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quinta-feira, 23 outubro, 2025

Cartas habaneras (XLIII)

Fotos:  Arquivos Prensa Latina, Pátria Latina e Cuba Debate

Emiliano José

Janeiro de 1959, Fidel marcha vitorioso em Havana — Brasil de Fato

Vitoriosa, a Revolução Cubana começa a construção de um novo tempo.

Entre as tantas medidas revolucionárias, acabar com as exorbitantes tarifas de energia elétrica, da telefonia, pagas aos monopólios norte-americanos.

Investe, logo nos primeiros meses de 1959, contra o racismo, coisa pouco divulgada, não por acaso.

Tornam-se ilegais as múltiplas formas de discriminação racial.

Tudo passava a ser território dos negros. Também deles. Não se permitiria qualquer proibição de ingresso em qualquer estabelecimento, em qualquer instituição, em decorrência de ser negro.

Revolução Cubana – Wikipédia, a enciclopédia livre

O Exército Rebelde se pôs a serviço dessa medida civilizatória.

Em 17 de maio, a medida mais profunda do primeiro ano da Revolução Cubana: lei da reforma agrária.

Limitava-se a propriedade individual da terra a 400 hectares.

Confiscadas vastas fazendas, muitas das quais, propriedades de ricas famílias norte-americanas ou de empresas sob controle delas, cujo domínio a partir daí passa a ser do Estado.

Nacionalização de empresas ianques: o que devem a Cuba"

Pequenos produtores, arrendatários, parceiros, camponeses com precários títulos de propriedade, têm situação regularizada, e passam a poder cultivar a terra com tranquilidade.

Em torno de 100 mil famílias receberam títulos de propriedade da terra.

As forças burguesas, contrarrevolucionárias, se alvoroçaram, à beira de um ataque de nervos. Alguma ilusão tivessem, perderam-na. Entenderam: a revolução viera para mexer profundamente com as estruturas, colocar-se ao lado do povo trabalhador. Não para brincar, para medidas superficiais.

As reformas agrárias na América Latina: legado histórico e desafios contemporâneos | ZFI

A reforma agrária fora um sinal muito nítido do caminho a ser seguido.

Ninguém imagina tranquilidade diante de uma revolução.

Na sociedade, havia forças conservadoras, detentoras de privilégios. Cuba, até ali um país marcado pela superexploração dos trabalhadores e espécie de cassino à disposição dos EUA, inclusive da máfia.

Tais forças ainda estavam dispostas a mostrar as garras.

Mostrariam.

Talvez houvesse de parte da direita cubana a intenção de participar da luta institucional, como se daquela revolução nascesse uma república burguesa.

No interior de tal república, quem sabe, pudesse disputar espaço, e não deixar prosperar as propostas revolucionárias.

José Miró Cardona — Google Arts & Culture

Houve José Miró Cardona, primeiro a ocupar o cargo de primeiro-ministro. Professor da Universidade de Havana, liberal, colocou-se contra o governo de Fulgencio Batista. Muito cedo, mostrou garras: não queria nada com a revolução.

Em seis semanas, abandonou o cargo de primeiro-ministro.

Exilou-se nos EUA, tornou-se liderança de grupos contrarrevolucionários, chefiando o chamado Conselho Revolucionárioa Cubano (CRC). Tornou-se presidente de Cuba no exílio, farsa antiga praticada pelos EUA.

Participa da articulação da invasão da Baía dos Porcos. Situou-se, pode parecer incrível, à direita do governo dos EUA, após a derrota dos norte-americanos na Baía dos Porcos.

Felipe Pazos

Outro, Felipe Pazos. Nomeado presidente do Banco Nacional, tem trajetória parecida com a de Cardona. Teve alguma participação no processo revolucionário, sem abdicar da visão burguesa. Fidel Castro, em 1957, convoca uma reunião em Sierra Maestra entre o comando da Revolução e representantes capitalistas, entre eles, Pazos. Do encontro, o “Manifesto da Sierra”, de 12 de julho daquele ano, com o qual o comandante pretendia tranquilizar a todos, inclusive aos homens de negócio.

Uma serpente sempre será uma serpente, como diria Amílcar Cabral, não importanto a eventual mudança de pele.

Felipe Pazos Felipe Pazos economista ativista político Havana A História

Em abril de 1959, Fidel e assessores, Pazos incluído, visitam os EUA.  Imaginava-se Cuba pedindo ajuda econômica, Pazos entusismado. Fidel deu a ordem: nada de fazer tal pedido.

Pazos, arrasado, expressa as frustrações dele a funcionários do Departamento de Estado e Departamento de Tesouro dos EUA. Pede demissão em 23 de outubro de 1959.

Transfere a presidência do Banco Nacional para Che Guevara em 26 de novembro do mesmo ano. Autorizado a deixar Cuba, trabalha depois na Aliança para o Progresso e no Banco Interamericano de Desenvolvimento.

Esses dois exemplos evidenciam a existência da crença, em alguns setores do pensamento contrarrevolucionário, de uma acomodação liberal-burguesa da Revolução Cubana.

Estavam enganados.

Víctor Dreke, como resultado da resoluta participação no processo revolucionário, quando acontece o triunfo da revolução já alcançara a condição de capitão do Exército Rebelde. Primeiro, atua como fiscal dos tribunais revolucionários. Depois, chefe de batalhão da Força Tática do Ocidente.

#omilagrecubano

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