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domingo, 16 novembro, 2025

Chile-BRICS: Um debate aberto

Santiago, Chile (Prensa Latina) A relevância da entrada do Chile no grupo BRICS e o apoio à defesa do multilateralismo e da cooperação econômica são um debate acalorado no país, com inúmeras vozes favoráveis ​​a essa medida.

Por Edgar Amílcar Morales

Correspondente no Chile

Acadêmicos, economistas e figuras proeminentes estão analisando os potenciais benefícios dessa iniciativa poucos dias antes da visita do presidente Gabriel Boric ao Rio de Janeiro, onde foi convidado para a Cúpula desse mecanismo nos dias 6 e 7 de julho.

Álvaro Ramis, reitor da Universidade Academia de Humanismo Cristiano, afirmou que a adesão ao BRICS não deve ser interpretada como uma renúncia às alianças tradicionais do Chile, mas sim como uma expansão necessária de seus horizontes estratégicos.

É o passo lógico, ele observou, para uma nação que aspira ser um ator relevante na construção de um mundo mais justo e próspero.

UM POUCO DE HISTÓRIA

O ponto de partida do movimento BRICS remonta a 20 de setembro de 2006, quando, na Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova York, os ministros das Relações Exteriores do Brasil, Rússia, Índia e China concordaram em institucionalizar sua colaboração.

Após esta reunião, foram realizadas reuniões nos dois primeiros países, bem como no Reino Unido e no Japão, onde aprofundaram seus laços e emitiram declarações conjuntas sobre as principais questões econômicas do mundo.

Foi Jim O’Neill, chefe de análise do conglomerado financeiro ocidental Goldman Sachs, que deu o nome ao país, pegando a primeira letra de cada país e formando a sigla BRIC, que em inglês significa “tijolo”.

Em 2010, quando a África do Sul aderiu, o S foi adicionado e, após sua última expansão anunciada em 2023, com a chegada do Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irã, Indonésia e Arábia Saudita, tornou-se comum adicionar o sinal + no final do nome.

Da mesma forma, foi criada a categoria de nação associada, que atualmente inclui Bielorrússia, Bolívia, Cuba, Uganda, Cazaquistão, Malásia, Nigéria, Tailândia, Turquia, Uzbequistão e Vietnã.

Durante debate nesta capital, o chefe do Setor de Promoção Comercial, Agroalimentar, Turismo e Investimentos da Embaixada do Brasil no Chile, Felipe Caetano Veloso, destacou a importância desta iniciativa inovadora.

O BRICS, disse ele, representa cerca de 40 a 45 por cento do Produto Interno Bruto global e metade da população do planeta, o que o torna um mecanismo fundamental na defesa do multilateralismo e da governança global justa e equitativa.

A diversidade de seus membros, acrescentou o diplomata, fortalece a luta por uma ordem internacional que priorize a pluralidade econômica, geográfica e política do século XXI.

Veloso enfatizou que o BRICS constitui uma coalizão de cooperação, não de confronto.

“O diálogo entre seus membros é baseado em três pilares: cooperação política e de segurança; cooperação financeira e econômica; e cooperação cultural”, afirmou.

Buscamos elevar a voz do Sul Global e destacar suas prioridades neste mundo em transição, oferecendo uma fonte de soluções criativas e necessárias para os desafios de hoje.

O CONTEXTO ATUAL, UM MUNDO EM CAOS

O economista chileno Manuel Riesco destacou a importância desse grupo em meio a uma grave crise política global caracterizada pela guerra no Leste Europeu, o genocídio na Palestina e agora a agressão israelense contra o Irã, à qual os Estados Unidos se juntaram recentemente.

Essa opinião foi compartilhada por José Manuel Ahumada, doutor em Estudos de Desenvolvimento, que destacou que a desordem internacional se baseia em três crises simultâneas que afetam o mundo inteiro.

Em primeiro lugar está a crise climática, não só pelos seus graves efeitos sobre toda a população, mas também pelo impacto produtivo e tecnológico gerado pelo surgimento de novas vias, como a eletromobilidade.

Os países periféricos, ricos em minerais essenciais, como lítio ou terras raras, devem decidir se serão os únicos fornecedores para o mundo desenvolvido ou criarão estratégias voltadas para subir na cadeia de valor.

O segundo ponto é a crise do multilateralismo neoliberal, tanto política quanto economicamente, onde os Estados Unidos estão desmantelando tudo o que promoveram desde a década de 1980, como acordos de livre comércio e acordos regionais.

Há uma grande inércia que impede respostas a conflitos emergentes. A crise financeira de 2008 não gerou uma reforma abrangente do sistema, e a pandemia de COVID-19 também não conseguiu abrir o regime de patentes para permitir o acesso a medicamentos baratos e acessíveis.

E em terceiro lugar, há uma crise de desenvolvimento, em meio à qual nossa região e a África não estão conseguindo decolar e diminuir a diferença com os países industrializados, afirmou Ahumada.

Sobre essa questão, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe insiste que a região está sujeita a três armadilhas que limitam seu desenvolvimento: baixa capacidade de crescimento, alta desigualdade e mobilidade social limitada, e governança ineficaz.

OPORTUNIDADES PARA O CHILE

Ahumada, que foi subsecretário de Comércio Internacional do Itamaraty, listou as vantagens que o país teria ao ingressar no BRICS.

Primeiro, permitiria diversificar o acesso ao financiamento para investimentos urgentes em áreas como infraestrutura ou novos fornecedores de insumos para setores estratégicos da economia nacional.

O Banco de Desenvolvimento e o acordo de reserva de contingência são uma forma de escapar do monopólio exercido por organizações como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial.

Ahumada também observou que a adesão ao BRICS permitiria ao Chile diversificar suas redes comerciais e reduzir sua dependência do dólar e dos Estados Unidos, além de expandir seus mercados de exportação.

Não menos importante é que o Chile possa abrir espaço para si e participar da discussão sobre uma nova arquitetura de comércio internacional e um sistema de patentes mais flexível para sua economia. Álvaro Ramis lembrou em artigo publicado recentemente que, durante décadas, o país operou em um cenário caracterizado pela hegemonia de um único centro de poder.

Os BRICS oferecem uma plataforma vital para revitalizar o multilateralismo, que atualmente é percebido como lento e sitiado.

O jornalista e diretor da Rádio e Diario Universidade do Chile, Patricio López, disse que no clima atual, os países emergentes enfrentam o desafio de estabelecer relações diversas, pragmáticas e soberanas, sem nostalgia de uma ordem que, de fato, não existe mais.

Nesse contexto, como já foi afirmado em outras ocasiões, as relações exteriores do país devem ser pautadas por princípios estáveis ​​e objetivos estratégicos de longo prazo, afirmou.

Para Juan Enrique Serrano, professor do Instituto de Estudos Internacionais da Universidade do Chile, o país não pode ficar atrás das tendências intelectuais atuais.

O Chile “tem que decidir se quer ser o violinista do Titanic, o último defensor de uma ordem liberal, na qual nem os liberais acreditam mais”, disse ele.

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