Evaristo Sá/AFP
Paulo Victor Ribeiro/The Intercept Brasil
“A mídia fala em tantas pessoas recuperadas. Mas esse ‘recuperadas’ deveria vir com asterisco”. A frase é de Rodrigo Vitorino, um dos personagens da videorreportagem que publicamos no Intercept esta semana sobre as sequelas da covid-19, assinada por mim, Paulo Victor Ribeiro, e pela Ana Paula Carvalho. Assim como Vitorino, há uma legião de brasileiros que sofre com os efeitos do vírus, muito tempo depois de ter se livrado dele.
Uma pesquisa do Hospital das Clínicas mostra que cerca de 70% dos pacientes que tiveram covid-19 apresentam sequelas, um ano após a alta hospitalar. São sintomas como fraqueza, fadiga e falta de ar, entre outros problemas. Há relatos de ansiedade, falta de memória, perda de vocabulário e paralisia.
Segundo dados do Ministério da Saúde, em 15 de setembro o Brasil somava cerca de 20 milhões de “casos recuperados” da covid. Mas os dados não levam em consideração o estrago causado na vida de pessoas como Vitorino, que teve uma sequela neurológica nas pernas, a polineuropatia periférica grave, que comprometeu seus movimentos e demanda fisioterapia intensiva.
Assim como as sequelas físicas e neurológicas que afligem os pacientes que o governo carimba como “curados”, mas ainda estão em recuperação, o Brasil precisará lidar com as sequelas da política assassina de Bolsonaro para muito além dos seus quatro anos de governo. Serão gerações e gerações afetadas pelos desmontes — os mais severos, certamente, na economia, no meio ambiente, na cultura e na educação. Na saúde, o resultado de uma política desastrosa na pandemia cobra um preço muito alto: já são quase 600 mil vidas interrompidas — e muitas outras destruídas.
Depois da publicação do vídeo, muitos usuários nos contaram sobre sua experiência dramática de ter sobrevivido à covid, e sua luta para enfrentar os problemas que ficam:
“Destruiu meu cognitivo totalmente. Tenho grandes lapsos de memória. Esqueço muito. Se eu não anotar algo, já era. Sinto medo demais, porque sou professora.” Maria Regina
“Eu tive covid e até hoje não consigo realizar minhas atividades, dor em todo corpo, cansaço extremo, tristeza e melancolia, dores de cabeça constantes, não consigo trabalhar, sou autônoma e estou vivendo da ajuda dos outros”. Sofia Oliveira
A CPI da Covid vai encaminhar ao Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia, mais uma denúncia contra o ex-capitão, por crime contra a humanidade. Nossa matéria sobre as sequelas da covid só reforça que Bolsonaro precisa, sim, ser acionado em Haia. Nós vamos apoiar essa denúncia fazendo nosso jornalismo independente e comprometido a enfrentar o poder. Jornalismo que só existe graças ao apoio de milhares de trabalhadores e trabalhadoras como você.
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