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sexta-feira, 20 setembro, 2024

Dezembro de 1991, fim da União Soviética – Porquê?

Daniel Vaz de Carvalho

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Havia uma crise econômica? Financeira? Declínio do poder militar? A população queria o fim da União Soviética, preferia o capitalismo? A tudo isto a resposta é absolutamente não.

Apesar da intensa propaganda durante a “perestroika” para denegrir o socialismo e o passado soviético e elogiar os países capitalistas, apenas 18% dos cidadãos era favorável a que se fomentasse a propriedade privada. Os povos da URSS, desejavam preservar as boas realizações da estrutura soviética. No referendo realizado em março de 1991, a esmagadora maioria da população soviética votou a favor da manutenção da URSS.

Com o socialismo alcançou-se um nível inédito de igualdade, segurança, serviços de saúde, habitação, educação, emprego e cultura para todos os cidadãos. A produção industrial na Rússia representava em 1913 cerca de 4% da produção mundial. Em meados dos anos 1970, na URSS, elevava-se a 20%.

Em 1985, o défice da URSS era 2% do PIB. Já com as “reformas” na via do capitalismo, em 1990, subiu para 10%, mas os títulos soviéticos eram avaliados tão fortemente quanto os títulos canadianos. Em 1991, o défice aumentou para 30% do PIB. ( t.me/intelslava/53227, Telegram, 07/11)

A União Soviética, representou progresso económico, científico e espiritual. Milhões de soviéticos viajavam durante o seu período de férias sem necessidade de qualquer “permissão”. Apesar das horríveis perdas da 2ª Guerra Mundial, a população soviética teve um constante crescimento. As pacíficas realizações (como na habitação, depois das terríveis destruições) são completamente ignoradas no ocidente. A vida dos soviéticos nos anos 1970 era na verdade boa, nunca tendo vivido tão bem na sua História. Nenhuma sociedade tinha até então conseguido em tão curto espaço de tempo níveis de vida, consumo, segurança para toda a população e sem conhecer crises económicas.

A União Soviética tinha um elevado nível educacional, sendo atualmente a base da recuperação da Rússia. Não apenas tinha especialistas, cientistas, académicos de alto nível mundial, mas também uma elite tecnológica que seriamente desafiava os EUA. Um quarto dos cientistas do mundo trabalhava na URSS. Tudo o que havia a fazer era ser receptivo a essas pessoas no sentido de modernizar a economia. Quando Gorbachov foi levado ao poder em 1985 a URSS dispunha de todas as ferramentas necessárias para transformar e consolidar essas forças se tivesse querido livrar-se dos ladrões e traidores que constituíam o governo.

Na URSS as pessoas tinham confiança no futuro, para si e para o seu país. Tudo isto foi ridicularizado em grande escala por jornalistas e cómicos na TV durante a perestroika.

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Então como é que a União Soviética foi dissolvida? Não foram causas materiais nem fatores económicos a principal causa do declínio e morte da URSS. Não findou por lojas vazias ou agentes 007, nem por dissidentes desejosos de se tornarem emigrantes famosos no ocidente. Mesmo a despeito de todos os problemas, as Forças Armadas eram perfeitamente capazes de responder a qualquer agressor externo.

O problema foi gente seduzida pela riqueza dos oligarcas do ocidente, pela sua abundância e luxos como se isso fosse o padrão nos países capitalistas. Com a perestroika foi posto em prática um projeto para destruir o socialismo e a URSS. Gorbachov assumiu funções com profissões de fé Leninistas para depois confessar no ocidente que tinha sido a forma de impor a “mudança”, isto é, destruir o socialismo e a URSS. Iakovlev, um dos principais colaboradores de Gorbatchov, declarou: “enfrentámos a tarefa histórica de desmantelar todo um sistema social e económico com todas as raízes ideológicas, económicas e políticas”.

Gente seduzida pelo imperialismo, ansiosa por se lhe juntar e partilhar as riquezas e o fausto das oligarquias ocidentais e seus serventuários, apossou-se das lideranças do PCUS e dos governos locais, afundando-se numa teia de mentiras e privilégios.

Os hipócritas pais da perestroika, empenharam-se numa campanha de calúnias anti-soviéticas, denegrindo as experiências socialistas e todo o seu passado. Procedeu-se ao branqueamento dos crimes do capitalismo, implantando um tom de “conversa fiada” sentimental nas relações internacionais. Seduzidos pelo ocidente inventaram histórias como “o novo pensamento” e “valores humanos universais”. O capitalismo era apresentado como liberdade e “direitos humanos”, o socialismo “ditadura”, “totalitarismo”.

A URSS foi perdida por vigaristas políticos e demagogos. Traída por líderes que desprezavam o povo e saquearam a riqueza nacional, transformando-a em bens privados. Muitos destes conduziram movimentos separatistas que levaram à desintegração do Estado.

Gorbachov tornou-se popular no ocidente pelas mesmas razões que era criticado ou mesmo odiado por muitos no seu país. Iéltsin criou um Estado de gangsters imerso no roubo e na caça ao poder, gente que não se importava com o destino das diferentes nações dentro da Federação Russa e desprezavam a memória histórica.

Com apoio do ocidente tentaram criar na Chechénia um enclave criminoso, através do qual pudessem transferir os lucros do petróleo roubado e tráfico de armas, a sua criminosa ganância levou à tragédia da Chechénia. Mas Ieltsin ainda traiu mais o seu país quando assinou uma concessão de 20 anos pela base naval de Sebastopol, que nunca tinha sido entregue à Ucrânia, nem 1948, nem em 1954, nem mesmo em 1991.

Alinhando com o ocidente, desligaram-se de países com estreitas relações com a URSS, como Cuba, RPDC (Coreia do Norte), Vietnã, Afeganistão (então tendo em vista o socialismo) originando lhes grandes dificuldades, tendo ainda de fazer frente a acrescidas formas de agressão, sanções, ingerências, por parte do imperialismo. A superioridade do socialismo verifica-se pela recuperação económica e social dos países que prosseguiram nessa via.

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Não é possível falar da URSS sem abordar o tema do “stalinismo”. Os preconceitos e mentiras antissocialistas fazem uso do álibi do “stalinismo”, para desviar a discussão sobre o socialismo e as formas de transição em cada país. Por este motivo não pode ser considerado um tabu, deixando o campo ideológico aberto à propaganda imperialista.

Quando Stalin se tornou o dirigente máximo da recém criada URSS, o que existia era um país esgotado pela Grande Guerra e destruído pela intervenção imperialista – “guerra civil”. Um país rodeado de poderosos inimigos, agrupando os principais países capitalista.

A URSS enfrentava uma luta de vida ou de morte, e não em sentido figurado, como os seus próprios cidadãos sentiram nos massacres da “guerra civil” e dos nazis. Foram as transformações socialistas que permitiram, num curto espaço de tempo a construção de um estado multinacional, sem racismo, sem desemprego, sem pobreza, sem crises e cujo patriotismo ficou demonstrado na 2ª Guerra Mundial e no referendo aquando da sua liquidação. A URSS tornou-se uma superpotência mundial e inspiração para muitos povos. O seu povo tinha um alto nível de vida, educação e qualificação.

Em 1913, 70% da população era analfabeta; em 1940 não era apenas alfabetizada, era uma das mais educadas do mundo. A quantidade de conhecimentos em matemática, física, biologia que os estudantes soviéticos recebiam antes da graduação numa escola pública, era muito superior ao estipulado para a entrada nas mais prestigiadas universidades do ocidente.

A dureza dos primeiros tempos da União Soviética, está expressa nas palavras de Stalin em 1935: “recebemos como herança um país tecnologicamente atrasado, empobrecido e arruinado pela guerra, com população sem literacia (…) A tarefa é transformar este pais com uma indústria moderna e agricultura mecanizada. Ou resolvemos esta tarefa rapidamente e fortalecemos o socialismo ou perderemos a independência e tornar-nos-emos objeto dos jogos imperialistas”.

Foi uma imensa tarefa, feita com sacrifícios, mas também com grandes conquistas sociais. Não apenas com empresas do Estado, mas também com mais de cem mil cooperativas fora do setor agrícola. Os fatos posteriores deram-lhe razão, derrotando à agressão nazista, a mais poderosa máquina militar do seu tempo.

A URSS é descrita numa caricatura tenebrosa completamente fora da realidade. A abertura dos arquivos soviéticos deitou por terra as mentiras baseadas na tese de um poder diabólico com fantasiosos números historicamente impossíveis, de pessoas perseguidas e mortas.

Quanto aos 10, ou mesmo 100 milhões, de mortes do “comunismo” são uma ignominiosa fábula. Houve de fato 100 milhões de mortes, mas são imputáveis ao capitalismo, pelo fascismo, colonialismo e imperialismo. Pelo contrário, deve-se aos comunistas uma imensa contribuição para a emancipação humana e o anticolonialismo.

No Pravda, de 24-31 de Outubro de 1997, é apresentado o número total dos condenados entre 1921-1954: 3,8 milhões, a grande maioria presos de delito comum. O número das sentenças de morte cerca de 643 mil. A média de presos no sistema penal soviético foi de 1,7 milhões. Isto num país que sofreu duas guerras de extermínio, constantemente ameaçado do exterior, sujeito a sabotagem organizada. Houve atropelos à legalidade revolucionária, inocentes que sofreram? Isso também é verdade, e a responsabilidade cabe, entre outros, a Stal. (Viktor Kochemiako, A Verdade sobre Stálin, pág. 12, hist-socialismo.blogs.sapo.pt/3002.html)

O número de presos no EUA é o mais elevado no mundo, incluindo per capita desde há décadas. Nos EUA há 2,3 milhões de pessoas presas, de longe o líder mundial em colocar o povo na cadeia, além das terríveis condições das prisões, com 1 176 pessoas mortas pela polícia, em 2022, 8 972 desde 2015.

Sucessivas sondagens desde 2012, têm mostrado uma permanente admiração por Estaline como uma das figuras mais importantes da História Russa. O que a propaganda afirmou ser o “aniquilamento de 40 mil comandantes e comissários políticos entre 1937-40” foi a destituição de 36.898 de oficiais, por condições de idade, disciplina, delitos morais e falta de confiança política. Ao todo foram presos 9 579 oficiais, sendo criada uma Comissão para analisar reclamações, pela qual foram reintegrados 12 461 comandantes, e libertados mais de 1 500 presos. No total houve 70 condenações à morte”.

  1. Rokossovski, foi um dos oficiais que esteve preso. Foi reintegrado no reexame dos processos, e mais tarde promovido a Marechal. Estaline perguntou-lhe certa vez: “Ainda se sente humilhado por ter sofrido com as repressões e ter passado algum tempo na prisão?” Rokossovski respondeu-lhe: “Nunca deixei de acreditar no Partido. Os tempos eram assim”.

No Pequeno Dicionário Filosófico, (Ed. Progresso, Moscovo, 1959, pág. 542 a 545), Estaline” é considerado “destacado dirigente do movimento revolucionário russo e internacional”, “que após a “morte de Lenine conduziu o povo soviético pelo caminho da construção do socialismo”. “Nas suas obras teóricas desenvolveu de maneira admirável a teoria marxista-leninista”. Contudo “na sua ação cometeu sérios erros. Limitações da democracia interna, inevitáveis nas condições de luta contra o inimigo de classe e mais tarde contra os invasores germano fascistas, foram-se transformando em norma sendo cometidas arbitrariedades e graves violações da legalidade socialista”. Apesar disto “o Partido Comunista e o povo soviético recordarão sempre Estaline e lhe farão justiça”. “A cruzada dos círculos reacionários imperialistas contra o chamado “estalinismo”, por eles inventado, é na realidade uma cruzada contra o movimento operário revolucionário e na sua essência uma forma de luta contra as teses básicas do marxismo-leninismo”.

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O socialismo ou mais exatamente o processo de construção do socialismo, não é a sociedade perfeita de que os puritanos de esquerda fazem alarde. Na construção do socialismo, permanecem contradições mesmo antagónicas, devido à presença de camadas capitalistas ou seduzidas pelo capitalismo e o imperialismo.

Para a esquerda “bem intencionada” e puritana a URSS teria de ser um paraíso sem defeitos, sem erros, isto num mundo que agia para a sua destruição. É pena que os critérios de avaliação que aplicam ao socialismo não sejam aplicados ao capitalismo e aos crimes cometidos ou apoiados pelo ocidente. Sabem pôr nomes aos dirigentes soviéticos e outros para denegrir o socialismo, mas não põem nomes aos responsáveis pelos crimes, que apagam da memória, cometidos na Índia, China, Coreia, Vietname e Sudoeste Asiático, Médio Oriente, África, etc.

Outros concebem um socialismo de “solidariedade”. O imperialismo milagrosamente seria substituído pela “solidariedade internacional”, na luta contra a fome e as alterações climáticas (!), etc. A solidariedade é para estes “anticapitalistas”, o substituto da organização unitária do proletariado e da luta de classes (de que a oligarquia não prescinde…). O imperialismo agradece…

Trata-se de “substituir a dialética marxista por um idealismo subjetivo” (Lenine). Forma de obscurecer que os avanços sociais nunca foram o resultado da generosidade do capital, mas de duras lutas de sindicatos de classe, onde a liderança comunista era decisiva. Os avanços obtidos pelos países socialistas e o prestígio da União Soviética, também contribuíram para o progresso social nos outros países, obrigando as forças do capital a cedências.

O fim da União Soviética, deixou no ocidente o caminho aberto a todos os oportunismos, com a social-democracia rendida às teses antissociais da financeirização e globalização neoliberal e a esquerda dita radical, formal ou informalmente antimarxista, a apresentar-se como bem comportada perante o imperialismo e os seus agentes da UE, deitando fora o legado soviético.

Foi graças a este legado que a Rússia recuperou do descalabro em que tinha caído graças aos “reformistas” pró ocidentais. A herança soviética industrial e militar e a consciência nacional, permitiram preservar o futuro. Tornando-se uma evidência para todo o mundo, de como as coisas correm mal seguindo as prescrições norte-americanas. Hoje os dissidentes soviéticos estão totalmente desacreditados, limitavam-se a dizer o que era esperado deles: a supremacia dos EUA.

Pode perguntar-se: por que não aconteceu na China o mesmo que na URSS, aquando das reformas de Deng Xiau Ping? A primeira razão é que Deng garantiu o papel dirigente do Partido Comunista na direção do Estado. Democracia, não significava multipartidarismo, mas que os funcionários do partido deviam estar sob controlo democrático.

Segundo Alastair Crooke foi o presidente Xi quem mais influenciou Putin. Xi, no seu texto: “Por que a União Soviética se desintegrou?”, critica o repúdio pela história do PCUS, por Lenine e Estaline, que “tinha por objetivo semear o caos na ideologia soviética, envolvendo-se no niilismo histórico”.

Para que na China isso acontecesse, o governo chinês teria que deixar que líderes empresariais se envolvessem na política do país, o que não é o caso, como vimos quando Jack Ma (grande empresário chinês) foi chamado à ordem, dizendo-lhe que “se ele quer fazer política, deve juntar-se ao Partido Comunista e se quer fazer negócios, não deve intrometer-se na política”. (comentário de The saker em Les États-Unis déclarent “c’est la guerre” )

Jin Canrong, professor da Universidade Renmin, Pekin, esclarece: Há na China, um grupo de intelectuais de direita que ainda sonha ingressar no ocidente. Mas mesmo que demolissem a Cidade Proibida e construíssem a Casa Branca em seu lugar, não conseguiriam entrar. Se entrassem, seriam os servos que guardaram o palácio, como no Japão e na Coreia do Sul.” (O mundo entrou num “mundo de grandes disputas”, em tradução automática)

Notas
– Acerca dos pontos 1 e 2 ver: Do fim da URSS à atual russofobia, Dimitri Rogozinresistir.info/v_carvalho/rogozin_resenha_1.html,   resistir.info/v_carvalho/rogozin_resenha_2.html,   e Do capitalismo para o socialismo, um processo de transiçãoresistir.info/v_carvalho/do_capitalismo_para_o_socialismo.html
– Acerca do pontos 3: Problemas económicos do socialismo na URSS, o autor e a obra resistir.info/v_carvalho/pes_parte_1.html e resistir.info/v_carvalho/pes_parte_2.html

Este artigo encontra-se em resistir.info

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