Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
César Fonseca
Lula, à esquerda da Frente Ampla, como demonstraram seus três discursos de posse, já alinha-se contra a ortodoxia neoliberal, que vinha cantando a bola de elevar o preço dos combustíveis, para enquadrar o governo no discurso da Faria Lima de dar prioridade ao ajuste fiscal e não ao social; não, a nova ordem é combater a fome com nova política de preços para Petrobrás; o novo presidente deu o tom na preferência de ter o povo colocando-lhe a faixa presidencial pela imaginação criativa da primeira dama, Janja, criando novo imaginário nacional em cena.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não entendeu o simbolismo lulista-janjista trabalhista; caiu numa escorregada precoce, antecipando que seriam cortados os subsídios concedidos pelo ex-presidente Bolsonaro por intermédio da suspensão da cobrança do ICMS sobre combustíveis, em jogada, puramente, eleitoral, que, claro, aprofunda déficit público.
Isso agradaria os governadores, mas prejudicaria os consumidores, afetados pela política de preços da Petrobrás, avalizada pelo Planalto sob Bolsonaro, de dolarizá-los e, consequentemente, encher os bolsos dos acionistas privados, enquanto eram cortados investimentos da empresa no desenvolvimento nacional, negando seu papel desenvolvimentista.
O resultado, evidente, seria o desgaste inicial e decisivo do mandato de Lula, se seguisse orientação antinacionalista bolsonarista, que o desavisado Haddad deixou, inadvertidamente, antever, ou seja, defendendo o discurso do mercado para cortar imediatamente os subsídios, enganosamente, favoráveis ao consumidor em nome de combate ao déficit público.
Lula, aparentemente, assinou em baixo no que Bolsonaro havia autorizado, mas adiou a pregação de Haddad-mercado, porque pretende tirar primazia de fazer política de preços para mercado especulativo; o Planalto, sob Lula, terá a sua própria política, tratando a empresa não com os olhos meramente privados, mas, essencialmente, voltados ao interesse público.
O presidente sobretudo, vai “abrasileirar” os preços dos combustíveis e não externaliza-los ao sabor do mercado internacional, como se o Brasil não fosse um dos maiores detentores de petróleo do mundo, capaz de desenvolver tecnologias de extração sofisticada, campeão do mundo em produtividade, do poço ao posto, capaz de produzir barato, sendo, internacionalmente, competitivo, dispondo de folga para arrecadação mais do que suficiente para dar conteúdo econômico, financeiro e social à empresa, de forma simultânea, capaz de alavancar desenvolvimento industrial nacionalista.
POLÍTICA COMANDA PETROBRÁS E A ECONOMIA
Haddad deveria, antes de falar, ouvir o discurso inicial do presidente, que cortou as asas do mercado ao qual o ministro dera ouvidos; certamente, o novo presidente não vai prejudicar os governadores, afetados, diretamente, sem a receita do ICMS, sem a qual não governam e passam a ser totalmente dependentes do tesouro nacional; Lula, apenas, mudará, como antecipou no seu discurso de posse, qualitativamente, a política, pois já convoca os executivos estaduais para concertarem estratégia desenvolvimentista, a qual o ministro seguirá, sob coordenação do Planalto; assim, mais cedo do que se esperava, o Ministério da Fazenda, como todos os demais, vão se enquadrar não ao mandamento econômico-financeiro- especulativo imposto pelos rentistas, mas ao político, como prometeu Lula em campanha eleitoral.
A colocação do presidente, no contundente discurso no Congresso, evidencia que chegou ao fim a política mercadista-rentista vigente na Petrobrás de buscar o empobrecimento das unidades federativas, sustentando dolarização das cotações, e transferindo, criminosamente, os lucros fabulosos da empresa não para promover desenvolvimento, mas redução dos investimentos; tudo, claro, para sobrar parte do leão em forma de lucros e dividendos aos acionistas privados, especuladores na bolsa de Nova York, onde os preços são manipulados pela política entreguista antinacionalista bolsonarista que vigorou até agora.
INDUSTRIALIZAÇÃO GETULISTA E INTERESSE PÚBLICO
Lula deixou claro que colocará na ordem do dia prioridade ao interesse público, tornando a Petrobrás instrumento fundamental para alavancar industrialização nacional, não ao interesse privado; essa é orientação que deverá seguir o novo presidente da empresa, o senador Jean Paul Prates, que sai da cena política, para comandar tecnicamente a maior petroleira da América Latina a partir da orientação política do Planalto, não ao seu posicionamento sintonizada com o interesse privado, externado quando foi advogado de empresas petroleiras estrangeiras, em que julgava possível privatizar a empresa.
Não, Prates, depois do discurso de Lula, leva choque de nova realidade; afinal quem subiu a rampa do Planalto, simbolicamente, foi o interesse popular; a nova ordem lulista, clara para a multidão na sua posse, foi primeiro, combater a fome, tarefa à qual a Petrobrás deverá se render e não fazer especulação com os preços dos combustíveis conforme defende a elite econômica e financeira especulativa.
NOVO ROTEIRO NACIONALISTA