© Folhapress / Photo Press / Reynesson Damasceno
Sputnik –A crise humanitária Yanomami ganhou notoriedade nacional após a recente visita do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao território indígena e uma investigação sobre genocídio foi aberta. A Sputnik Brasil ouviu especialistas para discutir o assunto e o possível envolvimento do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Crise pode agravar situação de Bolsonaro
“Os novos fatos, as novas provas, os novos indicativos de que o ex-presidente contribuiu — ou eventualmente até participou em um possível crime de genocídio, ou de perseguição contra os povos Yanomami — acabam reforçando a tese dos processos e de eventuais novos processos que possam ser apresentados perante o Tribunal Penal Internacional [TPI]. Isso pode fortalecer uma eventual condenação, mas é preciso sempre lembrar que o TPI atua de maneira subsidiária, de modo que vai caber primeiro à Justiça brasileira agir ou, não agindo, aí sim, o tribunal pode vir a se manifestar”, avalia o professor em entrevista à Sputnik Brasil.
“Se for revelada qualquer culpa por parte do ex-presidente na tragédia Yanomami, seja por ação, seja por omissão deliberada que contribua para o que nós estamos vendo hoje, o presidente pode ser responsabilizado não só civil como também criminalmente pela prática de crimes como, por exemplo, o crime de genocídio, ou, eventualmente, outros crimes que estejam previstos na legislação penal”, ressalta Corbo.
O papel do garimpo ilegal na crise Yanomami
“A partir do governo Bolsonaro essa invasão aumenta muito por conta da desestruturação de órgãos, principalmente de fiscalização ambiental. E isso começa a gerar uma crise de saúde muito maior entre os Yanomami. Primeiro, porque o garimpo abre grandes lagoas com água parada, o que vira um criadouro de malária […]. Segundo, porque a maior parte dos rios vai sendo desviada, transformada nessas lagoas que vão ficando com água barrenta, com contaminação de mercúrio — metal pesado utilizado para separar o ouro da terra”, aponta a advogada.
“A gente tem que ter em mente que esses garimpeiros, muitas vezes, estão fortemente armados, assediam sexualmente as meninas e mulheres. A gente tem muitos relatos de estupro e a gente tem indícios de que eles estejam envolvidos com grandes organizações criminosas. Então isso também começa a gerar um ambiente de muita violência e os indígenas começam a ficar sitiados dentro das suas próprias casas”, afirma.
“Os médicos, quando vão atender nos postos de saúde dentro da terra indígena, geralmente ficam cerca de 15 dias por lá, porque é uma logística difícil — tem que ir de avião, não dá para ir e voltar todo dia. E aí, associada ao posto de saúde, geralmente há quartos, cozinha e banheiro para hospedar essas equipes de saúde. Quando essas estruturas são sequestradas e passam a ser utilizadas pelos garimpeiros, os médicos não têm mais como ir fazer esse atendimento”, aponta.
Ex-ministros também podem sofrer consequências legais
“Com certeza existe uma responsabilidade tanto do ministro Ricardo Salles como da ministra Damares Alves. Primeiro, porque o ministro Ricardo Salles, como responsável pela pasta de Meio Ambiente, tinha o dever de determinar, por exemplo, operações por parte do Ibama nessa área, em articulação com outros órgãos”, diz a advogada, que aponta também a omissão da ex-ministra Damares Alves em ações de auxílio aos indígenas em meio à crise humanitária.