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sexta-feira, 19 abril, 2024

Cultura e Arte: os antídotos para um ano sombrio

Um bom ano do cinema com filmes nacionais de elevado nível, grandes produções estrangeiras, ‘docs’ políticos e excelentes diretores que espelham um mundo em transformação

Créditos da foto: (Arte/Carta Maior)
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O espectro de uma nova ditadura ameaçada pelo atual presidente da República. A diversidade de gênero, cores de pele, de classe, de religião e cultura, raízes da nossa rica civilização – perseguida no Brasil. No mundo, um panorama dramático. Crianças refugiadas num campo da Grécia onde se auto-mutilam ou se suicidam tal o sofrimento infligido pelas desgraças que vivem.

Pássaros de Verão

Da América Latina, um filme colombiano se apresenta em sua beleza extraordinária. Chama-se Pássaros de verão. No idioma espanhol, outro cartaz foi comentado por Carta Maior, produzido por Pedro Almodóvar, intitulado Todos já sabem.

 Todos já sabem

Em 2019, presenciou-se por um lado a desconstrução do núcleo famíliar por conta da recessão econômica. Originada e pressionada pelas cìnicamente batizadas de reformas, as cruéis revisões em andamento no Brasil, a família, como no filme exemplar do célebre diretor japonês Hirokazu Kore-eda, vai se deteriorando. A contraparte é a hipócrita imagem familiar de mentira, fora do álbum de fotografias, vendida pelo avanço da religião.

Assunto de família

Os discriminados que vivem nas favelas de Tóquio, é o desconcertante Assunto de família, do festejado Hirokazu Kore-eda, Palma de Ouro em Cannes, ano passado, e cartaz no Brasil durante mais de um mês. Na resenha: “Numa das quadras mais sombrias da história deste país (N.R. o Brasil), quando o jargão Deus, Pátria e Família inesperadamente voltou a ecoar em uma máquina do tempo e nos remete aos idos dos anos 40, o filme do cineasta japonês Hirokazu Kore-eda, Assunto de família (Shoplifters), deixa platéias avançadas e público conservador no mínimo perplexos.”

(Divulgação)Assunto de família

No pacote de excelentes produções estrangeiras, o colombiano Pássaros de verão e Todos já sabem, este de Asghar Farhadi, um dos melhores cineastas iranianos. ” Pode ser visto como curioso dossiê sobre situações conhecidas de todos, porém murmuradas, porque não são comprovadas, até o momento em que os eventos se precipitam e a verdade surge – como ocorre agora, no Brasil,” é o que diz a resenha. ”A nudez do rei é revelada, as especulações, a fofoca, os murmúrios vêem a luz. É quando as provas – ah, as provas – são apresentadas.”

Todos já sabem

Já Pássaros de Verão ”combina majestosamente o modelo do filme de máfia ao western e à fábula mítico-cultural. Tem sido chamado de O Poderoso Chefão colombiano por sua complexa visão dos laços de lealdade e honra familiar, bem como pela austera administração da violência.”

Pássaros de Verão

Um dos filmes de 2019 comentados por Carta Maior em novembro passado valeu a resenha intitulada AI-5, o filme: para ver, para não esquecer e não se repetir, um dos mais acessados pelos leitores do site na sua versão em rede social. ”Com grande audiência nestes últimos dias – mais de 150 mil visualizações até este momento – está sendo divulgado no streaming  (Youtube) o documentário AI-5 – o dia que não existiu, de 57 minutos, do jornalista paulista Paulo Markun. Ele reproduz, reencenando algumas delas, diversas sequências até hoje pouco conhecidas da última sessão da Câmara dos Deputados antes da promulgação do Ato Institucional número 5.”

 AI-5 – o dia que não existiu

Outro comentário sobre filme importante, este com o tema de escolha de gênero livre, é o de Carlos Alberto Mattos sobre o documentário Bixa travesty. ”Um filme-manifesto em prol da identidade sexual plural com a mira apontada na virilha dos machos,” ele escreve. ”Nem bem homem, nem bem mulher. Nem gay, nem hetero. Nem viado, nem transgênero. A cantora e ativista Linn da Quebrada é a bixa travesty, designação apta não a definir, mas a aumentar a confusão de gêneros.”

 Bixa travesty

Sobre os exilados da sua terra, o filme libanês da respeitada cineasta Nadine Labaki, Cafarnaum, foi um grande cartaz deste ano lembrado em CMUm menino que quase não existe é a resenha: ”Uma história de privações, raiva e alguma ternura”, Cafarnaum (que significa caos) foi Premio do Júri em Cannes 2018. Pequena grande obra prima.

Cafarnaum

Em Era uma vez em Hollywood, de Quentin Tarantino, o diretor, como é a sua especialidade, não administra a violência com austeridade. Mas ele revisita com talento a Los Angeles de 1969, as avenidas repletas de cinemas funcionando dia e noite, a indústria de filmes ainda trabalhando a pleno vapor, e o ano em que os hippies perderam sua inocência com o brutal assassinato da mulher de Roman Polanski, Sharon Tate e um grupo de amigos da atriz, por Charles Manson e sua família hippie. Um trecho da resenha, Era uma vez uma época vibrante: ” Este é o nono filme dirigido por esse pesquisador de cinema, apaixonado por cinema, historiador do cinema, roteirista, escritor, produtor, ator e diretor de filmes, o penúltimo que, diz ele, vai dirigir antes de se aposentar.”

 Era uma vez em Hollywood

Já quase terminando o ano, Martin Scorsese chegou com a força do seu cinema a bordo de O irlandês onde pela primeira vez Robert de Niro e Al Pacino contracenam em várias sequências com diálogos consistentes e decisivos. Justifica um par de resenhas publicadas em Carta Maior: Pólvora e melancolia e Sobre a lealdade, a violência e o remorso.

 O Irlandês

Há que lembrar também os comentários de dois filmes afetuosos, realizados com o coração. Eles fornecem boas energias para enfrentar 2020. Um deles é No coração do mundo, um lindo filme brasileiro que vem de Contagem, em Minas Gerais. ”Muito mais adequado seria se No coração do mundo, o belo título de um dos melhores filmes apresentados este ano até agora, fosse No coração do Brasil. O local simbólico não seria propriamente a shangrilá almejada pelos quatro protagonistas de No coração do mundo. Ao contrário: seria um avesso do paraíso na terra, mas seria também a sinalização de que, com este filme, estamos no coração do país.”

(Divulgação)No coração do mundo

O segundo é Varda por Agnès, da estimada cineasta de Paris. A resenha é A despedida da velha senhora. O comentário sobre o comovente filme: ”Agnès Varda morreu a 29 de março último, aos 90 anos, pouco depois de dar por concluído esse filme-testamento, criado como série de TV em dois episódios. Sua última imagem, esvanecendo-se na bruma de uma de “suas” praias, foi o fecho perfeito para uma longa jornada cinema adentro. O frescor de seus filmes, presente aqui em meio a um certo didatismo da abordagem, nos enche de saudade quando a tela se apaga.”

 Varda por Agnès

Nossos votos são para a tela não se apagar em momento algum e em nenhuma circunstância; e que o ano de 2020 seja corajoso e transformador para todos.

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