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quinta-feira, 28 março, 2024

Demonstrações financeiras em dólares do 1º trimestre mostram os problemas da Petrobrás

por  Claudio da Costa Oliveira

 A lógica é preservar o caixa e acentuar o desmonte

INTRODUÇÃO

Recentemente publiquei artigo sobre os resultados da Petrobrás no 1º trimestre de 2020 (não auditados).

http://blognarua.blog.br/?page_id=632

Naquele momento a empresa só havia publicado seus números em reais e me limitei a analisar o que mais chamava a atenção de todos: as absurdas reduções dos valores recuperáveis dos ativos (impairments) apropriadas no período.

Nesta quinta-feira (21 de maio) a Companhia publicou seus resultados apurados em dólares que, na minha opinião, facilita o entendimento e melhora a possibilidade de comparativos com dados históricos.

Sendo assim procurei analisar os principais aspectos.

SITUAÇÃO ECONÔMICA

O prejuízo de US$ 9,7 bilhões no trimestre, ante um lucro de US$ 2 bilhões no 4º trimestre de 2019, foi causado principalmente por impairments de US$ 13,4 bilhões (US$ 2,2 bilhões no 4º tri/2019). Os impairments causaram um efeito positivo de US$ 3,3 bilhões no Imposto de Renda e na Contribuição Social diferidos. Entretanto estes efeitos (impairments e impostos) são efêmeros, pois logo serão revertidos, em parte ou no todo, com a adoção de novas premissas.

A receita caiu 14% em relação ao 4º tri/2019, somando US$ 17,1 bilhões, apesar do significativo aumento do volume exportado, causado pela realização de exportações que ficaram em andamento (em estoque) no final de 2019. A queda de 21% no preço do Brent superou os aspectos positivos.

O Lucro Bruto caiu para US$ 7,3 bilhões, ante US$ 9 bilhões no 4º tri/2019.

Outro aspecto relevante foi o Resultado Financeiro negativo em US$ 4,6 bilhões, ante US$ 1,6 bilhões no 4º tri/2019, causado por variações cambiais, apesar da adoção de Hedge Accounting pela Companhia.

A expectativa para o 2º tri/2020 e para o restante do exercício é de queda de receita e do lucro bruto, em função de redução no preço do Brent (US$ 50 no 1º tri) e no consumo de derivados no mercado interno.

O prejuízo acumulado poderá ser reduzido com estornos de impairments, ou seja, ajustando as perdas futuras declaradas de modo exagerado nesse 1º trimestre.

SITUAÇÃO FINANCEIRA

Sendo que os impairments são registros econômicos/contábeis, que não afetam a situação financeira, sob este aspecto (financeiro) a companhia apresentou melhoras em relação ao 4º tri/2019.

Como sempre, a empresa mostrou sua capacidade de geração de caixa, com a Geração Operacional de Caixa alcançando US$ 7,8 bilhões no 1º tri/2020, ligeiramente superior aos US$ 7,5 bilhões obtidos no 4º tri/2019.

A Liquidez Corrente ( divisão do ativo corrente pelo passivo corrente ) melhorou bastante chegando a 1,21, ante 0,97 no 4º tri/2019. Mesmo assim continua longe dos registros históricos da Petrobrás sempre acima de 1,5.

O saldo de caixa mais do que dobrou saindo de US$ 7,4 bilhões no 4º tri/2019 para US$ 15,5 bilhões no 1º tri/2020, devido basicamente a uma captação de US$ 10 bilhões feita pela empresa no período.
Mas a expectativa para o 2º tri/2020 e o restante do exercício é de queda da Geração Operacional de Caixa causada pela redução no preço do Brent e no consumo interno de derivados.

SITUAÇÃO PATRIMONIAL

O Patrimônio Líquido da Petrobrás não registra os valores de campos do pré-sal adquiridos pela Companhia em regime de partilha, como Libra (2013) e o recente excedente da cessão onerosa (2019). Isto faz com que o valor patrimonial das ações da companhia esteja completamente defasado em relação à realidade. Uma nota explicativa com a estimativa dos valores deveria ser apresentada pela empresa.

Os desembolsos com investimentos somaram apenas US$ 1,9 bilhões no 1º tri/2020 contra US$ 3,2 bilhões ( fora bônus do leilão do excedente) no 4º tri de 2019, muito aquém das possibilidades e das necessidades de uma empresa como a Petrobrás

CONCLUSÃO

O exercício de 2020 será negativo para as Petrobrás sob diversos aspectos. Infelizmente, aproveitando-se desta situação, a administração da empresa vem, injustificavelmente, tomando atitudes agressivas em relação aos seus próprios funcionários e à sociedade brasileira de modo geral.

Foi implantada uma política de RH baseada na coação, no assédio e no terrorismo sem paralelo na história da empresa.

Constantes ataques às conquistas dos trabalhadores, como no caso da AMS, mostrando a incapacidade administrativa da própria empresa.

As expressivas reduções dos investimentos em pesquisa feitos nos últimos anos não foram suficientes, para a administração. Agora querem eliminar tudo como mostra o artigo “A lógica do caixa e do desmonte” copiado abaixo, que ressalta: “Para preservar seu caixa diante da crise deflagrada pela pandemia da convid-19, a Petrobrás decidiu suspender parcelas nos próximos três meses de diversos projetos em andamento em 247 laboratórios nas universidades conveniadas”

https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/opiniao/2020/05/21/internas_opiniao,857040/artigo-a-logica-do-caixa-e-o-desmonte.shtml

A economia mundial passa por fortes modificações que logo chegarão no Brasil. As políticas neoliberais de globalização podem chegar ao fim . O Brasil tende a incrementar seu alinhamento com a economia chinesa.

Tais modificações afetarão a Petrobrás. Esperamos que venham logo.

Cláudio da Costa Oliveira
Economista da Petrobrás aposentado

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