Pedro Augusto Pinho*
O golpe de 2016 colocou o Brasil na terra de ninguém. O prefeito do Rio de Janeiro, que já foi um polo de política e cultura nacional, resolve fechar 11 Clínicas da Família, do Sistema Único de Saúde (SUS), uma das mais notáveis conquistas da sociedade na Constituição de 1988, deixando milhares de famílias sem atendimento médico, provocando a demissão de funcionários – num momento em que o desemprego supera 15 milhões de pessoas – e fica por isso mesmo. Parece o agente Moro recebendo denúncia de crime de tucano: “isto não importa”.
Mas este prefeito faz parte de um projeto político de transformar o Brasil numa teocracia, com a Igreja Universal do Reino de Deus, do bilionário Bispo Macedo. E apoiam, ele e seu partido exclusivo, o golpe de 2016. Ah! então pode.
O capitão Bolsonaro persegue pessoas por terem nascido com preferência sexual diferente da maioria de seu sexo, incentiva o estupro, ofende as mulheres, mas apoia o golpe de 2016. Então pode propugnar abertamente, ao arrepio da lei, por uma ditadura.
E a nação, perplexa, não vê qualquer reação institucional. Ah! desculpem-me, ela vem do judiciário, o poder sem voto, dos funcionários públicos com os maiores proventos do País, levando a reivindicação de um discreto aumento de 41% para sua chefe maior. Afinal com o subsídio creche para filhos maiores, férias em abundância e outros mimos, dificilmente um magistrado pode se vestir na Saville Row tendo que se contentar com roupas da popular Miami.
Mas o judiciário está atento, não importam as falhas processuais, que já foram intensamente utilizadas no Mensalão do PT, pois os demais – do DEM, do PSDB, o primeiro a existir – foram arquivados por decurso de prazo, e não deixará o Lula ser candidato em 2018. Aliás, para que gastar dinheiro em eleições se ainda há tanta emenda para lamentar aguardando recursos? Prorroguemos todos os mandatos, do executivo e do legislativo, que o Supremo logo encontrará uma teoria, em Karl Larenz ou em Carl Schmitt, mesmo com profunda distorção exegética, para aprovar esta medida salvadora e impeditiva do retorno petista. Vade retro, diria o prefeito carioca.
Enquanto este mundo de Oz, com seus canastrões, ocupa o noticiário de todos os canais de televisão – todos? Não; há a TV Comunitária, ainda não invadida pelas forças do golpe – o Brasil, vivido por seu povo que trabalha e estuda, vai sofrendo a falta de hospitais e clínicas da família, o fechamento de universidades e escolas técnicas por falta de verbas – há muito parlamentar que precisa ser incentivado a destruir o Brasil –, perdendo suas riquezas finitas e irrecuperáveis, como o petróleo do pré-sal, o nióbio e demais recursos minerais.
Vai também, sem qualquer pudor dos governantes (são eles mesmos quem governam?) transferindo para o exterior a propriedade de terras, na Amazônia, o controle de instalações brasileiras, como da Base de Lançamento de Alcântara, no Maranhão, e, com a preciosa atuação das fases 1 a 171 da Lava Jato, extinguindo a engenharia brasileira.
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em tudo só se vê o jogo de cena, e de mau coreógrafo.