Lima (Prensa Latina) Diversas críticas foram feitas ao presidente Pedro Pablo Kuczynski no Peru, por ter comparado a América Latina a um cão dócil em sua relação com os Estados Unidos, numa recente visita ao país do norte.
‘Os Estados Unidos focam naquelas áreas onde existem problemas. Como o Oriente Médio. Não investe muito tempo na América Latina, pois esta é como um cão simpático que está dormindo no tapetinho e não dá nenhum problema’, disse Kuczynski ao receber uma distinção da universidade de Princeton.
Para o historiador e colunista do jornal La República Nestor Manrique a declaração provoca vergonha. ‘A comparação indigna que PPK faz da América Latina com um cachorro’, o que poderia ser atribuído a sua idade (78 anos), ainda que tenha demonstrado que esteja ‘em plena posse de suas faculdades e é responsável, portanto, por seus atos e por suas declarações’.
Acrescenta que Kuczynski não falou como deveria um presidente latino-americano, no contexto da problemática carga histórica das relações com os Estados Unidos e quando vai ser construído um muro para partir a América em dois.
O comentário, pelo contrário, corresponde a ‘um gringo conversando com outros gringos, recorrendo aos tópicos com os quais os gringos costumam caracterizar seus vizinhos do sul: mascotes irrelevantes ou problemáticas, como a Venezuela’, assinala Manrique, ao pedir que Kuczynski defina de que lado está seu coração.
O analista internacional Alberto Adrianzén, ex-parlamentar andino, considerou que o presidente peruano se enganou ao referir-se dessa forma aos governos latino-americanos.
‘Os países da América Latina não são cachorrinhos sabujos dos Estados Unidos, e sim o contrário. Kuczynski deveria se desculpar aos povos da América Latina que lutam por seu desenvolvimento e sua independência’, acrescentou, coincidindo com uma crítica pública feita pelo presidente da Venezuela, Nicolás Maduro.
Advertiu que Kuczynski tem que pensar no que vai dizer e não deve esquecer que é preferível ‘ser dono de meus silêncios que escravo de minhas palavras’.
Adrianzén assinalou que a essa grosseria do governante acrescenta-se o preocupante anúncio do presidente norte-americano, Donald Trump, durante visita recente, de que Lima vai comprar armas de Washington.
O analista político Gustavo Espinoza, por sua vez, critica Kuczynski por sugerir que a América Latina ‘é um animal adestrado, dócil e fiel aos Estados Unidos, que joga o papel de amo nesta história’.
‘Esta visão é insolente e, ademais, inaceitável não só por seu caráter, mas também porque, adicionalmente, proviria do chefe de Estado de um país latino-americano formalmente independente e soberano’, acrescenta Espinoza.
Critica, ademais, o alinhamento de Kuczynski a Trump na hostilidade com a Venezuela e recorda a história obscura do intervencionismo de Washington na região e sua política de promoção de ditaduras.
A colunista Alejandra Dinegro escreveu no jornal Uno que as declarações de Kuczynski ‘são indignas, insolentes e inaceitáveis’ e assinalou que a América Latina vem demonstrando nos últimos 50 anos que já não é o quintal traseiro dos Estados Unidos, sendo Cuba o claro exemplo disso.
‘É importante defender nossa soberania e recusar estas declarações infelizes de um presidente que não nunca deixou de ser um ‘gringo” e que só pensou em voz alta ao fazê-las, acrescentou Dinegro.