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segunda-feira, 18 março, 2024

CORREIOS, PAZUELLO, ELETROBRÁS, O ESTADO QUE SE DESFAZ.

Pedro Augusto Pinho*
Carlos Lyra e Chico de Assis, inspirados intelectuais brasileiros, compuseram em 1963 a Canção do Subdesenvolvido, gravada para ajudar a construção do teatro do Centro Popular de Cultura (CPC), da União Nacional dos Estudantes (UNE), disco logo retirado de circulação pelo golpe estadunidense-militar-empresarial de 1º de abril de 1964.
Nesta obra prima, cantavam a dicotomia de um país rico e belo, porém sem personalidade, dirigido pelo exterior, que resultava na existência “subdesenvolvida, essa é que é a vida nacional!”.
Hoje, a pedagogia colonial imposta pelos novos donos do Brasil, o sistema financeiro internacional, nem nos permite cantar uma bela canção fúnebre. Apenas chorar a miséria, o desemprego, a humilhação a que se submete, cotidianamente, o povo deste rico País, “uma terra de amores, alcatifada de flores, onde a brisa fala amores”.
E neste final de outono, aumentando nossas desesperanças, como se antevendo inverno ainda mais rigoroso, mortal, quando será superada a marca de meio milhão de brasileiros assassinados pelo projeto de contenção demográfica dos donos do Brasil.
O que os caros leitores lerão a seguir são fatos recentes, pregos na tampa do caixão que os feitores deste capital apátrida, pleno de dinheiro marginal: das drogas, dos contrabandos, das prostituições e das corrupções, capatazes eleitos ou nomeados para direção do País, sem qualquer pudor ou vergonha, anunciam e executam.

Comecemos pela promessa do Presidente, na redação da jornalista Denise Chrispim Marin, na revista Veja, em 18 de março de 2019, onde Bolsonaro diz, tendo por alvos oito americanos conservadores, o guru da ala civil de seu governo, Olavo de Carvalho, e os seis ministros que o acompanham nesta visita a Washington, que “seu governo terá a missão de “desconstruir” e “desfazer muita coisa” no Brasil, em uma referência às obras e projetos que considera ter seguido a lógica e o propósito “comunista”.
O que ensina, doutrina, enfia na cabeça das pessoas, desde a mais tenra idade, a pedagogia colonial? Que toda ação nacionalista, tudo que se constrói para o desenvolvimento humano e econômico do Brasil, para a soberania da Nação e pela cidadania da população é obra de corrupto, populista, ou comunista.

CORREIOS – Os Correios devem ser obra premonitória de comunistas portugueses, pois tiveram sua origem em 25 de janeiro de 1663, com a criação do Correio-Mor, no Rio de Janeiro. Séculos depois, os “corruptos”(?) militares que governaram o Brasil, de 1º de abril de 1964 a 15 de março de 1985, os reorganizaram com a criação da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), conforme o Decreto-Lei nº 509, de 20 de março de 1969. Só assim se explica a fúria de um bolsonarista, nas redes virtuais, escrevendo:
“a privatização dos correios é um grande passo para normalização administrativa da máquina Brasil e, ao mesmo tempo, um combate eficiente aos cabides de empregos, à corrupção e ao desencargo pesado que vive as costas do Brasil. Grande sinal do rumo certo a ordem e progresso” (sic), assinado por Benone Augusto de Paiva.
Apenas para argumentar, pois, até onde sei, a admissão para os quadros funcionais no Correios se dá por concurso público, como ocorre em todas as empresas estatais desde os governos militares, seria então o caso de investigações sobre as admissões, os gerenciamentos, as ações da ECT, para a colocar “em ordem”.
Porém nada disso é verdade.
Os Correios apresentaram, em 2020, lucro líquido de R$ 1,53 bilhão, o melhor resultado nos últimos 10 anos. Também foram apurados outros indicadores financeiros importantes. O patrimônio líquido obteve crescimento de 84% em relação ao ano de 2019, totalizando, aproximadamente, R$ 950 milhões. Esses feitos indicam a notável melhora financeira e dos negócios da empresa. Mesmo com as restrições impostas pela crise sanitária, os Correios mantiveram as atividades, dada a essencialidade de seus serviços. Colaboraram para o saldo positivo nas contas da estatal a evolução da produtividade e a eficiência operacional.
A empresa notou, no último exercício, o aumento do fluxo de encomendas oriundas do comércio eletrônico: o crescimento desta receita foi 9%, ante o ano anterior. Destacando-se, o recorde histórico de 2,2 milhões de encomendas postadas em um único dia, alcançado em 30 de novembro passado, e as receitas internacionais – obtidas por meio de serviços prestados a Correios de outros países -, que ultrapassaram o marco de R$ 1,2 bilhão, outro recorde para a empresa.
Apesar de ter apresentado bons números no último ano, foi aprovada na Câmara dos Deputados o regime de urgência para a votação do PL 591/21, que trata da privatização dos Correios. A lei autoriza que os serviços postais possam ser explorados pela iniciativa privada, inclusive os prestados hoje em regime de monopólio pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), estatal 100% pública.
Pela proposta, a União manterá para si uma parte dos serviços, chamada na proposta de “serviço postal universal”, que incluirá encomendas simples, cartas e telegramas. Já outros serviços, em grande parte as encomendas, devem ser atendidas pela iniciativa privada.
Promovida pela Comissão de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia da Câmara dos Deputados, a audiência pública que ocorreu na última sexta-feira, 28 de maio, trouxe o ponto de vista dos trabalhadores dos Correios que afirmaram que a desestatização do serviço postal, prevista na PL 591/21, pode prejudicar o atendimento de municípios em áreas remotas e não garante tarifas baixas.
Thiago Botelho, representante do Ministério das Comunicações na audiência, justificou que o projeto de lei apenas institui um marco legal para o setor porque o último foi de 1978. Segundo ele, a decisão sobre a concessão dos serviços não será tomada agora. Ele explicou que os contratos garantiriam a universalização dos serviços (!).
O vice-presidente da Associação dos Profissionais dos Correios, Marcos César Silva, disse que apenas 324 das 11.542 agências dos Correios dão lucro porque o objetivo é atender todo o país. Ele questiona se uma empresa privada manteria essa estrutura que custa, segundo ele, R$ 6 bilhões por ano. Marcos afirmou que, no mundo todo, o serviço é majoritariamente público (Fonte: AEPET Direto).
Trata-se, por conseguinte, de mais um ato de corrupção, onde o executivo, o legislativo e o judiciário receberão provavelmente vultosas comissões pela entrega de tão rentável negócio a empresas estrangeiras. E mais, destruindo um patrimônio nacional, que é tratado como estratégico por diversas nações, inclusive os Estados Unidos da América (EUA).

Os EUA possuem a United States Postal Service (USPS). Esta empresa, fundada em 1775, possui cerca de 630 mil funcionários e receita da ordem de US$ 71 bilhões, sendo a única companhia de entregas a oferecer os serviços em todos os pontos do país, são cerca 36.000 estações e sucursais da US Postal Service.
O Conselho de Administração da USPS estabelece a política, o procedimento e as taxas para os serviços prestados. Tem atribuição semelhante aos conselhos de administração empresariais. Dos onze membros do Conselho, nove são nomeados pelo Presidente e confirmados pelo Senado estadunidense. Estes nove membros designados escolhem o Diretor Geral dos Correios, que passa a ser o décimo membro do Conselho, e que supervisiona as atividades, como Chief Executive Officer (CEO), Presidente. Os dez membros nomeiam um adjunto do Diretor Geral dos Correios, que será o Chief Operating Officer (COO), Diretor Executivo, e será o décimo primeiro membro do Conselho.
Ninguém fora dos hospícios propõe, nos EUA, a privatização do Serviço Postal estadunidense, que tem divisões específicas para as correspondências militares.

PAZUELLO – Outro passo, para o desmonte ou “desfazimento” do Estado Nacional de propósito “comunista”, foi a decisão do Alto Comando do Exército, concluindo que “não houve transgressão disciplinar” e arquivando o processo disciplinar general Eduardo Pazuello.
Vicente Nunes, repórter do Correio Braziliense, escreveu no seu blog, em 03/06/2021: “Para especialistas, a decisão é uma desmoralização do general Paulo Sérgio de Oliveira, comandante-geral do Exército, e da própria Força, pois mostra que prevaleceu a posição de Bolsonaro. A partir de agora, está aberta a politicagem dentro dos quartéis, um caminho para a anarquia. Os comandantes das Forças Armadas perderam o controle”.
Diz a nota do Exército:

Charge do Junião (Arquivo Google)

“Acerca da participação do General de Divisão Eduardo Pazuello em evento realizado na Cidade do Rio de Janeiro, no dia 23 de maio de 2021, o Centro de Comunicação Social do Exército informa que o Comandante do Exército analisou e acolheu os argumentos apresentados por escrito e sustentados oralmente pelo referido oficial-general. Desta forma, não restou caracterizada a prática de transgressão disciplinar por parte do General Pazuello. Em consequência, arquivou-se o procedimento administrativo que havia sido instaurado.”
E o repórter Vicente Nunes, conclui: “A decisão do Alto Comando do Exército de arquivar o processo administrativo contra o general Eduardo Pazuello, que feriu o Estatuto Militar ao participar de um comício politico em favor do presidente Jair Bolsonaro, é mais um ato de agradecimento ao governo. Desde que Bolsonaro tomou posse, os militares são o grupo mais privilegiado do país. Tiveram aumentos espetaculares de salários quando a maioria da população via a renda cair. Os reajustes continuaram, inclusive, durante a pandemia de covid-19.”

Ficaram de fora da reforma da Previdência. Na verdade, ganharam benefícios ainda maiores para quando forem para a reserva, enquanto o grosso dos trabalhadores perdeu direitos e teve o sonho da aposentadoria adiado por anos. Recentemente, por determinação do presidente da República, o Ministério da Economia ultrapassou os limites da Constituição e mudou as regras de cálculo dos salários do servidores para efeito do teto constitucional.
Foi criado o teto duplex. E os maiores agraciados foram, justamente, os militares. O presidente teve aumento no contracheque, assim como os ministros da Defesa, Braga Netto, e da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos — este, com reajuste de 69%.”

“Para especialistas, diante de tantas benesses e de mais de seis mil cargos no governo — isso é o que se sabe —, não haveria como os militares se voltarem contra o governo. Pelo contrario, a determinação é fazer tudo o que Bolsonaro quiser.”

ELETROBRÁS – Energia é um fator avaliador da civilização. Quanto maior o consumo per capita de um povo, sabe-se que nível ele atingiu de bem estar e de disponibilidade das conquistas civilizatórias. As mais eficazes fontes de energia são a dos combustíveis fósseis (carvão e petróleo) e da eletricidade, onde se destacam a hídrica e a nuclear. Todas demais fontes ou são mais dispendiosas ou ainda não foram inteiramente desenvolvidas, para que se tenha a garantia do seu fornecimento.
A compreensão desta necessidade e as iniciativas para solução ocorreram no Brasil com a revolução popular e militar de 1930, nos governos de 1930 a 1945 do grande estadista Getúlio Vargas (1882-1954).
O Brasil, com muito esforço, povo nas ruas, militares nacionalistas, chegou ao estágio institucional mais adequado à administração da energia com três empresas brasileiras: a Petrobrás e a Eletrobrás, projetos de Vargas, e a Nuclebrás, criação do general Ernesto Geisel, que, na presidência do País, também ampliou o âmbito de atuação da Petrobrás. A Eletrobrás teve grande impulso técnico-administrativo no governo do general Médici, com a assinatura do Tratado de Itaipu (26 de abril de 1973).
A privatização ou a transferência do controle da Eletrobrás, perder uma empresa nacional para estrangeiros, é o projeto que mobiliza no momento o governo em seus âmbitos executivo, legislativo e judiciário, estando as Forças Armadas acuadas, como verificamos no Caso Pazuello.
Não discorrerei sobre aspectos técnicos do que significa para o Brasil não dispor da Eletrobrás, pois os artigos do Roberto Pereira D’Araujo, engenheiro eletricista, mestre em Sistemas de Potência, Diretor do Instituto Ilumina, no AEPET Direto (http://www.aepet.org.br/w3/index.php/periodicos/aepet-direto-diario) são precisos e esclarecedores. Sob a ótica política, o artigo do jornalista Beto Almeida, “Defesa da Eletrobrás Deve Ganhar as Ruas”, no site Salve a Energia (salveaenergia.com.br), é completo e abrangente.
ESTADO QUE SE DESFAZ – Vou tratar do Estado Nacional.

Os gestores de ativos, como tenho designado os capitais apátridas, sediados em paraísos fiscais, desde que passaram a acolher os dinheiros das drogas, de toda sorte de ilicitudes e ações marginais, tem como objetivo a transformação dos Estados Nacionais em agentes financeiros e policiais de seus interesses.
Uma Nação existe quando um território é ocupado por um povo que se identifica como pertencente àquele espaço. Mas um Estado exige mais; ele se forma com um ideal, uma filosofia organizacional que vai defender o território e o povo que ele ocupa. Daí termos Estados Coloniais, governados de fora, Estados Federativos, que abrem mão de parte de sua soberania, e Estados Nacionais. Apenas Estados Nacionais são soberanos, decidem conforme o entendimento do seu povo, que não é composto de escravos, mas de cidadãos.
O empenho de criar um Estado Nacional começa, em 1822, com o Projeto de José Bonifácio de Andrada e Silva, em oposição aos interesses das finanças inglesas, que valeram ao Patriarca de nossa Independência, exílio e morte no esquecimento. O Brasil escravista sempre foi um País Colônia, contra o qual lutaram os revolucionários de 1930, Getúlio Vargas à frente, e, mesmo sem buscar o apoio popular, o Governo do general Ernesto Geisel.
A partir de 1990, as finanças internacionais passaram a dominar os Estados Nacionais, mesmo aqueles que formaram Impérios, como a França, a Inglaterra e os EUA.
O Brasil vem trocando de dono, primeiro Portugal, depois a Inglaterra, os EUA e, agora, os gestores de ativos.
Os gestores de ativos, com seus capitais ilícitos, não pretendem que o Brasil seja minimamente capaz de defender seu território, veja como se articula a alienação da Amazônia brasileira, e muito menos seu povo, não mais de trabalhadores e empresários, porém formado por microempreendedores (MEIs) e pessoas uberizadas, os escravos do século XXI. O caso Pazuello é a continuidade do desmonte das Forças Armadas, que os milicianos poderão tomar o lugar.
Por isso uma empresa importante para integração do território nacional, como os Correios, que na Inglaterra foi fundamental na construção de seu sistema de informação, o MI-6 (Military Intelligence, Section 6), e empresas de energia como a Eletrobrás, a Petrobrás e a Nuclebrás são fatiadas e entregues para gestão alienígena, e as polícias estaduais vão ganhando autonomia (veja o recente caso em Pernambuco e vários no Rio de Janeiro) e sendo milicianizada, para enfrentar, se necessário, as Forças Armadas no controle do território nacional.
Estes projetos em andamento, com a colaboração das mortes pelo covid, são o que se espera, se os brasileiros, como no título do citado artigo do Beto Almeida, não forem para as ruas, lutar pelo Estado Nacional, pela imprescindível Questão Nacional, pela nossa soberania.
*Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado.

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