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terça-feira, 3 dezembro, 2024

Conquistas e desafios oito anos após a assinatura do Acordo de Paz na Colômbia

Bogotá (Prensa Latina) Oito anos após a assinatura do Acordo Final de Paz, alcançado entre as extintas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia-Exército Popular (FARC-EP) e o Governo, permanecem múltiplos desafios para o seu pleno cumprimento.

Por Ivette Fernández

Correspondente-chefe na Colômbia

Conforme reconheceu o Ministro do Interior, Juan Fernando Cristo, quatro anos foram perdidos devido à estagnação sofrida na execução dos pontos desse pacto como resultado da inação da administração de Iván Duque (2018-2022).

No entanto, garantiu que o compromisso do atual executivo é avançar ao máximo para honrar os eixos contidos no Acordo assinado em 24 de Novembro de 2016.

Para isso, explicou Cristo, o Governo procurará garantir que as questões relacionadas com as áreas com Programas de Desenvolvimento com Enfoque Territorial (PDET) não se concluam em 2030, que é o que está estipulado, mas sim sejam prorrogadas até 2038.

“Este Governo está avançando com o Plano de Choque destinado a avançar na implementação e nos pactos territoriais para transformar os 170 municípios do PDET. “São passos concretos para dar resposta aos sete milhões de colombianos que ainda aguardam a promessa de paz: educação, infraestruturas e projetos produtivos”, disse o responsável.

Disse também que, com o apoio do Conselho de Segurança da ONU, estão a trabalhar para obter resultados tangíveis que beneficiem aqueles que mais precisam.

O ministro destacou ainda que com a assinatura de 16 pactos territoriais em igual número de zonas do PDET, foram criados 402 projetos graças à participação dos cidadãos, que contribuíram com 33 mil iniciativas.

Confiou que todos estes planos poderão ser concretizados nos próximos anos com a contribuição dos diferentes atores sociais.

O presidente do país, Gustavo Petro, revelou por sua vez que as comunidades que deveriam ter sido beneficiadas nos últimos anos não viram as melhorias já que o capital destinado a esse fim foi roubado.

“Foram investidos bilhões de pesos ao longo destes oito anos e, quando fomos ver as obras – diretamente sob a responsabilidade do diretor de Planejamento Nacional – as obras não estão lá. Houve adiantamentos, contratos assinados, houve transferências da Nação para pagar esses contratos e as obras não estão lá”, afirmou.

Diante desta situação, enfatizou que é necessário avançar na transformação dos territórios mais afetados pela violência e pela pobreza.

REFORMA RURAL ABRANGENTE

Sem dúvida um dos pontos mais sensíveis do Acordo é o da Reforma Rural Integral. Segundo o presidente do país, há um valor global de 300 mil hectares entregues aos agricultores dos três milhões que foram acordados, apenas 10 por cento.

O chefe de Estado afirmou então que pretende duplicar a entrega de terras na Colômbia no próximo ano com 600 mil hectares transferidos para os agricultores e maximizar as Zonas de Reserva Camponesa.

Contudo, alertou que para atingir o objetivo proposto é necessário alterar as regras e que ao recorrerem ao órgão legislativo encontram falta de vontade porque aí “os artigos perderam-se, foram parados, ou não foram aprovados”..”

Revelou que se o Congresso decidir não modificar as regulamentações que “facilitam a transferência de terras nas mãos de perpetradores ou de grandes proprietários improdutivos ao campesinato colombiano”, não será possível cumprir o objetivo de entregar três milhões de hectares.

Petro garantiu que o Acordo de Paz diz especificamente que tudo o que dificulte o seu cumprimento deve ser mudado.

No entanto, observou ele, as terras que deveriam estar nas mãos do campesinato para a produção de alimentos estão atualmente em poder dos “descendentes dos paramilitares”.

PROTEÇÃO DE SIGNATÁRIOS

A assinatura do Acordo também trouxe consigo a necessidade de o Estado aplicar medidas para salvaguardar a vida dos ex-combatentes das FARC-EP.

Sobre o assunto, o antigo líder guerrilheiro e atual presidente do Partido Comunes, Rodrigo Londoño, alertou para as condições de segurança dos signatários e das comunidades adjacentes aos espaços de reintegração, que descreveu como graves.

“Há 438 signatários assassinados, dezenas deles estão desaparecidos, centenas vivem sob ameaças, há milhares de deslocados”, enfatizou.

Argumentou que não se pode explicar que um elevado número de signatários ainda permaneça na prisão e que não se pode conceber a ineficácia de todos os ramos do poder para obter a repatriação e a liberdade do ex-guerrilheiro Simón Trinidad, extraditado arbitrariamente para os Estados Unidos.

O mesmo Estado reconhece que, além dos ex-guerrilheiros, desde a assinatura do Acordo, também foram assassinados 1.386 líderes sociais.

“Depois de dois anos de governo, ainda persiste a necessidade de alcançar resultados com maior impacto na proteção da vida”, reconheceu a diretora da Unidade de Implementação do Acordo de Paz, Gloria Cuartas.

Com o objetivo de reverter parte do cenário atual, foi alcançada a aprovação e implementação do Plano Estratégico de Segurança e Proteção e do Programa Integral de Proteção aos signatários da paz, seus familiares e membros do Partido Comunes, nascidos após a desmobilização das FARC. .EP.

Segundo o responsável, foram criadas 24 vias de resposta imediata para garantir a proteção dos ex-combatentes, que estão implementadas em 27 departamentos, e foram realizadas 62 sessões territoriais da Mesa Técnica de Segurança e Proteção.

REALIZAÇÕES APESAR DE TUDO

Embora o caminho a percorrer ainda pareça muito longo para honrar o Acordo de Paz de 2016, uma das coisas mais valiosas já alcançadas é o compromisso do atual Governo em recuperar o tempo perdido e derrubar os obstáculos que ainda persistem.

Isto foi reconhecido por Londono quando comemorou a extensão do mandato da Missão de Verificação das Nações Unidas e também a extensão da implementação até 2038, de acordo com as novas realidades e a necessidade de maior eficácia.

“Expressamos a nossa satisfação pelo Plano de Choque anunciado perante o Conselho de Segurança da ONU pelo atual Governo e pelos esforços envidados para materializar a Reforma Rural Abrangente e levar aos territórios abandonados o desenvolvimento económico e social e o plano abrangente de reintegração adoptado”, ele disse.

É também um sinal encorajador que 12.105 signatários ativos da paz, um número próximo de 86 por cento, mantenham a sua palavra de se manterem afastados das armas.

Para promover a reintegração, foram desembolsados ​​​​um total de 12.591 milhões de pesos (cerca de três milhões de dólares ao câmbio atual) com vista a projetos produtivos nesta população de 32 departamentos e foram adquiridos e entregues mais de 12 mil hectares de terras. aos signatários em 55 propriedades.

Estas conquistas, ainda insuficientes para cobrir todas as exigências do Acordo, foram reconhecidas pela Secretária-Geral Adjunta das Nações Unidas para Assuntos Políticos e de Consolidação da Paz, Rosemary A. DiCarlo, que visitou o país durante três dias.

Nas suas declarações, a representante da ONU considerou que o pacto de 2016 representou um marco na história da nação sul-americana e despertou a esperança, tanto no país como no resto do mundo, na possibilidade de paz.

“Na Colômbia estão a escrever uma história diferente, sobre paz e inclusão, uma paz ampla e duradoura que, embora não tenha sido alcançada, ainda está ao nosso alcance”, revelou.

Reconheceu também as iniciativas de diálogo lançadas pelo atual Governo com os restantes grupos armados e reafirmou o compromisso da ONU em acompanhar os processos desnvolvidos em defesa da coexistência pacífica.

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