Com o objetivo de debater a nova conjuntura internacional e ainda a cooperação entre China e América Latina, o Fórum de Mesa-Redonda China-Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) ressaltou a importância de o Sul Global aproveitar oportunidades de desenvolvimento diante da nova onda de transformação tecnológica. Na abertura, o jornalista e editor responsável pelo portal Brasil 247, Leonardo Attuch, ressaltou que o encontro ocorre às vésperas da Cúpula do BRICS, entre os dias 6 e 7 de julho no Rio de Janeiro, em meio às tensões crescentes entre Irã e Israel no Oriente Médio.
“Este fórum também ocorre às vésperas da Cúpula do BRICS, que será realizada aqui mesmo no Rio de Janeiro, e que terá o
desafio histórico de oferecer uma resposta clara, unificada à
agressão sofrida por um dos seus membros, o Irã. É importante que a carta final da Cúpula do BRICS envie uma mensagem firme em defesa da paz e do multilateralismo”, ressaltou. No discurso, Attuch enfatizou ainda que o grupo precisa “construir novos mecanismos de cooperação em áreas como infraestrutura financeira, meios de pagamento, inovação tecnológica, segurança alimentar e também [novas] parcerias entre os veículos de comunicação”.
‘Brasil e China estão juntos no BRICS desde o início’, diz Amorim
Em uma mensagem de vídeo encaminhada ao fórum, Celso Amorim, ex-chanceler e assessor especial da presidência do Brasil para assuntos internacionais, também enfatizou o papel do BRICS como
plataforma de defesa dos interesses do Sul Global, lembrando ainda que Brasil e China estão juntos no grupo desde o início. “Inclusive lançamos no ano passado com os chineses um grupo de amigos da paz, cujo objetivo foi favorecer uma solução duradoura para o
conflito entre Rússia e Ucrânia, e uma solução baseada em princípios internacionais e nas preocupações legítimas de ambos os lados”, disse.
O assessor especial também reforçou a importância de a América Latina e o Caribe adotarem um posicionamento mais claro em meio ao rearranjo das forças globais. “Nossa aspiração deve ser manter a autonomia estratégica da região, contribuindo para a construção de uma ordem multipolar, em que a cooperação prevalece sobre a competição e o conflito”, afirmou.
Amorim lembrou que a China é o segundo maior parceiro comercial da região, com um fluxo de recursos de mais de US$ 500 bilhões (R$ 2,7 trilhões), e um importante indutor de desenvolvimento econômico, ao contrário das relações com as potências dos séculos XIX e XX que marcaram a América Latina, em que a tônica era “dividir para conquistar”, segundo o diplomata.
“Ao contrário do que ocorreu no passado, a parceria entre a China e a América Latina tem potencial para contribuir para a nossa integração. Pequim pode se tornar a nossa grande aliada na implementação do programa de rotas da América do Sul, ou rota sul-americana, que almeja conectar toda a América do Sul por meio de rodovias, ferrovias, hidrovias, portos e aeroportos e linhas de transmissão.”
‘Melhor momento histórico’
Durante o discurso em vídeo, Amorim também comentou a histórica parceria entre Brasil e China, que se intensificou tanto nos últimos anos a ponto de tornar Pequim o principal parceiro comercial do país. Para o assessor especial, a chave para diversificar o intercâmbio comercial é também apostar cada vez mais na integração de cadeias produtivas, e citou como exemplo a cooperação espacial.
“Ainda na década de 1980,
Brasil e China foram os primeiros países do Sul Global a lançarem um programa espacial comum, dedicado ao desenvolvimento de satélites. Eu tive a honra de estar nesse programa, e durante muitos anos foi o maior exemplo de
cooperação entre nações em desenvolvimento na área de ciência avançada. Temos dois novos satélites em produção e em breve poderemos compartilhar dados com todos os países parceiros”, resumiu.
Já o presidente e editor-chefe do Global Times, um dos principais jornais da China, Fan Zhengwei, acrescentou no evento que as relações entre Brasil e China estão no seu melhor momento da história.
“Diante de um cenário internacional em constante mudança, sob a liderança estratégica dos chefes de Estado dos dois países, China e Brasil uniram forças para inaugurar uma nova fase dourada na relação bilateral. Há um ditado chinês que diz: ‘Quanto mais se caminha junto, mais próximos se tornam os amigos’. Hoje estamos reunidos sob o mesmo teto, lutando juntos por um objetivo comum.”