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Sputnik – Em relato exclusivo à Sputnik Brasil, a brasileira residente da Faixa de Gaza Shahd al-Banna, de 18 anos, conta como o bloqueio e os ataques aéreos israelenses afetam sua vida, privando brasileiros de água, comida, luz e, principalmente, segurança.
“Em Gaza não há um lugar seguro. Os bombardeios não param, em todo lugar. O tempo todo temos entes que morrem. Agora já são 12 mil pessoas que morreram, a maioria são crianças. Eu sei que algumas amigas minhas não conseguiram sair do norte, e agora eu não tenho informações. Tento ligar para elas, mas não há rede, cortaram a conexão, infelizmente”, relata a brasileira.
“A gente tem um contato direto com a embaixada [do Brasil]. Eles falam que estão esperando que até quarta-feira [8] a gente saia daqui, mas eu não sei. De repente a fronteira fecha, depois abre de novo. Os brasileiros estão bem, mas a maioria das crianças estão doentes. Por causa dos bombardeios que aconteceram no norte, cheiramos muito fósforo branco, estão nos matando. É terrível. Eu estou com enjoo a maioria do tempo, e minha irmã também. Estamos com febre”, completa Shahd.
Bombardeios não cessam, mesmo após cerco a Gaza
“A maioria dos ataques ocorre pela noite. Ocorrem muitos ataques de manhã também, de dia, de tarde, de noite. Mas é que de noite fica tudo calmo. Não sei como que eles fazem, mas acho que eles esperam as pessoas ficarem com sono para começar a atacar. Aí ninguém consegue dormir, todo mundo fica assustado. E quando as pessoas morrem de noite, as ambulâncias não conseguem trabalhar muito bem, que nem de dia. E é terrível de noite, terrível”, explica a brasileira.

“A gente estava com um conhecido no carro. Ele nos contou que estava com a mulher grávida indo pro hospital, para o nascimento do bebê. Ele teve gêmeos. Aí quando ele chegou em casa depois do parto, viu que sua casa havia sido atingida, desabando em cima dos outros filhos dele. Havia cinco crianças dentro da casa. Morreram. Com isso, ele decidiu ir para outro lugar. A mulher dele estava com os gêmeos recém-nascidos, na casa da família dela, e eles foram atingidos também. Os bebês morreram. Só a mãe sobreviveu, e aí ele a trouxe para cá, para o sul”, relata a brasileira.
‘Cessar-fogo é insuficiente’
“Está tendo muitos bombardeios agora perto. Estamos fracas, e eu estou com febre, não estou conseguindo focar no que eu estou falando. […] Só de ver que tem gente que realmente está se importando com a gente, está se preocupando, tentando ajudar, isso já me alivia. Que bom que tem alguém que pelo menos está ouvindo a gente. Muito obrigada”, conclui a jovem.