Em 15 de agosto de 1971, Richard Nixon, presidente dos Estados Unidos da América (EUA), anuncia que o país não venderia mais ouro, alegando a inflação e fechando a principal janela deste negócio. Foi o primeiro passo para a revogação, na prática, dos acordos de Bretton Woods, criados no pós-guerra (1944), junto com organismos internacionais – Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), atual Banco Mundial – que garantiam a sustentação das moedas, sua liquidez, os investimentos e segurança para os negócios.
Foi denominado “Choque Nixon”, adotado sem consulta ao Departamento de Estado nem a outros membros do sistema monetário internacional.
Com a elevação das taxas de juros estadunidenses, completou-se a primeira rasteira nas moedas. Pode-se ler, neste evento, o fim dos lastros monetários nacionais. Para ter-se uma avaliação das consequências das medidas estadunidenses, as taxas de juros, que oneraram a economia brasileira, partiram de 14,71% a.a., em fevereiro de 1974, para 58,45% a.a. em março de 1979.
Na primaveril tarde londrina de 1979, Margaret Hilda Roberts, já senhora Denis Thatcher, recém-designada primeira-ministra do Reino Unido (RU), virou-se para seu rico e domesticado marido e disse: vamos matar pobres por toda Terra, o mundo inteiro?
Assim surgiu a desregulação financeira da década de 1980, que se espalhou pelos EUA e daí pelo Ocidente e mesmo por muitos países orientais e sob a gestão socialista marxista, até ser consolidada na nova Bíblia Econômica, fechando a década, o Consenso de Washington (1989).
Nas mãos financeiras, os investimentos em produção industrial, no desenvolvimento econômico e social, que aumentariam os empregos e a existência de bens e serviços, se transformaram em recursos para especulação, concentrando renda e riqueza, e exigindo, constantemente, maior quantidade de papéis para especulação, para manipulação pelas finanças. Também proliferaram os paraísos fiscais, pois os especuladores detestam pagar impostos e taxas, que reduzem, ainda que minimamente, os seus ganhos.
Formou-se, assim, na última década do século XX, um artefato maior do que todas as bombas atômicas do mundo: papéis sem lastro, emissões descontroladas, sem domicílio onde o poder da justiça pudesse alcançar, ao que se acrescentou, em 2008, a virtualidade do próprio papel, as criptomoedas. Pode-se dizer que a crise 2008-2010 foi o pequeno aperitivo para o grande banquete esperado com a posse e a gestão de Donald Trump, na presidência dos EUA.
Como a sepse é tratada com antibióticos e terapia intravenosa, em unidades de cuidados intensivos, esta explosão financeira vem sendo cuidada pela mudança de gestão de alguns países, especialmente do oriente, que compõem a Organização para Cooperação de Xangai (OCX), constituída em 15 de junho de 2001, com nove países membros (Cazaquistão, China, Índia, Irã, Paquistão, Quirguistão, Rússia, Tajiquistão e Uzbequistão), três observadores (Afeganistão, Bielorrússia e Mongólia) e nove parceiros de diálogo (Arábia Saudita, Armênia, Azerbaijão, Camboja, Catar, Egito, Nepal, Sri Lanka e Turquia), além dos três organismos internacionais convidados (ONU, CEI e ASEAN) e do também convidado Turquemenistão.
Porém não se trata apenas de países e organismos internacionais a defenderem seus patrimônios reais e a alimentação e bem estar de seus habitantes. Há, também, irrefreável guerra, exatamente onde se concentram as maiores reservas de petróleo do mundo, no Oriente Médio e norte da África, onde o primeiro ministro de Israel, Benjamin “Bibi” Netanyahu, considera-se investido da missão de criar o “Reino do Sião”, daí o “sionismo”, para o povo judeu, que, sem surpresa, avança por áreas com conhecidos reservatórios de petróleo e naquelas de grandes possibilidades, como a área marítima da Faixa de Gaza.
Como na célebre frase, cunhada pelo consultor político James Carville, estrategista da campanha de Bill Clinton contra George H. W. Bush, em 1992, e, desde então amplamente divulgada: “É a economia, estúpido” (“It’s the economy, stupid”). Não apenas a economia, mas o poder neoliberal financeiro também exacerbou a falta de escrúpulo e de caráter e aumentou exponencialmente a promoção da ignorância e as “fake news” (farsas sob a roupagem de notícia ou análise).
Portanto, ao discorrer sobre as possibilidades que se abrem com a nova presidência dos EUA, diferente, quase oposta, à que se encerra em 20 de janeiro de 2025, precisamos considerar que há uma oposição, que se consolida na OCX, há ameaça de guerra no explosivo Oriente Médio, e, igualmente, muitos interesses escusos e até ilegais cercando a expansão, transformações e utilizações monetárias, como se antevêem agora, em novembro de 2024.
TEORIA DA MOEDA MODERNA E AS CRIPTOMOEDAS
Os habitantes deste planeta ainda deverão viver nele por séculos, senão milênios, e sempre haverá necessidade de água doce, alimentos e abrigos, contra os semelhantes, animais e intempéries, para sobrevivência da espécie, mesmo diferentes dos que nos acostumamos nestes últimos quinze milênios, quando nosso mais antigo ancestral saiu da Etiópia para povoar o mundo.
Assim, a garantia material das moedas já não constitui condição indispensável para sua existência e uso. E essa situação antecede a própria existência das criptomoedas, pois Larry Randall Wray, estadunidense professor de economia, em 1998, publicou “Understanding Modern Money: The Key to Full Employment and Price Stability” (no Brasil, “Trabalho e Moeda Hoje”, tradução de José Carlos de Assis, para Editora UFRJ Contraponto, RJ, 2003) discorrendo sobre a “Teoria da Moeda Moderna”, que pode ser emitida “sem teto de gastos”, promovendo o “pleno emprego sem causar inflação” (na tradução de J.C. de Assis, página 14).
Segundo o Bitcoin.org, o conceito de criptomoeda foi descrito pela primeira vez em 1998, mesmo ano em que Randall Wray apresenta a Teoria da Moeda Moderna, cuja operacionalidade, embora esteja suportada pela realidade física da moeda, não provoca disfunções como a inflação.
No InfoMoney de 8/11/2022 se lê: “O Bitcoin surgiu em 31 de outubro de 2008. Naquele dia, o criador (ou criadores) da criptomoeda, que se esconde sob o pseudônimo de Satoshi Nakamoto, enviou um e-mail para uma lista de pessoas interessadas em criptografia. No corpo da mensagem, ele escreveu que vinha trabalhando em um novo sistema de dinheiro eletrônico totalmente peer-to-peer (ponto a ponto), sem terceiros confiáveis”.
Provavelmente Satoshi Nakamoto é um grupo de pessoas que desde o início do século pesquisava a criação e operacionalidade de moeda inteiramente virtual sem necessidade de intermediação bancária (terceiros confiáveis). Os sistemas de informação digitais, criados por Claude Shannon, em 1948, já permitiam essa modalidade, precisavam do avanço nas teorias monetárias e do descolamento da economia do Estado Nacional, que o Consenso de Washington impôs em 1989.
Com as bases conquistadas, as criptomoedas apenas aguardavam o modelo operacional compatível aos recursos existentes e acessível a todos interessados. Tudo se conjuga, coincidentemente, com a primeira crise econômico-financeira do século, 2008-2010. O Bitcoin foi lançado pouco depois de um mês do anúncio da falência do Lehman Brothers, banco estadunidense de serviços financeiros globais.
OPERANDO AS CRIPTOS – O QUE O INVESTIDOR EM CRIPTOMOEDAS PRECISA SABER
Como qualquer outro ativo financeiro não é uma questão de sorte, portanto, não se deve fazer loucuras. Ganha dinheiro quem tem mérito e o mérito se conquista com horas de estudo, preparação e uma boa estratégia. Eu te garanto que 99% dos investidores que realmente ganham dinheiro no mercado cripto são pessoas responsáveis e não apostadores inconsequentes.
Ficar rico com criptomoedas tem se tornado o sonho de muita gente, mas a realidade é que para chegar nesse patamar o investidor vai precisar ser um acumulador de conhecimento, paciente, estratégico e racional.
O dinheiro é um processo de dar valor. Somente o nosso conhecimento é capaz de produzir feitos que serão valorizados em dinheiro. Dinheiro se conquista com conhecimento. Jamais se esqueça disso!
Quando vem o ciclo de alta, muita gente que ganha dinheiro começa a aparecer, gerando alertas e levando investidores a cometer loucuras, então, antes de investir, é importante saber que criptomoedas são a classe de investimento mais arriscada dos dias atuais.
A Chave privada
Muitos investidores iniciantes compram suas criptomoedas e as mantêm sob custódia de corretoras centralizadas (conhecidas também como CEXs) em que as compras foram feitas. Com o passar dos anos isso se revelou um grande erro e um risco desnecessário.
Já tivemos vários casos de corretoras centralizadas que faliram e deixaram milhares de investidores com um grande prejuízo, pois elas armazenavam as criptos dos clientes e não puderam retornar esses fundos aos donos (por direito) dos tokens.
Alguns casos aconteceram por má gestão da empresa controladora da corretora, enquanto outros casos se confirmaram como verdadeiros golpes.
No mercado cripto esta expressão é uma grande verdade.
Se as chaves privadas da carteira que faz a custódia dos “seus” criptoativos não são suas, as criptomoedas não são suas!
Corretoras não são carteiras. Não deixe suas criptomoedas sob a custódia de terceiros.
Soluções e/ou produtos em desenvolvimento
O primeiro importante elemento fundamental que precisa ser analisado em uma criptomoeda é a utilidade do projeto e de seu token.
Criptomoedas não são somente ativos meramente especulativos e que não tem uma razão para existir.
Na verdade, até encontramos casos assim. Mas estas são as chamadas ‘shitcoins’. Projetos que não possuem um propósito genuíno de inovar, trazer segurança ou melhorias para um problema da vida real das pessoas ou das instituições.
Quando você compra um token de uma criptomoeda, em geral, é como se você estivesse comprando uma participação naquele projeto. Quanto mais tokens, maior a sua participação. Se o mercado reconhecer valor em sua proposta, o preço do token sofrerá uma apreciação, logo, o investidor é beneficiado com o crescimento do valor de mercado do projeto e tem a oportunidade de realizar lucros.
O que dá valor a uma criptomoeda é seu propósito.
No mercado financeiro não existe bobo. Os investidores profissionais – que detém a grande parte do capital que movimenta os preços – dão atenção para propostas que tragam soluções e melhorias para as mais diversas indústrias.
Capitalização de mercado
Isso é um tema de reflexão constante entre os investidores do mercado cripto. Em qual projeto investir:
Big caps? Mid Caps? Small Caps?
Por si só, o valor de mercado não quer dizer que o projeto cripto tenha grande futuro pela frente, contudo, isso é uma boa indicação de que há grande comunidade de investidores que reconhece e acredita no valor que o projeto entrega.
Os projetos de maior capitalização também ganham espaço por trazer mais equilíbrio para um portfólio cripto. Além de ter uma volatilidade um pouco mais baixa que a média das altcoins small caps, criptomoedas com uma grande capitalização de mercado são mais resilientes quanto a tentativas de manipulação do mercado, pois exigem um grande montante financeiro para movimentar o preço. Logo, estas criptos são consideradas menos arriscadas.
Porém, via de regra, quase todo projeto começa com baixa capitalização, assim há criptomoedas com menor valor de mercado que possuem bom potencial para ter uma grande capitalização no futuro.
Diversificação setorial
O mercado de criptomoedas pode ser dividido em vários setores.
Por exemplo, nós temos projetos proof-of-work e também as proof-of-stake, que representam duas das maiores abordagens tecnológicas em termos de mecanismos de consenso de descentralização.
Temos também as soluções que estão setorizadas em Finanças Descentralizadas (DeFi), Tokens Não Fungíveis (NTFs), Blockchains de Segunda Camada, Corretoras Descentralizadas, Provedores de Liquidez, Plataformas Cross-Chain, Para-Chains, Memecoins e vários outros.
Considere essa grande variedade de projetos de diferentes setores que temos no mundo das criptos e das blockchains.
Olhar para diferentes setores também é importante na diversificação do portfólio cripto. Não adianta montar um portfólio somente com projetos que tem uma proposta de valor praticamente igual. Por exemplo, ter um portfólio de 10 criptomoedas e oito delas serem de DeFi.
É óbvio que se uma boa narrativa fortalecer os fundamentos do setor DeFi, este portfólio pode ter uma valorização acima da média. Mas e se isso não acontecer?
Provavelmente este investidor irá perder oportunidades que outros setores poderão oferecer. O ideal é que projetos de diferentes setores formem um portfólio, assim o investidor vai ter uma possibilidade de surfar mais ondas de valorização e não correrá o risco da centralização.
CRISES E SOLUÇÕES A GUISA DE CONCLUSÃO
Moeda é um dos símbolos de soberania de qualquer país tais como a bandeira, o hino nacional etc. Diante da imaterialidade das criptomoedas, como fica este símbolo? Sem dúvida a difusão das criptos exige novo estágio civilizatório. E mais. Exige maior descentralização do poder financeiro para que se sustente em bases bem maiores do que as que o modelo neoliberal nos conduzem. Em meio à terceira década do século XXI, as criptomoedas parecem já ter garantido seu lugar na História.
O mundo de hoje, dentro da multipolaridade, encontra dois caminhos. Aquele dos EUA, que a presidência de Donald Trump apenas acelerará a radicalização, que deixa ao domínio dos mais ricos, cada vez mais estreita minoria, a condução de seus destinos, fiel à Constituição plutocrata de 1787; ou a adotada pela China, que coloca a política, o mais participativa possível, sem perda de eficácia, ampliando o leque das alternativas para solução de todos problemas.
Ambas adotam e continuarão adotando moedas virtuais. Porém nos EUA com a pretensa liberdade que a plutocracia permitir, e na China, com as decisões do Estado onde elas são formadas conforme os consensos de diversos grupos políticos.
Portanto, não é a economia, mas a política quem guiará a operacionalidade das criptomoeda e suas diversidades.
Duas situações de crise já podem ser, desde já, identificadas: a econômica, pela falta de produtos e excesso de recursos, que atingirá o mundo a partir de novo e mais profundo 1929 no Ocidente; e a bélica, que explodirá pela ação sionista no Oriente Médio e as alianças e os mecanismos de defesa e ataque expandirão pelo Globo terrestre.
Sempre é possível que a política, e apenas a política, encontre a saída para estas crises.
Vamos discutir a solução pacífica, a política, pois na guerra fatores imponderáveis atuam em todas as direções, daí a máxima que da guerra se pode saber como começou mas nunca como terminará.
Vivemos, hoje, o que o filósofo e juiz de direito Rubens Casara denomina “um período histórico notável pela valorização social da ignorância, o tempo do empobrecimento subjetivo” (Rubens Casara, “A Construção do Idiota”, da Vinci Livros, RJ, 2024).
Não podemos, por consequência, esperar a solução mais consentânea ao mais amplo interesse humanitário, muito ao contrário, uma vez que esta situação é “inerente à racionalidade neoliberal e integra o fenômeno da idiossubjetivação”, isto é, da extensão da democracia liberal, que James Madison, delegado constituinte pelo estado da Virgínia, em 1787, dizia ser necessária para “manter a minoria afortunada ao abrigo da maioria”.
Resta-nos portanto acreditar que a China conseguirá impor seu pacifismo milenar e a solução mais participativa e, provavelmente democrática, para além das farsas e mitos que o Ocidente vem construindo, desde quando o teísmo passou a governar os passos do poder.
E esta solução apenas colocará a criptomoeda menos especulativa, mais humanizada, para servir aos homens e não servir-se deles.
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