Pedro Augusto Pinho*
Carlos Lyra e Chico de Assis, inspirados intelectuais brasileiros, compuseram em 1963 a Canção do Subdesenvolvido, gravada para ajudar a construção do teatro do Centro Popular de Cultura (CPC), da União Nacional dos Estudantes (UNE), disco logo retirado de circulação pelo golpe estadunidense-militar- empresarial de 1º de abril de 1964.
Nesta obra prima, cantavam a dicotomia de um país rico e belo, porém sem personalidade, dirigido pelo exterior, que resultava na existência “subdesenvolvida, essa é que é a vida nacional!”.
Hoje, a pedagogia colonial imposta pelos novos donos do Brasil, o sistema financeiro internacional, nem nos permite cantar uma bela canção fúnebre. Apenas chorar a miséria, o desemprego, a humilhação a que se submete, cotidianamente, o povo deste rico País, “uma terra de amores, alcatifada de flores, onde a brisa fala amores”.
E neste final de outono, aumentando nossas desesperanças, como se antevendo inverno ainda mais rigoroso, mortal, quando será superada a marca de meio milhão de brasileiros assassinados pelo projeto de contenção demográfica dos donos do Brasil.
O que os caros leitores lerão a seguir são fatos recentes, pregos na tampa do caixão que os feitores deste capital apátrida, pleno de dinheiro marginal: das drogas, dos contrabandos, das prostituições e das corrupções, capatazes eleitos ou nomeados para direção do País, sem qualquer pudor ou vergonha, anunciam e executam.
Comecemos pela promessa do Presidente, na redação da jornalista Denise Chrispim Marin, na revista Veja, em 18 de março de 2019, onde Bolsonaro diz, tendo por alvos oito americanos conservadores, o guru da ala civil de seu governo, Olavo de Carvalho, e os seis ministros que o acompanham nesta visita a Washington, que “seu governo terá a missão de “desconstruir” e “desfazer muita coisa” no Brasil, em uma referência às obras e projetos que considera ter seguido a lógica e o propósito “comunista”.
O que ensina, doutrina, enfia na cabeça das pessoas, desde a mais tenra idade, a pedagogia colonial? Que toda ação nacionalista, tudo que se constrói para o desenvolvimento humano e econômico do Brasil, para a soberania da Nação e pela cidadania da população é obra de corrupto, populista, ou comunista.
CORREIOS – Os Correios devem ser obra premonitória de comunistas portugueses, pois tiveram sua origem em 25 de janeiro de 1663, com a criação do Correio-Mor, no Rio de Janeiro. Séculos depois, os “corruptos”(?) militares que governaram o Brasil, de 1º de abril de 1964 a 15 de março de 1985, os reorganizaram com a criação da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), conforme o Decreto-Lei nº 509, de 20 de março de 1969. Só assim se explica a fúria de um bolsonarista, nas redes virtuais, escrevendo:
“a privatização dos correios é um grande passo para normalização administrativa da máquina Brasil e, ao mesmo tempo, um combate eficiente aos cabides de empregos, à corrupção e ao desencargo pesado que vive as costas do Brasil. Grande sinal do rumo certo a ordem e progresso” (sic), assinado por Benone Augusto de Paiva.
Apenas para argumentar, pois, até onde sei, a admissão para os quadros funcionais no Correios se dá por concurso público, como ocorre em todas as empresas estatais desde os governos militares, seria então o caso de investigações sobre as admissões, os gerenciamentos, as ações da ECT, para a colocar “em ordem”.
Porém nada disso é verdade.
Os Correios apresentaram, em 2020, lucro líquido de R$ 1,53 bilhão, o melhor resultado nos últimos 10 anos. Também foram apurados outros indicadores financeiros importantes. O patrimônio líquido obteve crescimento de 84% em relação ao ano de 2019, totalizando, aproximadamente, R$ 950 milhões. Esses feitos indicam a notável melhora financeira e dos negócios da empresa. Mesmo com as restrições impostas pela crise sanitária, os Correios mantiveram as atividades, dada a essencialidade de seus serviços. Colaboraram para o saldo positivo nas contas da estatal a evolução da produtividade e a eficiência operacional.
A empresa notou, no último exercício, o aumento do fluxo de encomendas oriundas do comércio eletrônico: o crescimento desta receita foi 9%, ante o ano anterior. Destacando-se, o recorde histórico de 2,2 milhões de encomendas postadas em um único dia, alcançado em 30 de novembro passado, e as receitas internacionais – obtidas por meio de serviços prestados a Correios de outros países -, que ultrapassaram o marco de R$ 1,2 bilhão, outro recorde para a empresa.
Apesar de ter apresentado bons números no último ano, foi aprovada na Câmara dos Deputados o regime de urgência para a votação do PL 591/21, que trata da privatização dos Correios. A lei autoriza que os serviços postais possam ser explorados pela iniciativa privada, inclusive os prestados hoje em regime de monopólio pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), estatal 100% pública.
Pela proposta, a União manterá para si uma parte dos serviços, chamada na proposta de “serviço postal universal”, que incluirá encomendas simples, cartas e telegramas. Já outros serviços, em grande parte as encomendas, devem ser atendidas pela iniciativa privada.
Promovida pela Comissão de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia da Câmara dos Deputados, a audiência pública que ocorreu na última sexta-feira, 28 de maio, trouxe o ponto de vista dos trabalhadores dos Correios que afirmaram que a desestatização do serviço postal, prevista na PL 591/21, pode prejudicar o atendimento de municípios em áreas remotas e não garante tarifas baixas.
Thiago Botelho, representante do Ministério das Comunicações na audiência, justificou que o projeto de lei apenas institui um marco legal para o setor porque o último foi de 1978. Segundo ele, a decisão sobre a concessão dos serviços não será tomada agora. Ele explicou que os contratos garantiriam a universalização dos serviços (!).
O vice-presidente da Associação dos Profissionais dos Correios, Marcos César Silva, disse que apenas 324 das 11.542 agências dos Correios dão lucro porque o objetivo é atender todo o país. Ele questiona se uma empresa privada manteria essa estrutura que custa, segundo ele, R$ 6 bilhões por ano. Marcos afirmou que, no mundo todo, o serviço é majoritariamente público (Fonte: AEPET Direto).
Trata-se, por conseguinte, de mais um ato de corrupção, onde o executivo, o legislativo e o judiciário receberão provavelmente vultosas comissões pela entrega de tão rentável negócio a empresas estrangeiras. E mais, destruindo um patrimônio nacional, que é tratado como estratégico por diversas nações, inclusive os Estados Unidos da América (EUA).
Os EUA possuem a United States Postal Service (USPS). Esta empresa, fundada em 1775, possui cerca de 630 mil funcionários e receita da ordem de US$ 71 bilhões, sendo a única companhia de entregas a oferecer os serviços em todos os pontos do país, são cerca 36.000 estações e sucursais da US Postal Service.
O Conselho de Administração da USPS estabelece a política, o procedimento e as taxas para os serviços prestados. Tem atribuição semelhante aos conselhos de administração empresariais. Dos onze membros do Conselho, nove são nomeados pelo Presidente e confirmados pelo Senado estadunidense. Estes nove membros designados escolhem o Diretor Geral dos Correios, que passa a ser o décimo membro do Conselho, e que supervisiona as atividades, como Chief Executive Officer (CEO), Presidente. Os dez membros nomeiam um adjunto do Diretor Geral dos Correios, que será o Chief Operating Officer (COO), Diretor Executivo, e será o décimo primeiro membro do Conselho.
Ninguém fora dos hospícios propõe, nos EUA, a privatização do Serviço Postal estadunidense, que tem divisões específicas para as correspondências militares.
PAZUELLO – Outro passo, para o desmonte ou “desfazimento” do Estado Nacional de propósito “comunista”, foi a decisão do Alto Comando do Exército, concluindo que “não houve transgressão disciplinar” e arquivando o processo disciplinar general Eduardo Pazuello.
Vicente Nunes, repórter do Correio Braziliense, escreveu no seu blog, em 03/06/2021: “Para especialistas, a decisão é uma desmoralização do general Paulo Sérgio de Oliveira, comandante-geral do Exército, e da própria Força, pois mostra que prevaleceu a posição de Bolsonaro. A partir de agora, está aberta a politicagem dentro dos quartéis, um caminho para a anarquia. Os comandantes das Forças Armadas perderam o controle”.
Diz a nota do Exército:
Charge do Junião (Arquivo Google)