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segunda-feira, 14 outubro, 2024

Dólar se tornou moeda perigosa e pouco confiável, afirma cofundador do banco do BRICS

Sputnik – O dólar se tornou uma moeda perigosa e pouco confiável, afirmou o cofundador e ex-vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), o Banco do BRICS Paulo Nogueira Batista Jr., em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, nesta terça-feira (1º).

Ao destacar que, entre os integrantes do grupo, Brasil, Rússia, Índia e China estão entre as dez maiores economias do mundo em termos de paridade de poder de compra, ele defendeu que o banco precisa de uma moeda de reserva.

“O BRICS fala muito em desdolarização, mas é curioso notar que o Banco do BRICS, o Novo Banco de Desenvolvimento, ainda opera essencialmente com dólares. Se não me falha a memória, três quartos das operações do banco são em dólares, e não em moedas nacionais dos países-membros, como se planejava”, ponderou.

Uma nova moeda de reserva, explicou, acabaria com as limitações e os riscos criados pelo sistema baseado no dólar norte-americano para pagamentos em moedas nacionais.
O economista esclareceu que as moedas nacionais e os bancos centrais dos membros do BRICS continuariam, mas uma reserva de valor seria criada para transações internacionais, a fim de que os países superavitários de moedas nacionais possam convertê-las em ativos estáveis de valor alternativos ao dólar.

“[…] O dólar se tornou uma moeda perigosa, pouco confiável, em face do uso que os americanos fazem do dólar como instrumento para sancionar países que eles consideram não amigáveis ou hostis”, disse. “Primeiro tem o custo de transação, o uso ao dólar e, segundo, tem o risco político, que é derivado do uso da weaponization, da transformação do dólar e do sistema financeiro ocidental de pagamentos numa arma.”

Ex-diretor-executivo pelo Brasil e mais dez países por oito anos no Fundo Monetário Internacional (FMI), em Washington, ele contou que a partir de 2011, 2012, ficou evidente que não haveria progresso na reforma estrutural e na democratização do fundo nem do Banco Mundial.

BRICS sob a presidência do Brasil

Um dos fundadores do NBD, Batista Jr. defendeu que a próxima gestão do BRICS, que será liderada pelo Brasil a partir do ano que vem, deve aprofundar a proposta de desdolarização do sistema de pagamentos internacionais, defendida pela presidência atual do BRICS, a Rússia.

“O Brasil, como presidente do BRICS em 2025, tem que não só trabalhar nas ideias de sistemas de pagamento, mas também criar um caminho para uma nova moeda de reserva […] Montar um sistema alternativo ao SWIFT, que é o sistema atual de transações e liquidação de transações internacionais.”

A partir de julho de 2025, a presidência do banco passa para a Rússia com um mandato de cinco anos.

“É muito importante para o futuro do banco que o próximo presidente seja uma pessoa não só tecnicamente sólida, mas que tenha visão geopolítica do que o novo Banco de Desenvolvimento pretende ser”, alertou ele. “Um banco do sul para o sul, de países em desenvolvimento para países em desenvolvimento, com uma nova visão de desenvolvimento e que ofereça uma real alternativa às instituições tradicionais, como o Banco Mundial e outras.”

Reunião dos ministros de Desenvolvimento Econômico e do Comércio do BRICS. - Sputnik Brasil, 1920, 30.09.2024

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Novos integrantes, novos desafios

Em janeiro passam a integrar o grupo Irã, Etiópia, Egito e Emirados Árabes Unidos. Isso irá exigir, segundo ele, tomadas de decisões bem pensadas, acompanhadas e bem estruturadas para que o BRICS seja uma “força importante e construtiva de um mundo multipolar”.

“É importante saber como eles entram, em que ritmo, porque a minha preocupação é que possa haver uma expansão desordenada do grupo e o grupo degenerar em um talk shop, numa plataforma de discursos e sem uma real contribuição em termos de iniciativas práticas”, alertou.

Na área econômica, Batista Jr. defendeu que deve haver um acordo entre os nove países em torno da proposta russa de um sistema alternativo de pagamentos, a fim de acabar com a “dependência excessiva em relação ao dólar e ao sistema financeiro americano, ocidental”, concluiu.

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