O anúncio do cessar-fogo entre Irã e Israel, mediado por Donald Trump, marca um momento crítico no conflito regional. E se for apenas uma pausa para um recomeço ainda mais demolidor?
Segundo relatos, o acordo teria sido selado após uma série de ataques retaliatórios iranianos, incluindo o lançamento de 11 mísseis contra Bersheba, Haifa e Tel Aviv, que resultaram em pelo menos 8 mortos e 30 feridos.
Contudo, o ministro iraniano Abbas Araghchi ressaltou que a trégua depende do fim da “agressão ilegal” israelense, o que expõe a fragilidade do acordo.
Trump, por sua vez, atribuiu a si mesmo o papel de mediador, mas a ausência de menção à Palestina — cuja população continua sofrendo com bloqueios e violência — acaba por revelar uma narrativa seletiva que ignora as raízes do conflito.
Militarmente, todos passam a contar vitória. Israel afirma ter saído vitorioso, mas as imagens (poucas conseguiram furar o bloqueio da censura imposta por Netanyahu) mostram Israel como um país destruído.
Israel alega ter conseguido a “destruição das defesas aéreas iranianas”. De acordo com a imprensa israelense, a destruição teria sido resultante de ataques combinados com sabotagem interna, permitindo que Tel Aviv dominasse os céus, neutralizando a capacidade do Irã de lançar ataques em larga escala.
No entanto, esta superioridade aérea israelense, sustentada por uma questionável tecnologia ocidental e apoio da OTAN, na prática não limitou o Irã a táticas de “atacar e fugir” como era pretendido.
A imprensa ocidental chegou a repetir que o Irã estaria usando mísseis antigos e bases remotas. No entanto, o que vimos foi o sistema de defesa Iron Dome ser motivo de piada em todo o mundo.
Politicamente, Israel fracassou: não conseguiu desestabilizar o que chama de “regime iraniano”, interromper o programa nuclear do Irã ou evitar a substituição de comandantes mortos em combate. Falhou também a tentativa de uma “primavera”, pois o povo apoia ainda mais os poderes constituídos do país.
A dependência de Israel em relação ao Ocidente é um fator que está ainda mais exposto, mas pouco questionado. Enquanto o país é retratado como uma potência autossuficiente, sua capacidade militar — incluindo drones e sistemas de defesa — está intrinsecamente ligada a subsídios e armas estrangeiras, especialmente dos EUA e da OTAN.
Essa relação de dependência contrasta com a narrativa de “autodefesa” propagada por Tel Aviv, colocando em xeque sua legitimidade como ator regional independente.
Enquanto isso, o Irã, mesmo com a maioria da infraestrutura fabricada no próprio país, busca modernizar ainda mais suas bases de mísseis, contando com a transferência de tecnologia de países como Rússia e China, mas enfrenta o desafio de operar sob vigilância constante aos movimentos de Israel, diante do temor da fragilidade deste cessar-fogo.
Não podemos deixar de denunciar que a situação humanitária na Palestina permanece negligenciada. Enquanto Irã e Israel negociam, Gaza e a Cisjordânia seguem sob ocupação, com civis enfrentando escassez de água, energia e acesso a serviços básicos.
A comunidade internacional, contudo, parece priorizar a celebração, mesmo com sinais claros de fragilidade, dos acordos de cessar-fogo, ignorando a urgência da resolução do sofrimento palestino, perpetuando uma lógica de apartheid.
A pergunta que deve ser feita agora é: por que a urgência em cessar-fogo entre Irã e Israel não se estende à Palestina, onde a violência é sistemática e diária?
O cessar-fogo atual é, muito provavelmente, frágil e temporário. Israel, conforme analistas, usará o período para rearmar-se e planejar novas ofensivas, possivelmente seguindo o “modelo Líbano” — ataques frequentes sem resposta efetiva.
Já o Irã, além de reavaliar algumas estratégias militares, precisa reestruturar sua defesa interna para evitar repetir a vulnerabilidade exposta nesta guerra.
Sem uma solução duradoura, o ciclo de retaliações continuará, com o Irã potencialmente acelerando seu programa nuclear como único meio de dissuasão.
Fique atento ao que será noticiado na imprensa mainstream, pois certamente veremos uma narrativa de “vitória” israelense, escondendo as visíveis contradições entre o que é dito e o que é escondido nas imagens de um país parcialmente destruído.
Tel Aviv não conseguiu seus objetivos estratégicos: mudar o “regime” em Teerã ou destruir seu programa nuclear. Pior, a guerra reforçou a coesão interna iraniana, com a liderança usando os ataques como ferramenta de unidade, através do sentimento antiocidental.
Enquanto isso, a população de Israel paga o preço da conivência com o messianismo genocida de Benjamim Netanyahu, os que não conseguirem fugir terão que aprender a viver sob o medo constante de sirenes e explosões, como as registradas em todos o país, especialmente Haifa e Tel Aviv.
Por fim, este cessar-fogo não é garantia de paz duradoura. Este é um conflito marcado por interesses geopolíticos e desigualdades de poder.
Enquanto Trump celebra o acordo, é importante questionarmos quem realmente beneficia: o Irã, mais unido e mais resiliente; Israel, militarmente dependente e politicamente isolado; ou o Ocidente, que lucra com a venda de armas e a perpetuação do caos?
Sem justiça para a Palestina e sem garantias reais de segurança para o Irã, qualquer trégua será apenas um intervalo antes da próxima crise.
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