México, (Prensa Latina) Nos últimos tempos, as informações sobre migraçãoÂáparecem ter se deslocado da Europa ao México, como se o velho continente tivesse se livrado de um assunto que continua sem solução e fosse unicamente do novo mundo.
Chama a atenção que as pessoas desses continentes que chegam à fronteira sul mexicana, divisória com a Guatemala, cheguem por via terrestre, o que significa que devem percorrer uma quantidade impressionante de quilômetros, por ar ou por mar, muito superior ao deslocamento para Espanha, Itália ou França.
Qual é a origem desta suposta mudança de rota? Há várias explicações, mas a mais aceita é que essa migração percebe que nestes momentos o México é a opção mais vantajosa perante o bloqueio da Europa contra sua entrada, com violação de seus direitos humanos, ao ponto extremo de que para eles o Mediterrâneo é a rota mais fatal do mundo.
A verdade é que a cada dia cresce o número de africanos que se deslocam para trabalhar no México, com a esperança de continuar para Estados Unidos ou Canadá depois do sonho americano que na realidade se converte em um pesadelo.
Esta situação contribui – ainda que não seja o fator determinante – para que o México passe agora de ser um país de trânsito para um de destino final dos imigrantes africanos.
É claro que também chegam a alguns países sul-americanos, mas a grande maioria escolhe a América Central com a ideia de atravessar o México e entrar nos Estados Unidos, para seguir a rota inaugurada por hondurenhos, salvadorenhos e guatemaltecos, a quem se somaram em caravanas multitudinárias.
Algo parecido acontece com os haitianos, que muitas vezes viajam sem documento de identidade para se misturar com africanos no critério equivocado de que passarão melhor pela fronteira com os Estados Unidos se não revelarem sua nacionalidade, já que as autoridades desse país sempre lhes negaram entrada.
A verdade é que às dezenas de milhares de centro-americanos que saem em caravanas de Honduras para Tapachula, se somam outros milhares de africanos, asiáticos e caribenhos que exercem uma pressão extrema sobre autoridades locais,Âásobrecarregadas suas possibilidades de lhes dar atenção à quantidade massiva em que chegam.
Alguns analistas locais consideram que a mudança de política migratória do governo de Andrés Manuel López Obrador, de não repressão e atenção humanitária eÂáoutorga de vistos temporários para trabalhar no México, tem estimulado os migrantes e é uma das causas pelas quais tem aumentado seu fluxo, o que poderia ser parte da verdade, mas não toda a verdade.
A tese do governo é que a migração atual é obrigatória, enquanto as pessoas que decidem abandonar seus países não o fazem por prazer, mas porque são mínimas as possibilidades de sobrevivência pela fome, doenças, falta de oportunidades, miséria, guerra e violência.
Em consequência, mais importante que autorizar vistos ouÂáconstruir muros fronteiriços, ou militarizar áreas extensas, é atacar com programas de desenvolvimento sustentável, econômicos e sociais, as causas que geram o êxodo, mas o México ficou muito sozinho nessa batalha.
Enquanto o governo federal, em especial as autoridades locais, suportam uma pressão intensa, tanto na fronteira sul – que é a entrada da migração – como no norte que é teoricamente a saída.
No entanto, na verdade, não é a saída, pois os Estados Unidos devolve a território mexicano aqueles que conseguem entrar para que esperem os resultados da gestão de seu visto, o que pode demorar até mais de um ano.
Para o México se apresentou um problema adicional: é que a maioria dos migrantes recusa as ofertas de trabalho no sul, onde se concentram grandes e importantes planos de desenvolvimento do governo como os trens Maya e Transísmico, e o reflorestamento de vastas áreas que exige milhões de assalariados.
Os imigrantes preferem a Cidade do México – onde já não cabe nem mais um alpiste e é a capital mais povoada do mundo – ou ao norte onde, além de estarem mais perto do ‘sonho americano’, os salários são mais altos.
Outro problema adicional é que as caravanas de migrantes são criadas sem uma seleção de seus integrantes, algo que parece literalmente impossível, e se misturam com as pessoas necessitadas muitos indivíduos de má conduta que causaram episódios de violência lamentáveis, aproveitando a ordem de não repressão.
Toda essa situação tem dificultado que se cumpra em toda sua dimensão e projeção o objetivo do governo de conseguir uma migração ordenada, controlada, legal e pacífica na qual o imigrante escolha livre e soberanamente entre obter um visto humanitário com direito a trabalho, ser deportado a seu país de origem com assessoramento e outras garantias, ou fazer questão de seu objetivo de seguir viagem e dar entrada a um visto nos Estados Unidos.