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sexta-feira, 29 março, 2024

CANASTRÕES INVADEM A CENA DA TRAGÉDIA BRASILEIRA

Pedro Augusto Pinho*
O golpe de 2016 colocou o Brasil na terra de ninguém. O prefeito do Rio de Janeiro, que já foi um polo de política e cultura nacional, resolve fechar 11 Clínicas da Família, do Sistema Único de Saúde (SUS), uma das mais notáveis conquistas da sociedade na Constituição de 1988, deixando milhares de famílias sem atendimento médico, provocando a demissão de funcionários – num momento em que o desemprego supera 15 milhões de pessoas – e fica por isso mesmo. Parece o agente Moro recebendo denúncia de crime de tucano: “isto não importa”.
Mas este prefeito faz parte de um projeto político de transformar o Brasil numa teocracia, com a Igreja Universal do Reino de Deus, do bilionário Bispo Macedo. E apoiam, ele e seu partido exclusivo, o golpe de 2016. Ah! então pode.
O capitão Bolsonaro persegue pessoas por terem nascido com preferência sexual diferente da maioria de seu sexo, incentiva o estupro, ofende as mulheres, mas apoia o golpe de 2016. Então pode propugnar abertamente, ao arrepio da lei, por uma ditadura.
E a nação, perplexa, não vê qualquer reação institucional. Ah! desculpem-me, ela vem do judiciário, o poder sem voto, dos funcionários públicos com os maiores proventos do País, levando a reivindicação de um discreto aumento de 41% para sua chefe maior. Afinal com o subsídio creche para filhos maiores, férias em abundância e outros mimos, dificilmente um magistrado pode se vestir na Saville Row tendo que se contentar com roupas da popular Miami.
Mas o judiciário está atento, não importam as falhas processuais, que já foram intensamente utilizadas no Mensalão do PT, pois os demais – do DEM, do PSDB, o primeiro a existir – foram arquivados por decurso de prazo, e não deixará o Lula ser candidato em 2018. Aliás, para que gastar dinheiro em eleições se ainda há tanta emenda para lamentar aguardando recursos? Prorroguemos todos os mandatos, do executivo e do legislativo, que o Supremo logo encontrará uma teoria, em Karl Larenz ou em Carl Schmitt, mesmo com profunda distorção exegética, para aprovar esta medida salvadora e impeditiva do retorno petista. Vade retro, diria o prefeito carioca.
Enquanto este mundo de Oz, com seus canastrões, ocupa o noticiário de todos os canais de televisão – todos? Não; há a TV Comunitária, ainda não invadida pelas forças do golpe – o Brasil, vivido por seu povo que trabalha e estuda, vai sofrendo a falta de hospitais e clínicas da família, o fechamento de universidades e escolas técnicas por falta de verbas – há muito parlamentar que precisa ser incentivado a destruir o Brasil –, perdendo suas riquezas finitas e irrecuperáveis, como o petróleo do pré-sal, o nióbio e demais recursos minerais.
Vai também, sem qualquer pudor dos governantes (são eles mesmos quem governam?) transferindo para o exterior a propriedade de terras, na Amazônia, o controle de instalações brasileiras, como da Base de Lançamento de Alcântara, no Maranhão, e, com a preciosa atuação das fases 1 a 171 da Lava Jato, extinguindo a engenharia brasileira.
  1. em tudo só se vê o jogo de cena, e de mau coreógrafo.
Na teoria da comunicação há um recurso, para produzir reações emocionais, que consiste em colocar dois atores em posições contrárias, sendo um caracterizado de bom ou correto e outro de ardiloso ou falso. Assim, a grande maioria passa a torcer pelo mocinho e desconstruir o bandido. No Mensalão de 2005 isto foi feito opondo Joaquim Barbosa a Lewandowski. Agora se procura repetir com Janot, Moro, Temer, Aécio e Gilmar Mendes. Mas o grande problema desta encenação são os próprios atores e o uso recente do estratagema. O povo já não cai nesta cilada golpista, como se vê nas sondagens de opinião das mais distintas empresas pesquisadoras. Vai, apenas, acentuando o ridículo, inclusive para todo mundo, da governança brasileira.
Aliás, quem é o governo? Pois crimes graves, como o que vitimou o Ministro Teori e os delegados que abriram a investigação (Elias Escobar e Adriano Antônio Soares) não tem os assassinos presos. E não há cobrança pela “imprensa imparcial”! Ou imprensa cúmplice e também venal?
Nem tratarei da área econômica, pois esta vai muito bem. O Brasil bate novos recordes de endividamento, exatamente como a banca deseja, os juros reais crescem a cada reunião do Banco Central e todos os recursos públicos, que não forem usados pelos golpistas em proveito próprio, são abocanhados pelo sistema financeiro, a conhecida banca. E o povo? Ora o povo vai se acostumando ao subemprego, à falta de atendimento na saúde, à inexistência de instituições públicas de ensino, à precariedade do transporte público e ao incremento da baixa marginalidade. No próximo ato teremos possivelmente aumento na conta de energia elétrica, um apagão para os saudosos de FHC, outro imposto que atinja os mais pobres, ora meus caro senhores, o povo vai mal, obrigado.
Mas diz um ditado que não há mal que sempre dure ……
*Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado

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