal. Diria que é o projeto a ser desenvolvido e aperfeiçoado para estarmos contemporâneos no mundo da educação pública.
Por que insisto em educação pública? Porque é a única que merece o nome de educação. As demais são uma forma de comércio ou de doutrinação religiosa. A formação integral, não dogmática, só pode ser fruto do ensino público. Os exemplos estão em todo mundo capitalista ou socialista.
Verifique se a educação está na pauta principal da campanha eleitoral que se inicia. Não é surpresa que apareça, mais como um slogan, vazio e demagógico, do que numa perspectiva de soberania e construção de um país independente, ou seja, de ação política consciente, nacionalista e responsável.
Claro que existem exceções e nelas devemos buscar e dar nosso voto e apoio. Mas é triste e verdadeiro constatar que o Brasil empreende acelerada marcha ré, revolvendo o pior da política e das emoções humanas.
*Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado

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