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sexta-feira, 29 março, 2024

Com ‘grosserias’, Brasil caminha para isolamento e irrelevância no mundo, diz diplomata

ANÁLISE

A gestão do Ministério das Relações Exteriores sob a tutela de Ernesto Araújo tende a levar o Brasil ao isolamento e à irrelevância perante a comunidade internacional, afirmou à Sputnik Brasil um ex-embaixador com ampla vivência na diplomacia brasileira.

O presidente emérito do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), Luiz Augusto de Castro Neves, foi embaixador do Brasil na Argentina, Japão e China, entre outros países, além de ter sido secretário de Assuntos Estratégicos do Ministério das Relações Exteriores.

À Sputnik Brasil, Neves defendeu a nota publicada pelo Cebri no último sábado (9), na qual os rumos da política externa brasileira sob o governo do presidente Jair Bolsonaro são criticados.

Entre outras afirmações, o documento se refere a “um acumulado de erros recentes e que atingiram agora um patamar de disfuncionalidade e de prejuízo para o país ao seguir o caminho oposto do que seria natural durante a crise provocada pelo novo coronavírus”.

“[O que motivou a nota] foi a disfuncionalidade crescente da política externa brasileira está tendo como consequência a irrelevância da atuação internacional do governo brasileiro, o que é grave e altamente prejudicial aos interesses brasileiros”, disse Neves à Sputnik Brasil.

O presidente emérito do Cebri é um dos 27 signatários do comunicado, que ressalta que “em datas recentes o governo brasileiro, através do Itamaraty […] tem feito declarações gratuitas e inconsequentes, proferido votos e adotado posições que nos enfraquecem e isolam sem com isso, de forma alguma, fortalecer a defesa de nossos interesses”.

Chanceler Ernesto Araújo ao lado do presidente Jair Bolsonaro em São Paulo
© FOLHAPRESS / PAULO GUERETA / PHOTO PREMIUM
Chanceler Ernesto Araújo ao lado do presidente Jair Bolsonaro em São Paulo

“Se acumulam as queixas e ressentimentos com posições nossas que se desviam de nossa longa tradição de cooperação construtiva com a sociedade internacional. Tudo isso tem um preço que pode vir a nos ser cobrado quando mais precisamos de uma coisa que já tínhamos merecidamente conquistado e que era o mais amplo respeito da sociedade internacional que via no Brasil um parceiro amistoso, confiável e, acima de tudo, generoso”, acrescentou a nota.

Neves pontuou que parece claro que a política externa brasileira esteja sem rumo, “com algumas manifestações esparsas, grosseiras e inconsequentes”. Presidente do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), o diplomata não mencionou diretamente, mas o órgão lida com o maior parceiro comercial do Brasil, o mesmo atacado por ministros e filhos de Bolsonaro recentemente.

“Além das ‘declarações gratuitas e inconsequentes’, o Brasil tende à pior forma de isolamento, que é aquele decorrente da irrelevância de sua atuação em suas relações internacionais; acrescente-se a conduta errática de algumas autoridades em relação a países com os quais o Brasil tem parcerias estratégicas relevantes para o maior interesse nacional, que é o de promover seu desenvolvimento econômico e social”, completou o ex-embaixador.

Na sexta-feira (8), vários ex-chanceleres brasileiros – incluindo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso – divulgaram em jornais de grande circulação um manifesto contra a atual situação do Itamaraty, que é associado mais ao alinhamento automático com os EUA e o negacionismo do que com o multilateralismo que sempre regeu a política externa do país.

Em resposta, Ernesto Araújo usou as suas redes sociais e atacou tanto o manifesto quanto a nota do Cebri. O chanceler recentemente foi criticado por associar a China à COVID-19, tecendo o termo “comunavírus” para associar a pandemia a um suposto levante comunista no planeta.

As opiniões expressas nesta matéria podem não necessariamente coincidir com as da redação da Sputnik, mas coincide com os pontos de vista da redação Pátria Latina.

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