Por Tania Peña
Concluída ontem a totalidade das mesas apuradas no segundo turno eleitoral, o representante da extrema-direita colombiana Iván Duque impôs-se com 54 por cento dos votos contra 42 por cento da votação alcançada pelo ex-guerrilheiro do M-19, ex-congressista e ex-prefeito bogotano.
Tinha esperança na Colômbia Humana. Por isso o profundo pesar que invadiu os seguidores de Petro, quando conheceram a vitória do candidato do Centro Democrático, o partido fundado e liderado pelo ex-presidente Alvaro Uribe.
No entanto, Petro agradeceu e ao mesmo tempo pediu à grande coalizão de forças que lhe apoiaram a renunciar à tristeza e continuar mobilizados pela mudança. ‘Aqui não há derrota. Por agora não seremos governo’, apontou.
‘Petro, amigo, o povo está contigo’, coreava uma multidão ontem à noite nesta capital, enquanto o ex-presidenciável tentava dar um discurso de ânimo e fé na vitória futura da Colômbia Humana.
‘Somos oito milhões de colombianos e colombianas livres, de pé. Aqui não há derrota’, enfatizou em alusão ao número de compatriotas que lhe deram seu voto.
Petro comentou que o mundo estava esperando um milagre da Colômbia, por isso o respaldo à Colômbia Humana de figuras tão ilustres como o linguista estadunidense Noam Chomsky e o Prêmio Nobel de Literatura sul-africano, John Coetzee, entre outros.
No entanto, o poder das maquinarias políticas e dos eixos clientelistas que se uniram em torno de Duque e a estratégia do medo contra Petro, da qual se esbanjou na agenda midiática, pesaram na decisão do eleitorado.
Na Colômbia, ainda que todos ou quase todos o neguem, o ódio tem sido um sentimento construtor da sociedade, explicou o analista local Joaquín Robles.
Particularmente, Robles mencionou o ódio existente contra as manifestações políticas de esquerda, as quais, a seu julgamento, são demonizadas em grau quase doentio.
Ao explicar o resultado do segundo turno, Petro destacou: ‘Ganharam-nos dizendo que éramos ateus. Ganharam-nos dizendo que tínhamos matado gente, que íamos fechar igrejas, que íamos virar a nova Venezuela. Ganharam-nos com mentira após mentira’.
‘Assustamo-los tanto, que os juntamos. Mas, algum dia, muito breve, entraremos no Palácio de Nariño’, sentenciou o representante da Colômbia Humana e da Grande Coalizão pela Paz.
Para o reconhecido sociólogo argentino Atilio Borón, o que ocorreu na Colômbia é que pela primeira vez em sua história se quebrou o tradicional bipartidarismo da direita com a eclosão de uma candidatura de centro-esquerda.
A Colômbia Humana de Gustavo Petro, opina Borón, marca o início do fim de uma época.
Trata-se, estima o catedrático argentino, de um parto lento e difícil, doloroso como poucos, mas cujo resultado será a construção de uma nova hegemonia política que desloque as forças que por dois séculos exerceram seu domínio na Colômbia.
O povo da Colômbia pôs-se em marcha. Tropeçou, mas se levantará e mais cedo que tarde parirá um novo país, prognosticou o eminente escritor.