32.5 C
Brasília
quinta-feira, 3 outubro, 2024

CAPITAL ESTÉRIL SÓ GERA CORRUPÇÃO O SAL DO MUNDO E O VALOR DESONRANTE

Pedro Augusto Pinho*
Na liturgia católica, o sal é uma referência de vida, de fertilidade, diz Marcos em seu Evangelho (9,50) “coisa boa é o sal. Mas se o sal se torna insípido, com que se lhe restituirá o sabor?”.
O mundo atual e, em particular e que mais nos importa, o Brasil vivem um momento extremamente cruel. A mentira, a mais despudorada, a hipocrisia e o cinismo, como expressão oficial, a desinformação e a doutrinação política, como ação corrente dos veículos de comunicação de massa, e o absoluto desrespeito a todas as pessoas nas menores e mais comezinhas ações, por todos os poderes da República, dão-nos a sensação de que nada vale, não importa qualquer valor humano, correto e digno nas relações sociais, quer entre os cidadãos quer entre estes e o Estado.
Poderia ser o prenúncio de uma revolução, de uma profunda e significativa mudança não fossem dois fatores básicos. Quando estudante universitário, li e ouvi que as transformações dependiam de causas objetivas e de um sentimento subjetivo. Este último era formado pela consciência da própria pessoa, do entendimento de seu lugar na sociedade, de sua compreensão como agente, como o ser atuante, sujeito ativo da história, livre e defensor de sua liberdade.
Esta condição que denominaremos subjetiva só pode ser formada pelo processo de trocas sociais, onde releva o educacional, a pedagogia dos saberes, e seu complemento que é a informação correta dos acontecimentos, os locais e os estrangeiros. E quão longe estivemos e estamos destas mudanças.
A ideologia meritocrática, amplamente difundida, é um dos diversos arsenais excludentes, segregadores, que desde o início aponta os que podem e os que não podem conquistar, um trabalho, um posto, um salário, e tudo se conjuga para acirrar as distinções. A imprensa, sob todas as expressões, advogando os interesses do poder, reforça a distinção que o sistema de socialização já colocara desde o berço. E como a maldade fosse um ingrediente necessário, usa e abusa de farsas, teorias forjadas em situações extremas, e repetições e novas repetições até parecer razoável a mais esdrúxula e impossível situação.
Tomemos o caso da corrupção. É um fenômeno que ocorre em todos os tempos e todas as sociedades. Em minha percepção o momento mais corrupto da história do Brasil ocorreu no Império. Além da escravidão, do agir em defesa do poder colonial inglês ao declarar guerra ao país vizinho, de passar todo período em dívida, favorecendo os banqueiros estrangeiros, nada fez para elevar o conhecimento e o sentimento nacional brasileiro. Todos sabem que havia nos países da América Latina, antes de 1889, mais de seis universidades, nenhuma no Brasil que tinha apenas quatro faculdades, uma criada no período colonial. E, tomando a primeira pesquisa sobre analfabetismo, já na República, podemos inferir que mais de 90% da população era analfabeta e alguns alfabetizados eram escravos.
Ora, para retirar do poder executivo o Partido dos Trabalhadores, fez-se uma formidável campanha de fraudes, de mentiras, de levianas acusações, que apontavam ser o mais corrupto momento de nossa história. Óbvio que há corruptos no PT, talvez nem tantos quanto no PMDB, PSDB e DEM; mas não era a corrupção governamental mas sim aquela dos donos do poder que prejudicava e ainda prejudica o Brasil e o mundo.
Fica pois difícil, com tanta desinformação, surgir a consciência do que está demolindo nossa nacionalidade e as sociedades pelo mundo. É um dos fatores que dificultam quando não impossibilitam a revolução brasileira. Outro fator, quase uma consequência do primeiro, é a inexistência de organização com objetivos e programas nítidos, nacionalistas, em defesa da soberania e da construção da cidadania brasileira, que aglutine as forças nacionais.
Mas tratar da corrupção é também tratar do sistema que domina o mundo, acima dos estados nacionais, desde 1989. É uma data simbólica, a queda do muro de Berlim – e quantos muros seriam erigidos depois! – que estabeleço para o momento em que a banca, o sistema financeiro, assume o poder mundial.
Naquela data todos os mínimos controles ao sistema financeiro estavam desfeitos ou em processo de eliminação. Assim os capitais da corrupção, dos ilícitos, dos crimes (drogas, tráfico de pessoas, contrabandos diversos, caixas dois) passaram a ser “lavados” pelo sistema, agora formal e oficial, das contas secretas, dos paraísos fiscais, dos investimentos anônimos e muitas outras operações que eram, até então, denominadas fraudes e falcatruas.
Estabeleceu-se o domínio do corrupto como legítimo, o que os golpistas brasileiros aqui pretendem instituir.
A pandemia dos agentes golpistas e batedores de panela não era petista mas da banca, e não começara em 2003 mas em 1989.
E é este poder, a banca, que movimenta como marionetes os presidentes, ministros, procuradores e parlamentares dos poderes constitucionais brasileiros, que como afirmei no início mais me interessa, mas que também observo pelo mundo. É o que torna a terra insossa, incapaz de fertilizar, pois o capital financeiro, por si nada produz, e quando assume o poder apenas açambarca os recursos e os concentra cada vez mais.
E sendo nossa burguesia ignorante, desinformada, demonizada pela mídia, quando ousa se opor, e sem defesa, a banca vai aprofundando seu poder, agora pelos golpistas, destruindo e fragmentando o Brasil e provavelmente o levando para uma guerra civil.
*Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado

ÚLTIMAS NOTÍCIAS