Emiliano José
Naquela longa jornada até Escambray, desenha-se com mais nitidez a personalidade de Che. Comandante de tropa há de ser duro. Senão, fracassa. Porém, ser assim cobrava um preço: precisava exigir mais de si, forma de ganhar autoridade com os guerrilheiros sob o comando dele.
Para aqueles capazes de suportar a travessia até Escambray, e muitos não aguentaram, ficaram a meio caminho, para os resistentes era um motivo de muito orgulho seguir com um comandante como Che.
Houve sinais de busca de alguma ternura, algum carinho, a contribuir para suavizar a vida espartana adotada por ele, necessária, mas difícil. O relacionamento com Zoila, o apreço dele por mulas, o gosto de se relacionar com animais de estimação. Essa apreciação está na biografia escrita por Jon Lee Anderson.
Quando, no entanto, tinha de tomar decisões duras consigo mesmo, não hesitava, como ocorreu quando vetou a ida de Zoila junto com ele.
Um boné o comoveu. Não era um boné qualquer.
Che perdeu o boné antes pertencente a Ciro Redondo, nome emprestado à coluna comandanda por ele, saída de Sierra Maestra na direção de Escambray.
Usava o boné desde a morte de Ciro Redondo, em 29 de novembro de 1957, no decorrer de batalha em Sierra Maestra.
Quando passava por Camagüey, perde o boné militar. Passou a usar a boina preta, imortalizada em tantas imagens. Ficou muito triste com aquela perda – era uma espécie de símbolo, roto estivesse, como fosse a continuação, marca da amizade com o companheiro.
Terno, Che era um revolucionário cheio de ternura. Não se sabe se disse ou não a frase, mas de fato adotava a política de ser duro sem jamais perder a ternura.
Víctor Dreke fala da chegada de Che a Escambray com muito entusiasmo. Do Pacto del Pedrero, firmado dia primeiro de dezembro de 1958 entre o Diretório Revolucionário 13 de março e o Movimento 26 de Julho e, naturalmente, também, a tropa de Che.
Tal pacto aconteceu depois de um reunião presidida pelo próprio Che e Faure Chomón.
Ele informa: logo depois, o Partido Socialista Popular (PSP) também aderiu ao acordo. Jon Lee Anderson considera ter o PSP sido precursor no apoio a Che, quando da chegada dele à região.
Celebrado aquele pacto, as tropas seguiram para uma para seu canto, todas, no entanto, sob o comando de Che.
Não foi possível unificar forças com a chamada Segunda Frente de Escambray, integrada por conhecidos “come vacas”, os primeiros a ameaçar até prender Che ou liquidar a coluna dele. Ameaça vã.