É o craque que decide … “O segredo é jogar com entusiasmo, simplicidade e, sobretudo, pensar cada jogada antes da bola lhe chegar aos pés. O importante, portanto, não é ver a jogada, mas antever” (Pelé)
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Foi a primeira Copa do Mundo jogada no continente asiático e também a primeira disputada em dois países diferentes, próximos territorialmente mas com problemas, mágoas históricas: – A continental Coreia do Sul e o Japão, a mais rica e importante ilha do Pacífico.
Pra nós, uma copa “do outro lado do mundo”, uma diferença de 12h no fuso horário. Foi lá, tão longe, que nos tornamos Campeões do Mundo pela quinta vez, o Penta, que só o Brasil conquistou. Uma façanha, graças ao talento dos três ‘erres’, o trio de atacantes Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho. Craques. Eles fizeram a diferença nos gramados japoneses e coreanos. Há 20 anos. Desde então, só os europeus conquistaram o título (estamos às vésperas da Copa do Catar, outro capítulo).
Diplomacia da bola
Rixa e mágoas entre Japão e Coreia do Sul vêm do começo do século XX, históricas. Em 1910 o Japão invadiu e anexou a Coreia, mantendo-a como uma colônia até o final da segunda grande guerra, em 1945, quando os americanos despejaram duas bombas atômicas – em Hiroshima e Nagasaki, coração japonês, em agosto daquele ano.
Os coreanos acusam os japoneses de, durante esse período colonial, terem estuprado suas mulheres e escravizado seus homens, em trabalhos forçados, trancafiados no Japão, gerações arruinadas. Feridas difíceis de cicatrizar, mesmo depois de restabelecidas as relações diplomáticas entre as duas nações, o que só foi acontecer em 1965.
Tudo isso ressalta a importância das articulações e diplomacia da FIFA – leia-se João Havelange – pondo a ‘deusa’ bola e o fascínio do futebol como agregadores, o jogo de bola como uma manifestação cultural promotora de união, entendimento e paz entre os povos. E a Copa da Ásia aconteceu sem incidentes, uma grande festa congregadora.
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– Os estudiosos da imigração japonesa dizem que cerca de 250 mil nipônicos (nascidos no Japão) vieram ‘ganhar a vida’ no Brasil, numa movimentação humana intensa que durou uns 65 anos. Pois, durante a Copa de 2002 esse movimento já se invertera e cerca de 300 mil brasileiros (os decasséguis) já viviam/trabalhavam e estudavam no Japão.
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Os estádios
Os jogos aconteceram em 20 cidades, 10 coreanas e 10 japonesas. Todos os estádios coreanos utilizados foram construídos para o evento e inaugurados em 2001. No Japão, seis estádios foram inaugurados em 2001. Os japoneses já tinham uma liga de futebol profissional, a J-League, desde 1993.
– Os brasileiros Zico e Careca, que encerraram suas carreiras atuando pelo Kashima Antlers – clube da empresa Sumitomo – e pelo Hashiwa Reysol, da Hitachi, tiveram um papel fundamental no desenvolvimento e sucesso do futebol no Japão. E, por que não dizer, em toda aquela região asiática. Zico é idolatrado pelos japoneses, até hoje.
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– As cidades eleitas como sede dos jogos na Coreia do Sul: – Seul, Daegu, Busan, Incheon, Ulsan, Suwon, Jeonju, Gwangju, Seogwipo e Daejeon.
No Japão: – Yokohama, Saitama, Osaka, Shizuoka, Miyagi, Oita, Nigata, Kobe, Ohaido e Ibaraki.
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O ocaso de FHC
O presidente Fernando Henrique chegava ao fim de seu segundo mandato, ainda a tempo de recepcionar e comemorar juntos com os vitoriosos jogadores, em Brasília, a conquista do Penta em gramados asiáticos do outro lado do mundo. Restou-nos a imagem do baiano Vampeta, mamado e doidão, às cambalhotas pela rampa do palácio, num clima de absoluta descontração e alegria. Na sequência, assumiria a presidência, enfim, o novo eleito Luis Ignácio Lula da Silva, dando início à era do PT, de 16 anos no poder – dois mandatos de Lula, mais um mandato e meio de Dilma Rousseff, presidenta derrubada por impeachment depois da malfadada Copa de 2014 no Brasil.
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Em 2022 a população brasileira beirava os 170 milhões de habitantes, mais de 81% residindo em áreas urbanas. A expectativa de vida dos brasileiros chegava em média a 65 anos. O salário mínimo era de 200 reais, o dólar custava 3,55 reais e a inflação passou dos 10%/ano.
A música ‘Festa’, na voz de Ivete Sangalo, tornou-se o hino da copa e o filme ‘Cidade de Deus’, de Fernando Meireles e Kátia Lung bateu recordes de bilheteria (mais de dois milhões de ingressos vendidos). Economia estável e o país em céu de brigadeiro.
O grande trauma mundial acontecera em setembro de 2001, nos EEUU, com o atentado terrorista às duas torres de Nova Iorque, visto ao vivo e em cores mundo afora, fato que mudaria as feições do novo século, afetando as relações políticas internacionais e o comportamento em todo o planeta.
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O roteiro do Penta
Superação seria a palavra da façanha do futebol brasileiro na Ásia. O treinador Felipão abrira mão do baixinho marrento carioca Romário apostando todas as suas fichas na recuperação a tempo do centroavante Ronaldo, o Fenômeno, que lutava desesperadamente, com oito horas diárias de fisioterapia puxada, sem refrescos, para voltar a campo depois uma delicada cirurgia de joelho (rompeu os ligamentos patelares). O atleta decidiu que faria de tudo para jogar em alto nível a Copa, e todo o sacrifício valeu a pena. Cafu, parceiro e capitão do time, conta que os companheiros se revezavam para estar junto de Ronaldo a cada sessão de tratamento, incentivando-o, ajudando-o. “Sem o apoio e a força deles não sei se conseguiria”, diria Ronaldo, depois.
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O Brasil começou vencendo a dura Turquia (2 x 1, de virada) na manhã (o jogo começou às 6h, de Brasília, fuso horário de 12 h) de uma segunda-feira, dia 3 de junho, no Munsu Stádium, em Ulsan, na Coreia do Sul, com um gol de Ronaldo e o desempate já aos 41’ do segundo tempo, num pênalti mal marcado em Luizão, que foi puxado pela camisa fora da área. Rivaldo converteu.
A seleção começou bem, criou boas chances, mas os turcos encardiram, o goleirão Rüstü fechando o gol, e assustaram, abrindo o placar aos 47’ do primeiro tempo, num cochilo de nossa defesa, bola alçada nas costas da zaga e o chutaço de Hasan Sas. Ronaldo empatou logo aos 5 minutos do segundo tempo, escorando cruzamento de Rivaldo. A retranca turca só foi varada com a malandragem de Luizão, que entrara no lugar de Ronaldo por volta dos 30 min. O atacante foi puxado fora da área mas mergulhou e caiu dentro da zona penal, a arbitragem coreana foi na dele. Rivaldo fez os 2 x 1. Bons presságios. O treinador turco deixou o campo injuriado com a arbitragem.
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China chin-ling
O jogo seguinte foi um passeio (4 x 0) na China. Um sábado, 8 de junho, no Jeju Stadium, em Seogwipo, na Coreia, oito e meia da manhã no Brasil, mais de 36 mil pessoas no estádio. Ronaldo, ainda em tratamento e buscando sua melhor forma voltou a ser substituído no segundo tempo e os gols saíram com certa facilidade.
O primeiro de Roberto Carlos, cobrando falta com chute direto e violento, o goleiro chinês nem viu por onde passou, logo aos 15’. Aos 31’, Ronaldinho cruzou da esquerda e Rivaldo escorou na pequena área: 2 x 0. No final do primeiro tempo, Ronaldo penetrou na área chinesa, costurando, foi puxado pela camisa e agarrado no braço; Ronaldinho cobrou o pênalti e fez 3 x 0. Ronaldo fez 4 x 0 aos 10 minutos do segundo tempo, completando na pequena área um bom cruzamento de Cafu, da direita (4 x 0). E o time brasileiro puxou o freio de mão, trocou passes, administrou a goleada.
Lavada de cinco
No dia 13 de junho, uma quinta-feira à noite, ainda na Coreia (Suwon Stadium), o Brasil golearia a seleção da Costa Rica (5 x 2), pintando, à partir daí, como forte candidato ao título. Felipão poupou Roque Junior, Roberto Carlos e Ronaldinho, substituídos por Polga, Junior Nagata e Edílson. Kaká entrou no segundo tempo no lugar de Rivaldo e Kléberson assumiria a titularidade, com uma atuação soberba, compondo o lado direito do time, ao lado de Cafu.
Ronaldo, ainda entrando em forma mas jogando com muita vontade, fez os dois primeiros gols aos 10’ (completando cruzamento de Edilson, da esquerda) e aos 13’, livrando-se na área de dois marcadores e acertando o canto do goleiro. A Costa Rica foi pra cima, inteira, mas o líbero Edmílson fez um golaço de meia bicicleta, após outra boa jogada de Edilson. A Costa Rica diminuiu antes do intervalo (3 x 1), e Rivaldo, comendo bola, desperdiçou uma chance na pequena área e depois acertou a trave costarriquenha antes de descer pro vestuário, a hora da merenda.
No segundo tempo, ousada, a Costa Rica chegou aos 3 x 2, num cochilo da zaga canarinho, aos 11’. Gomes completou de peixinho um cruzamento de linha de fundo. Mas o susto logo passou com o gol de Rivaldo, aos 17’, completando boa jogada do lateral baiano Junior, pela esquerda. O mesmo Junior fecharia o caixão costarriquenho, três minutos depois, recebendo passe longo perfeito de Rivaldo, entrando em velocidade pela canhota, deslocando o goleiro. O Brasil estava nas oitavas com pinta de campeão, depois dessa goleada.
Bélgica dificultou
Só que os Belgas encararam o Brasil de igual para igual, deram trabalho no jogo mata-mata das oitavas de final, dia 17 de junho, uma segunda-feira, no Kobe Wing Stadium, no Japão, mais 40 mil presentes nas arquibancadas. Foi um jogo intenso e ofensivo na primeira etapa, com o goleiro Marcos trabalhando muito, Ronaldo finalizando, Rivaldo bicicletando… mas a bola brasileira não entrava e ainda aconteceu um lance discutível de gol anulado da Bélgica, numa cabeçada de Wilmots em que o árbitro viu empurrão do atacante em Roque Junior – não tinha VAR ainda e os belgas foram para o intervalo cuspindo marimbondos pra cima do soprador de apito, o jamaicano Peter Prendergast.
Os gols saíram na segunda etapa. Os belgas pilhados no recomeço, obrigando o goleiro Marcos a duas defesas salvadoras. O primeiro gol foi uma pintura do meia-atacante Rivaldo, aos 22 minutos: Ronaldinho achou Rivaldo na meia lua, de costas para o gol, ele ajeitou no peito e girou no ar, sem deixar a bola cair, acertando de voleio, de canhota, o canto do goleiro De Vlieger, um golaço! Os belgas não se entregaram, fazendo de Marcos um dos destaques do jogo, sufocando. O arrocho só aliviou aos 42 minutos, numa arrancada espetacular de Kleberson pela direita, achando Ronaldo livre, entrando na área inimiga pela meia esquerda; o chute do artilheiro, de canhota e de primeira, foi feliz, por baixo do goleiro (2 x 0).
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Os ingleses, nossos próximos adversários pelas quartas-de-final, estavam de olho, nas arquibancadas, e deixaram o estádio convictos que venceriam o Brasil, por conta da nossa fragilidade defensiva. Mas esqueceram-se que na frente tínhamos os três erres que faziam e fizeram a diferença na Copa: Rivaldo, Ronaldinho e Ronaldo. Iluminados.
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O gol fantasma
O Brasil x Inglaterra daquele 21 de junho, no Shizouka Stadium, no Japão, tinha ares de uma grande final antecipada, duas camisas históricas em campo, muita rivalidade e equipes que vinham fazendo bons jogos na copa da Ásia. Jogão de bola, 48 mil presentes nas arquibancadas, arbitragem mexicana, uma tarde de sexta-feira.
Os ingleses, nariz empinado, começaram impondo ritmo, velocidade, corpo-a-corpo, bolas alçadas, Marcos e a defensiva canarinho trabalhando. Mas, aos poucos o Brasil foi equilibrando, atuando mais no campo adversário. Só que, aos 23 minutos, num chutão da defensiva inglesa, o nosso becão Lúcio se atrapalhou no corte e o atacante Owen, esperto, ficou com a sobra, deu um totó encobrindo Marcos que saia do gol tentando abafar a jogada: Inglaterra 1 x 0.
O gol abalou um pouco o time canarinho e os ingleses tiveram uns 15 minutos de domínio da partida, até poderiam ter definido o jogo. Não o fizeram e o trio ofensivo brasileiro apareceu. O gol de empate surgiu no finalzinho da primeira etapa, depois de uma pipocada do bem penteado Beckham numa dividida com Roque Junior e Roberto Carlos. Ronaldinho apanhou a sobra da pelota no grande círculo, ainda no campo defensivo e disparou, varando a defensiva inglesa pelo meio, com gingas e pedaladas, até achar Rivaldo penetrando pela direita; passe perfeito, no chão, Rivaldo ajeitou o corpo, trocou de pé e bateu de canhota, cruzado, rasteiro, empatando 1 x 0. Ufa, descíamos para o intervalo respirando fundo.
O gol do desempate foi uma obra de arte ou… um daqueles lances fantasmas, de sorte? O gênio Ronaldinho Gaúcho jura que acertou, que buscou o gol, vira o goleiro adiantado e tentou… Golaço! Logo aos 5 minutos, no retorno da merenda, Kléberson foi derrubado pela meia direita, a uns 30 metros do gol inglês. Barreira posta com apenas dois homens, todos esperando aquela bola alçada em cruzamento para uma disputa de cabeça na área inglesa, mas Ronaldinho bateu de direita, direto, a bola descaindo feito uma folha seca nas costas do goleiro Seaman (38 anos, do Arsenal) que se estatelou contra a trave, a pelota entrando na gaveta, no ângulo superior direito do gol inglês (2 x 1 Brasil).
Aos 17’, o Brasil ficaria com um jogador a menos em campo, após a expulsão (exagerada) de Ronaldinho, após uma dividida no meio campo com o inglês Danny Mills. O árbitro viu maldade do brasileiro no lance. Mesmo inferiorizado em número de atletas em campo, o Brasil controlou bem as ações, os ingleses pareciam atordoados, sem acreditar ainda naquele gol ‘fantasma’ de Ronaldinho. Administramos bem até o final e estávamos na semifinal, de novo contra a ossuda Turquia. E com moral elevada.
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De bicuda na Turquia
Sem Ronaldinho, expulso no jogo anterior (Edilson em campo), confiantes depois do bom triunfo contra a poderosa Inglaterra e cientes daquela Turquia que já havíamos enfrentado e vencido na primeira fase da competição, o Brasil faria naquela semifinal talvez o jogo mais duro e difícil de toda a Copa – 1 x 0 sobre os turcos, dia 26 de junho, quarta-feira à noite, Saitama Stadium, no Japão, mais de 61 presentes, arbitragem de Kin Nielsen, da Dinamarca.
Os turcos, àquela altura nada a perder, foram pra cima, assombraram, tentaram surpreender no começo, obrigando Marcos a duas ou três intervenções difíceis. Superado o susto inicial, Rivaldo e Ronaldo chamaram a responsa e começaram a criar boas chances de gol, o goleiro Rüstü salvando, bolas tirando lasquinhas das traves turcas, uma primeira etapa encardida.
O gol sairia antes dos cinco minutos, após a retomada do segundo tempo. Jogada genial de Ronaldo, recebendo passe na intermediária de Gilberto Silva e encarando os marcadores, cercado. Já na área inimiga, sem ninguém para passar a bola, o artilheiro meteu de bico, entre as pernas inimigas, rasteirinha, no canto oposto, definindo: 1 x 0 – estilo Romário.
Entraram na metade do segundo tempo Belletti, Luizão, Denílson… os turcos avançavam e se expunham aos contragolpes, daí perdemos boas chances de ampliar e o goleiro Marcos nos garantiu atrás. O lance mais curioso foi a ‘garrinchada’ de Denílson, no final, prendendo a bola e gastando tempo numa lateral do campo cercado por meia dúzia de turcos que não sabiam o que fazer com a ousadia do nosso atacante. Até que o abusado Denílson foi derrubado e pisado por um deles, já próximo da bandeirinha de escanteio.
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Denílson faria 11 jogos pelo Brasil em Copas do Mundo, sempre entrando na metade do segundo tempo, explorando sua habilidade, dribles, velocidade e esperteza.
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O Brasil estava na final, contra a Alemanha, cheio de graça e confiança.
Ronaldo derrubou Kahn
A final aconteceu no dia 30 de junho, noite de domingo, no International Stadium de Yokohama, com 70 mil presentes, arbitragem de Pierlluigi Collina, italiano.
Um clássico internacional, final histórica, as duas seleções com melhores retrospectivas em Copas do Mundo, finalistas com méritos. A Alemanha de Kahn, tido como o melhor goleiro do mundo, do zagueirão Metzelder, do meia Schneider, o artilheiro Klose, o treinador Rudi Völler… mas padecendo com a ausência de seu talentoso meia, o camisa 10, Michael Ballack. Os alemães tinham uma ótima defesa e bom conjunto, jogo coletivo. O Brasil estava inteiro, leve, a cara do centroavante Ronaldo com seu corte de cabelo maluco, tipo Cascão, personagem do Maurício de Souza – o coco raspado e um chumaço na frente, estranho, pra não dizer ridículo. O artilheiro parecia se divertir com a brincadeira, de paz com a bola e com a vida.
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O primeiro tempo do jogo foi todo nosso, a despeito de os alemães terem valorizado a posse de bola, trocando passes e marcando forte no meio campo. Todas as chances claras de gol foram brasileiras, nos pés de Ronaldo (duas), Ronaldinho e Kléberson (duas), bolas triscando a trave e o goleiro Kahn aparecendo, trabalhando muito.
A segunda etapa foi diferente. Os alemães começaram em cima, tentando surpreender, dando trabalho, e boas oportunidades foram criadas lá e cá. A partida seguia indefinida, aberta e perigosa até que, aos 22 minutos… Ronaldo recuperou, roubou uma bola no ombro, no corpo-a-corpo de Hamman, perto da entrada da área alemã, o juiz Collina de olho mandou o lance seguir, o alemão caído; a bola sobrou para Rivaldo que bateu forte e rasteiro, apanhando o goleirão Kahn desatento, sem conseguir reter o balão, oferecendo o rebote… quando o goleiro abriu os olhos, tentou recuperar a bola, ela já estava nas redes, cotucada pelo rápido e atento artilheiro Ronaldo, um matador. Era o segundo gol que o goleiro alemão sofria naquela copa. Foi. Brasil 1 x 0, num momento crucial da partida. O Brasil fechou-se e os alemães passaram a chutar de longe e alçar bolas na área brasileira. Tudo sob controle.
O gol do título, de belíssima feitura, aconteceu por volta dos 33 minutos, após um chutão de Kahn, buscando o ataque … Roque Junior rebateu de cabeça, Cafu ficou com a bola e esticou na direita para a arrancada de Kléberson, voando. O meia levantou a cabeça e bateu cruzado, forte, rasteiro na direção da meia lua inimiga, onde Rivaldo invadia. Só que, ao invés de dominar a bola, com uma ginga de corpo Rivaldo abriu as pernas, fez um corta-luz e deixou a bola passar para Ronaldo que vinha por trás dele, escancarando toda a defensiva alemã. Ronaldo ajeitou e bateu seco, certeiro, a bola entrou triscando o rodapé do poste esquerdo de Kahn, que voou mas não chegou nela – 2 x 0 no placar, jogo praticamente definido e o penta conquistado.
Claro que os alemães não se entregaram, mas Jeremies perdeu gol, furando um arremate na pequena área e Marcos fez uma defesaça em chute de Bierhoff, da marca do pênalti. Denilson entraria mais uma vez, no finalzinho, para segurar a bola na frente, ganhar tempo, irritar o adversário e comemorar.
O Brasil conquistava assim seu quinto título mundial, o Penta. Único país com cinco títulos.
Cafú, o capitão do time, em sua terceira copa e terceira final, subiu no pódio com tampo de vidro, amparado por Pelé, alçando a taça e saudando com sua camiseta a comunidade do Jardim Irene, sua origem humilde.
Ronaldo foi o artilheiro da competição, com oito gols, para muitos o Craque da Copa., embora a FIFA tenha escolhido o goleiro alemão Kahn. Ronaldo foi decisivo, óbvio, embora eu tivesse escolhido Rivaldo como o melhor de toda a competição, pelo conjunto da obra, jogou demais.
– Felipão deixaria o comando da seleção em agosto de 2002, para dirigir a Seleção de Portugal. Assumiria o comando do escrete brasileiro, mais uma vez, Carlos Alberto Parreira, em fevereiro de 2003. Ele levaria a seleção à Alemanha, em 2006.
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