O jornal britânico Financial Times escolheu a presidenta brasileira Dilma Rousseff como uma das 10 mulheres que marcaram o ano de 2016. A informação foi divulgada nesta quinta-feira (8) acompanhada de uma entrevista com a presidenta.
Além de Dilma, a lista inclui Hillary Clinton, primeira mulher candidata à Presidência dos EUA, Simone Biles, ginasta norte-americana, Jean Liu, presidente da Didi Chuxing, maior empresa de transportes da China, Mary Berry, apresentadora da BBC, Maria Grazia Chiuri, primeira mulher a dirigir a Dior, Njideka Akunyili Crosby, artista plastica nigeriana, Margrethe Vestager, líder do partido Social-liberal da Dinamarca, Phoebe Waller-Bridge & Vicky Jones, autoras da série Fleabag,.
Entrevista
Na entrevista conduzida pelo jornalista Joe Leahy, chefe da sucursal brasileira do Financial Times, Dilma falou sobre o golpe que a tirou da Presidência, sobre crise econômica e sobre o governo Temer.
“Para uma mulher que acabou de suportar um duro período de seis meses de julgamento político, que resultou em seu impeachment, a ex-presidente brasileira Dilma Rousseff parece incrivelmente relaxada”, avaliou logo no início da entrevista.
Impeachment
O jornal explica aos leitores britânicos que Dilma saiu do poder em maio e que foi expulsa da Presidência em agosto, depois que o Senado a considerou culpada por uma série de manobras fiscais usadas para estimular a economia e disfarçar o pior do déficit orçamentário visto no Estado.
Ela alega que os mesmos truques orçamentários foram usados pelos seus antecessores, mas a reportagem cita que, pela primeira vez desde antes da segunda guerra mundial, seu governo foi o primeiro a ter as contas rejeitadas pela fiscalização das finanças públicas, o TCU.
“No final, o processo de impeachment foi um julgamento político – a verdadeira razão pela qual ela perdeu o poder foi a queda da popularidade em meio a uma recessão crescente e uma investigação de corrupção na estatal Petrobras”, considerou o jornal.
Essa situação, lembra o correspondente, mostra um forte contraste com sua posição de seis anos atrás, quando sua popularidade dava inveja a qualquer líder mundial.
Ações sociais
Para o jornal, ela foi a mulher que finalmente quebrou o teto de vidro na política brasileira, que se colocou como campeã das minorias e dos pobres por meio de programas como ‘Sem Miséria’ – enviando assistentes sociais para auxiliar os desamparados e garantir a seus regimes de assistência social.
“Eu acho que a oligarquia tradicional brasileira ficou chateada com essa pequena (redistribuição da riqueza)”, disse Dilma.
“Após séculos de exclusão, este foi um esforço muito pequeno na inclusão. Não foi fantástico; precisa ser muito mais do que o que fizemos”, continuou
Austeridade de Temer é suicídio
Para Dilma, a proposta de Temer de congelar o crescimento dos gastos orçamentários por 20 anos é uma “loucura”. “Durante uma recessão, uma política de austeridade é o suicídio”, disse ela. “No curto prazo, você tem que aumentar o investimento público.”
O jornal menciona que Dilma não foi acusada de nenhum crime. Dilma insistiu também durante a entrevista que, se não fossem as reformas que ela introduziu para combater a corrupção, a investigação Lava Jato nunca poderia ter acontecido.
Questionada sobre o futuro, a presidenta disse que não pretende mais concorrer a cargos eletivos. “Mas continuarei a ser politicamente ativa”, avisou.
Dilma, lembra a reportagem, foi frequentemente acusada de ser uma dama de ferro, supostamente tão “dura” que fez ministros chorarem em seu gabinete quando não apresentaram o dever de casa.
Machismo
“Quando você é uma autoridade mulher, eles dizem que você é dura, seca e insensível, enquanto um homem na mesma posição é forte, firme e encantador”, comparou.
Dilma brinca que o mais frustrante foi que ela foi pintada como um ogro, enquanto os homens na política brasileira ficaram “cheirando a rosas”.
“Um dia, depois de me cansar de ouvir o quão dura eu era, eu disse (sarcasticamente) que sim. Isso mesmo, eu sou uma mulher dura rodeada por homens doces. Todos eles são muito doces.”