Por Osvaldo Rodríguez Martínez Panamá, (Prensa Latina) Mudanças na condução do confronto à Covid-19, o alarmante crescimento de infectados e falecidos pela pandemia e o aparecimento de contagiados com dengue, colocam hoje o Panamá em uma encruzilhada política e de saúde.
Uma reação com múltiplas críticas e poucos apoios causou a destituição na quinta-feira passada da até então ministra da Saúde, Rosario Turner, por causas não anunciadas oficialmente, o que deu lugar a múltiplas especulações de possíveis contradições ao interno do gabinete de governo.
Pedro Miguel González, secretário geral do oficialista Partido Revolucionário Democrático (PRD), em entrevista com Rádio Panamá ao referir ao fato recorreu à linguagem beisboleiro para dizer que ‘perdendo o jogo, queremos empatar o marcador para o remontar e o capitão da equipe decidiu que seu melhor jogador saia do campo’.
Com essa caricatura expressou o mal-estar dentro e fora do PRD pelo que qualificou de ‘decisão unilateral’ do presidente do país, Laurentino Cortizo, apesar de que desde maio último teve um reencontro do Executivo e a força partidária que o postulou para a cadeira presidencial, após se manter distanciado desde sua eleição, segundo González.
O líder partidário referiu que desde maio passado se retomou a coordenação de ações políticas com o mandatário, e inclusive para analisar mudanças no Executivo e os possíveis relevos, mas assegurou que a pasta da Saúde nunca esteve nesse diálogo.
‘Para ela (Turner) foi uma surpresa a decisão do presidente e se inteirou uns minutos dantes’ do anúncio oficial, afirmou González, quem explicou em detalhes a atitude similar que assumiu Cortizo quando criou sua equipe de governo, ainda que reconheceu que as principais figuras militam no PRD.
Desde sua percepção considerou que a destituição da titular de Saúde afetou à imagem do governo e a do próprio presidente, dentro e fora do partido, mas sentenciou que ‘em política os erros que um comete, se pagam’, ainda que aclarou que ‘o presidente terá suas razões’ para tal decisão.
Poucas horas após nomeado, o novo titular Luis Francisco Sucre anunciou a criação de um ‘conselho consultivo’ para assessorar o governante em matéria de previdência, integrado por vários ex-ministros da pasta e encabeçado pela ministra conselheira Eyra Ruiz, como secretária técnica.
Quase de imediato, outra comissão de especialistas criada por Turner para aconselhar tecnicamente o Ministério da Saúde (Minsa) no confronto à pandemia, lembrou sua dissolução por duplicidade de funções, ao mesmo tempo que qualificaram o novo grupo como de ‘políticos’, salvo alguma exceção.
No meio deste contexto de diferenças na cúpula do país, o total de contagiados totalizou a véspera 30.658 e desses casos nos últimos 35 dias detectaram-se o 65,5%, dos quais 592 faleceram e 14.060 se mantêm ativos; esta última cifra equivale a 70% dos contagiados entre o 25 de maio e ontem.
Isto explica a explosão dos rendimentos em hospitais que neste sábado somaram 868, o que causou o início do colapso do débil sistema sanitário público do país, que em julho próximo poderia saturar-se, e igual sorte correriam os hospitais privados, segundo autoridades e experientes.
Uniu-se, ademais, o advertido pelo Minsa de que, ao coincidir a pandemia com o início da temporada chuvosa, o ressurgimento estacional da dengue competiria nos esforços por estabilizar o ambiente epidemiológico e já na capital se reportaram 251 casos dessa doença.
Este palco geral complicou-se ainda mais com a crise econômica gerada pela pandemia e o aberto confronto de interesses empresariais e os operários; enquanto, transcendeu que o mandatário chamará a um grande diálogo nacional durante a apresentação do relatório de seu primeiro ano gerenciamento na próxima quarta-feira.