César Fonseca
O racha inevitável que vai se aprofundando na economia e sociedade americana coloca, de um lado, os financistas, rentistas, os especuladores, defensores da economia de guerra, mas, de outro, os pregadores da guerra tarifária, como arma para fortalecer a industrialização nacional, em debacle diante da competitividade e produtividade chinesa.
A semana terminou em empate entre Musk e Trump, porque o racha entre eles, se não for contido, pode levar os Estados Unidos à guerra civil.
O presidente Donald Trump colocou o poderoso empresário Elon Musk, financiador de sua candidatura, com a plataforma de desmonte do capitalismo liberal americano.
Musk prometeu, no seu cargo estratégico, cortar mais de um 1 trilhão de dólares de gasto público em nome do combate à financeirização econômica, responsável por produzir dívida pública de 37 trilhões de dólares e despesas anuais de 9 bilhões de dólares em juros e amortizações geradas pelo endividamento fiscal.
Eis o preço que cobra a economia de guerra imperialista, especulativa, bancando bases militares nos cinco continentes, desde o pós-segunda mundial, para bancar a hegemonia do dólar.
O deep state, o estado profundo, bancados pelo armamentismo, não suportou a cruzada fiscal restritiva de Trump e Musk em forma de corte de gastos públicos inflacionários – escondidos na barriga da dívida – sustentado por altas taxas de juros especulativas.
As pressões dos falcões da guerra romperam a aliança Trump-Musk, implodida em forma de acusações recíprocas e jogaram o estado industrial militar norte-americano na sua mais profunda divisão política.
O conflito militar na Califórnia, estado federado mais poderoso dos Estados Unidos, dominado pelos democratas, senhores da guerra imperialista, braço direito do financismo rentista, mostrou que este tem no conflito bélico a alavanca do imperialismo americano.
FINANCEIRIZAÇÃO EM COLAPSO
Trump, acuado pelos poderes da guerra, bancados pela financeirização econômica imperial, deu passo atrás, despachando Musk e seu discurso, falsamente anti-neoliberal, visto que deseja colocar o estado americano na corrida espacial, comandada por suas empresas, clientes do deep state, expresso no Pentágono, onde está o poder real do império.
Inicialmente, Trump, acusado por Musk de escândalos sexuais, que prometeu denunciar e extremar, chegou a falar em deportar o empresário sul-africano, estadunidense, detonando suas empresas(Space-X e Tesla), para, em seguida, afirmar que as relações entre ambos não chegaram ao ponto de ruptura.
Jogaram água fria na fervura, mas, até quando?
O fato é que Musk tem a força do capitalismo rentista e de guerra por trás, que coloca a economia americana em marcha, no seu processo de sustentar hegemonia global do dólar.
Por isso, o poderoso empresário se vê forte o suficiente para ir chacoalhando o poder de Trump, na da Casa Branca, aprofundando a divisão política que se verifica no Capitólio entre financistas especuladores e liberais pró-guerra tarifária impulsionada por Trump.
Musk, a favor dos gastos com guerra espacial, sintoniza-se com o deep state e seu propósito de continuar multiplicando capital por meio do financismo, já que não acreditam na escalada tarifária de Trump para vencer a China por meio do aumento da competitividade capitalista por meio do aumento da produtividade liberal.
Quem triunfará nessa escalada: Trump, que contraria o deep state, ou Musk, aliado aos falcões da guerra?
Ou Trump, para não correr perigo de morte, se contrariar os donos da guerra, pode mudar de rumo e acelerar a cruzada imperialista, a força natural do capitalismo americano de ir escalando guerras como única saída do imperialismo?
O fato é que, por enquanto, Trump, com seu discurso favorável à redução do déficit comercial por meio da desvalorização do dólar, como arma para fortalecer a industrialização americana, vai, mesmo que de forma precária, acumulando pontos, enquanto os financistas temem pelo futuro próximo da crescente instabilidade gerada pela dívida pública especulativa.
DESDOLARIZAÇÃO SE ACELERA
O fantástico endividamento fiscal americano já leva à corrida contra o dólar, aprofundando a divisão social nos Estados Unidos entre os desenvolvimentistas e os especuladores de Wall Street, defensores do discurso de Musk.
O capitalismo americano, no seu afã expansionista, avança na economia de guerra espacial, única capaz de sustentar a multiplicação do capitalismo rentista que, no entanto, ameaça o dólar, se a hiperinflação, que se verifica na barriga da dívida pública, entrar em convulsão.
Enquanto isso, vigoram as aparências sobre o que farão os juízes da República dos Estados Unidos, depois da acusação de Elon Musk a Donald Trump de que ele patrocina escândalos sexuais e muitos outros que até agora estavam guardados nos segredos de uma democracia que parece desmoronar-se?
Seria ou não a forma de fuga dos problemas reais, empurrando a realidade na clássica fuga para frente?
Os juízes americanos irão ou não convocar os dois personagens que se auto acusam: um, que patrocina, no cargo, algo explosivo, que dá abertura aos discursos moralistas de direita fascista; o outro, igualmente, fascista, que sofre a acusação de ser, completamente, louco.
E, agora, senhores juízes: vossas excelências, no comando da justiça de um império que se degrada, fará valer a lei claramente confrontada com denúncias que ficarão sem ser esclarecidas, ou irão até o fundo dos acontecimentos para mostrar a essência do império, sua gênese nazi-fascista fantasiada de democracia?