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quinta-feira, 28 março, 2024

DELENDA EST LULA DA SILVA

Pedro Augusto Pinho*

Há, nas maquinações do capital, mais arrogância e virulência do que argumentos  e inteligência. Ele compra armas e consciências e, assim, vai expandindo sua dominação. É, e sempre foi, um capital apátrida, que se esconde atrás de governos nacionais, ideologias e “verdades eternas” para melhor se assenhorear dos ganhos do trabalho e da exploração dos recursos naturais.

Hoje este capital é o financeiro. Já foi fundiário, mercantil e industrial mas, desde os anos 1990, impera o capital financeiro, ou a banca, sobre a humanidade.

Muitos à esquerda do pensamento político e econômico – porque à direita prevalece amplamente a defesa do “status quo” ou do poder burguês e conservador em exercício – muitos, repito, estudaram questões importantes que serviram para clarificar relações complexas, como as da apropriação da força do trabalho e a evolução tecnológica, das relações de trocas assimétricas, das desigualdades regionais, econômicas e culturais entre tantas.

Dos mais brilhantes pensadores brasileiros está Ruy Mauro Marini, que, no resumo de Carlos Eduardo Martins, assim sintetiza a situação da América Latina para o século XXI:

“(a) o abandono da burguesia latino-americana de qualquer pretensão industrialista e soberana em favor da financeirização e do modelo exportador centrado na reprimarização, nas maquiladoras mexicanas, em nichos de mercado agroindustriais ou voltados para a geração de partes e componentes de menor intensidade tecnológica;

(b) a forte resistência às experiências nacionais-populares promovidas pela ascensão das esquerdas e as tentativas de desestabilizá-las, bem como as reformas sociais e políticas de inclusão social, impulsionadas pelos governos de centro-esquerda na América do Sul (Venezuela, Equador e Bolívia);

(c) a restauração conservadora e neoliberal realizada através de golpes de Estado, como no Brasil, Paraguai e Honduras, ou por apertadas vitórias eleitorais, como na Argentina, cujo objetivo é destruir direitos sociais, restabelecer as elevadas taxas de superexploração, privatizar o patrimônio público, e aumentar a desigualdade e as taxas de pobreza

(d) o restabelecimento do subimperialismo, como variável chave na política externa brasileira, com a pretensão dos governos petistas de impulsionarem as cadeias produtivas industriais brasileiras, sem inseri-las de maneira efetiva em marcos institucionais de integração regional cooperativos que lhes planificassem; e

(e) a forte ampliação dos níveis de desigualdade e a elevação dos níveis de pobreza nos Estados Unidos da América (EUA), a partir da combinação entre finaceirização e deslocalização produtiva para a China e o México, ou na União Europeia, a partir da introdução do euro e da combinação na Alemanha entre alta tecnologia e baixos salários, oriundos da absorção da força de trabalho do Leste, para destruir e reverter a lenta convergência do nível de renda que se realizava entre a Europa mediterrânea ou latina e o norte europeu” (extraído do Blog da Boitempo, em 13/07/2017).

Onde se insere Lula, neste quadro?

Todos sabemos que a dívida é arma da banca. Em torno dela se desenvolve toda uma loucura econômica, como superavit primário, ajustes fiscais, tripés e outras baboseiras. Subordinam a alimentação, a sobrevivência humana, aos estéreis rendimentos financeiros: os juros. Fome? Tudo bem. Atrasar pagamentos de agiotas, jamais!

Foram oito anos que, surpreendentemente, o Brasil se transformou. De um país com dívida externa – sujeita a pressões de credores estrangeiros e mudanças cambiais, conforme geopolíticas e necessidades domésticas, de outros países – o Brasil passou a ter, unicamente, dívida interna. Embora Lula deixasse que a banca continuasse a manter seu controle sob a dívida e os juros, houve sensível melhora, comparando com os oito anos de FHC.

Lula recebe o governo, em 1º de janeiro de 2003, com a Selic em 24,90% a.a. e deixa, em 31/12/2011, a 10,90% a.a. A taxa média de juros com FHC (oito anos)  foi 26,6% a.a., nos oito anos de Lula, 13,7% a.a. Para inflações médias de 9,3% e 8,6%, cada período FHC, tivemos 6,4% e 5,1%, nos dois períodos de Lula. Vê-se, portanto, ganhos muito maiores da banca com Fernando Cardoso do que com Lula da Silva.

Nos itens anteriores fica claro a diferença de um governo inteiramente dominado pela banca, de outro onde a banca manteve seu ganho, mas em menores valores. Não está explícito, nas sumas de Ruy Marini, a importante questão educacional; uma das importantes bases para construção da cidadania. Nos oito anos de FHC nenhuma escola técnica nem universidade foi criada. Nos dois mandatos de Lula foram 214 escolas e 173 novos campus universitários – 18 universidades federais. Para se ter a dimensão desses números, de Nilo Peçanha, fundador da primeira escola técnica no Brasil, até o fim do governo FHC, apena 140 escolas técnicas foram criadas pelo governo federal.

Desnecessário, portanto, afirmar que o sistema financeiro declarou guerra a Lula e, com o domínio exercido pela banca nos governos George W. Bush e Barack Obama, os EUA foram colocados a serviço do golpe.

A burguesia brasileira formou-se na exploração de escravos e no bacharelismo  da defesa de seus interesses. Tancredo Neves, quando líder da maioria na Câmara dos Deputados, falou: “Nossa crise é a crise de um povo que se despede de estruturas que se exauriram e que, por isso mesmo, por obsoletas, já não correspondem aos reclamos da consciência nacional” (em Osny Duarte Pereira, Nova República: Constituição Nova, Philobiblion, RJ, 1985). O Brasil iniciava então o período de governos militares. Nem eles, com a força das armas e do autoritarismo, venceram a tradição conservadora e retrógrada do direito brasileiro. Portanto, não foi outra a direção das forças estrangeiras para derrubar o projeto de governo que reduzia os ganhos da banca.

Desde o início do Governo Lula, com o midiático julgamento do mensalão do PT – o único mensalão que sofreu punições judiciárias – começou a campanha da imprensa, associada ao poder judiciário, para tirar do poder um projeto de construção do Brasil diferente daquele desejado pela banca. Todos os níveis do judiciário – o poder sem voto – e do Ministério Público foram treinados e aquinhoados pelos EUA. O resultado vê-se claramente hoje, após o golpe de 2016. O Brasil à deriva, sem comando, sem instituições que o povo confie, com um judiciário que é fonte de insegurança jurídica (!).

O pretexto da luta contra a corrupção não mais convence quem tenha dois neurônios no cérebro. Foi mais uma farsa da mídia familiar e hegemônica. E o agente Moro termina sua obra condenando Lula por crime inexistente, em processo que confessa não ter lido. A galhofa, em tão degradante situação, é a conclusão possível. Delenda est Lula da Silva e a pátria brasileira.

*Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado

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