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segunda-feira, 9 setembro, 2024

Crescimento não é sinônimo de igualdade na América Latina

Havana, (Prensa Latina) No início de 2019, a Escola Superior de Administração e Direção de Empresas da Espanha previu que Peru, Chile e Colômbia liderariam o crescimento econômico na América Latina durante os próximos doze meses.
No caso do primeiro a expansão seria de quatro por cento, e as outras duas nações teriam um crescimento de 3,5 pontos percentuais.

Estimativas mais recentes da Comissão Econômica para América Latina e o Caribe (Cepal), em troca, certificam números mais baixos para estas nações nas quais Colômbia obteria 3,2 por cento, Peru 2,5 e Chile 1,8.

Segundo a Comissão, não obstante, as destes países serão algumas das expansões mais notáveis no área sul-americana.

Apesar dos crescimentos superiores a outros territórios, -Argentina cairá três por cento, Brasil só crescerá 0,8 por cento e Equador ficará estancado-, outras alerta relacionadas com o incremento da desigualdade chamam igualmente a atenção sobre as três nações citadas.

E é que o aumento sustentado do Produto Interno Bruto (PIB) de um país não é diretamente proporcional com a melhoria do nível de vida da cidadania, ou que se acrescentem suas possibilidades de acesso à saúde, o trabalho ou a educação.

Assim ocorre na América Latina onde, segundo a Cepal, a inequidade entre seus cidadãos é a maior de toda a terra, por em cima inclusive, do África Subsaariana.

No Chile, por exemplo, o um por mais cento rico detenta o 26,5 por cento da riqueza de acordo com cálculos recentes da Cepal.

Assim, 10 por mais cento favorecido concentra 66,5 por cento, enquanto 50 por mais cento pobre acede a um magro 2,1 por cento de toda a riqueza do país.

Também, acrescentou a comissão, praticamente todos os serviços -educação, saúde, medicamentos, transporte, eletricidade, água, etc.- impactam consideravelmente nos salários.

O mesmo a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE) que o Banco Mundial alertou a respeito deste flagelo ali.

Enquanto a entidade bancária incluiu a Chile na lista dos 10 países mais desiguais, a OCDE advertiu que a capacidade da nação sul-americana para convergir para os níveis de vida média que integram este clube se vê afetada, também, por uma elevada iniquidade.

A produtividade e a desigualdade também se veem acentuadas pelo sistema educativo, cujos resultados são débeis e desiguais, e refletem em grande parte os antecedentes socioeconômicos dos alunos, acrescentou em seu estudo a OCDE.

Há quarenta anos, Chile foi primeiro país de América Latina que privatizou o sistema de pensões.

Hoje, 82 por cento da população recebe pensões inferiores a um salário mínimo enquanto o pagamento de senadores e deputados foi quase 30 vezes maior que a remuneração média.

Colômbia, outro dos países que descola dentro do área pelo crescimento econômico esperado, experimenta assim níveis crescentes de desigualdade.

De acordo com o Departamento Administrativo Nacional de Estatística desse país (DANE), a percentagem de pessoas em situação de pobreza multidimensional (saúde, trabalho, acesso a serviços públicos domiciliários, condições da moradia, etc.) em 2018 foi de 19,6 por cento, quase dois pontos percentuais mais que em 2017.

Isto quer dizer que em só dois anos um milhão 107 mil pessoas se somaram a esta categoria.

Outro estudo da mesma entidade revelou que do total nacional, 34,8 por cento se sente pobre, 10 departamentos da nação têm uma percepção subjetiva de pobreza inferior à média nacional e na região de Chocou está a maior insatisfação, com 76,3 por cento.

Segundo o DANE, no ano passado mais de 13 milhões de colombianos (de uma população de 48) encontravam-se em condição de pobreza monetária.

O organismo também concluiu que as reduções na pobreza se detiveram e que 7,2 por cento dos colombianos se mantêm na categoria de pobreza extrema.

De acordo com Thomas Piketty, reconhecido economista francês, 20 por cento do rendimento de Colômbia está em mãos do um por cento da população, enquanto a metade desses rendimentos pertence a um 10 por cento.

Segundo o especialista, esta concentração é muito maior à que existe nos Estados Unidos.

Ainda que Colômbia tem um Produto Interno Bruto de 456 bilhão de dólares e enormes riquezas minerais, um grande por cento de seus habitantes vivem na pobreza, o qual se agudiza com as políticas neoliberais dos últimos anos.

Em Peru, outra das economias sobresalentes em relação ao crescimento, a luta contra a desigualdade ficou estancada nos dois últimos anos, e em muitos rubros críticos, retrocedeu, segundo um estudo recente da organização sem fins de lucro Oxfam.

De acordo com o estudo, 12 milhões de peruanos (40 por cento da população total do país) estão em risco de voltar a ser conceituados pobres.

Assim, o estudo assinalou que a despesa pública em educação é de 4,3 por cento do PIB, longe da meta do seis por cento que o país projetou para 2021, enquanto o investimento público em saúde mal é de 2,5 por cento do PIB.

Também, alertou, a taxa de emprego formal é mal de 27 por cento, com importantes diferenças salariais entre homens e mulheres.

No lugar de que o grosso da arrecadação fiscal vinga da riqueza, em Peru provem dos impostos cegos aplicados ao consumo, como o encargo geral sobre as vendas, destacou a análise.

Não obstante o sérios desafios em matéria social, Peru tem sido uma das economias a mais rápido crescimento na região nas últimas duas décadas, quando o PIB real cresceu a uma taxa média de 4,7 por cento, cerca do duplo da região.

Conquanto o aumento no preço das matérias prima favoreceu o incremento dos rendimentos nos países latino-americanos em anos precedentes, e preparou o caminho para a luta contra a desigualdade, a permanência de um modelo injusto por antonomasia deixa sentir todo seu peso sobre os menos favorecidos quando os ventos deixam de ser favoráveis.

Com a prolongada debilidade dos preços dos produtos primários, corre-se o risco então de que se reduzam as políticas de corte social e se apliquem a cada vez com mais frequência os chamados pacotes neoliberais.

Por países como Chile, Colômbia e Peru é que a secretária executiva da Cepal sustenta que o velho paradigma do desenvolvimento é insuficiente.

Não atinge com só crescer, deve ser crescido para igualar e igualar para crescer, sentenciou.

‘Não somos a região mais pobre, mas sim a mais desigual. Nossa estrutura produtiva é a grande fábrica da desigualdade. As desigualdades têm erosionado o contrato social e a democracia.

Precisamos pactos entre o Estado, o mercado e a sociedade’, propôs em dias recentes a secretária executiva do organismo, Alicia Bárcena.

Em linha com a Agenda 2030, precisa-se uma estratégia multidimensional do desenvolvimento que transcenda as medidas do rendimento como único indicador de sucesso. O PIB per capita não é o único aspecto que determina o desenvolvimento, considerou a diretora.

Observar o desenvolvimento através de uma lente multidimensional constitui uma bússola muito útil para desenhar, implementar, monitorar e avaliar as políticas públicas a fim de melhorar a qualidade de vida das pessoas, abundou.

A desigualdade, sentenciou, é a causa principal do desencanto que atravessa à cidadania da região ante uma classe política atônita que não atinge a entender que o modelo de desenvolvimento atual é insustentável.

Apesar da Escola Superior de Administração e Direção de Empresas de Espanha previu que Peru, Chile e Colômbia liderariam o crescimento econômico em 2019, é outra, sem dúvida, a supremacia que esperam e merecem seus cidadãos.

*Jornalista da Redação Econômica da Prensa Latina

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